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21 DE JANEIRO DE 1961 329

lização, quer de configuração, não aconselham esses investimentos.
3. Construção de simples cais ou varadouros que facilitem a cabotagem onde ela se exerça e sirvam, convenientemente a actividade piscatória, que nos Açores é muita e de vital importância.
O porto de Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel, é um porto conquistado ao mar. O seu molhe de pedra e cimento, com 1289 m de extensão, traduz bem o valor da obra. Não só o valor das somas gastas, mas o valor esforço, o valor tenacidade. Apesar de tudo, é um porto por vezes impraticável e que exige precauções, mormente se os temporais são de sueste.
Quanto, há anos, o molhe foi prolongado até atingir o ponto em que se encontra, lutei, mas lutei tenazmente, contra os postos de acostagem, ou seja, contra a ideia de deixar reentrâncias na parte acostável.
Não logrei que a minha razão vencesse, e os postos foram construídos por uma razão de economia argumentou-se. A mim parecia-me evidente que os navios, uma vez atracados, não poderiam trabalhar com os guindastes todos ao mesmo tempo, os de vante e os de popa, e que a projectada falta de continuidade do molhe acarretaria prejuízos de vária ordem, até perda de vidas, em virtude das interrupções do piso, que qualquer, desprevenidamente, estaria longe de supor falso e traiçoeiro. O tempo, os anos, que no dizer de um pensador emérito ensinam muitas coisas que os dias jamais chegam a conhecer, deram-me razão e lá. está escrito no relatório da gerência do ano económico de 1959 da Junta Autónoma dos Portos do Distrito de Ponta Delgada:

Quanto às obras de «Interligação dos postos de acostagem» e «Construção de um plano inclinado transversal», foi a respectiva empreitada adjudicada à Sociedade de Empreitadas e Trabalhos Hidráulicos, L.da, pela importância de 10 790 150$, tendo sido despendida com esta empreitada, até 31 de Dezembro, a quantia de 864 868$70.

Esta «Construção de um plano inclinado transversal» é outra solução de via reduzida, que virá a implicar novos projectos, consequentes adaptações e escusadas despesas, traduzindo-se, afinal, numa economia sem economia. Penso assim, e não estou só:

Vai construir-se também uma rampa de varagem para navios de cerca de 1000 t na doca de Ponta Delgada. Não concordo! Ponta Delgada, dado que o seu movimento poderia ser enormemente incrementado, fazendo convergir para aí o interesse de petroleiros nas suas beneficiações para a limpeza de fundo, etc., quando vazios, em viagem da Europa para a América, tendo em viagem tempo para ventilar os porões livres nessa altura, poupando assim uma enormidade de tempo, que nesses grandes navios significa verbas importantíssimas, tinha jus a unia boa doca seca para grandes unidades, auxiliada por um bom rebocador de alto mar. A justa compreensão chegará a seu tempo, mas já bastante tarde. A utilidade da rampa de varagem é mesquinha comparada com a verdadeira grandeza do problema, grandeza essa sob que ele devia ser encarado.
Estas observações são de um homem que lida no mar, e especialmente no mar dos Açores, há muitos anos e conhece o problema por viver dentro dele, por o ter estudado com a ajuda da sua inteligência e com a ajuda da sua grande prática, que é outra espécie de inteligência.
Requer ainda a ilha de S. Miguel a construção de três portos de pesca - um na costa norte, em Babo de Peixe, e dois na costa sul, em Ponta Delgada e na Ribeira Quente -, um cais na vila da Povoação e um ou outro varadouro naquelas povoações da orla marítima onde se desenvolve apreciável faina piscatória.
No relatório da Junta Autónoma dos Portos de Ponta Delgada relativo à gerência do ano económico de 1958 alude-se aos portos de pesca de Rabo de Peixe e Ribeira Quente, dizendo-se que se aguardava a elaboração dos respectivos projectos pela Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, nota que se repete no relatório da gerência seguinte. Reputo dignas de registo as referências que naquele primeiro relatório se fazem a propósito do porto de pesca de Ponta Delgada, pois através delas poderemos chegar a uma conclusão absolutamente exacta sobre a instante necessidade da construção de portos de pesca na ilha de S. Miguel. Convém, por isso, ler as passagens que mais interessam, tanto mais que têm um especial cunho de autoridade:

O novo Plano de Fomento não considerou o pedido desta Junta para nele se incluir a verba necessária à construção de, pelo menos, um porto de abrigo na costa norte, pelo que nas 100 milhas de costa do perímetro da ilha apenas existe o porto de Ponta Delgada, que, servindo conjuntamente de porto comercial, não oferece as condições necessárias para porto de pesca. E, por outro lado, a parte comercial, em que o turismo tem um papel importante, é fortemente prejudicada pela existência de embarcações de pesca e suas operações de descarga de peixe...
De Inverno, a falta de espaço leva as embarcações a vararem em locais impróprios, com prejuízo da estética da cidade e das próprias embarcações, pelos esforços a que são sujeitas nos trabalhos de varagem.
A necessidade dos portos de abrigo vai-se tornando cada vez mais premente, à medida que aumenta o número de embarcações motorizadas. Estas embarcações, pelas maiores possibilidades de deslocação, vão à procura de melhores pesqueiros, mais afastados e menos batidos, mas precisam de ter, pelo menos, um porto de abrigo em cada costa da ilha para se refugiarem quando sejam surpreendidas por um agravamento súbito de tempo. São embarcações de boca aberta, que, embora motorizadas, têm limitadas possibilidades de navegarem com tempo desfavorável.
Note-se que no Plano Sexenal de Melhoramentos, a executar em regime de autofinanciamento, que foi aprovado pelo Sr. Ministro das Obras Públicas em 14 de Fevereiro de 1956 e tem o acordo do Sr. Ministro das Comunicações, por despacho de 3 de Março do mesmo ano, os portos da Ribeira Quente e Rabo de Peixe figuram com as dotações, respectivamente, de 1400 e 3000 contos, dotações que têm estado a aguardar os projectos, a elaborar pela Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, e que não podem ou, pelo menos, não devem continuar a aguardar. Uma informação há pouco colhida naquela Direcção-Geral esclarece que a exiguidade das verbas inscritas é que tem paralisado a elaboração dos projectos em causa, pois nada se ganharia, de momento, em projectar o que não pode ser imediatamente executado. Em face deste esclarecimento, só existe um caminho: o de reforçar as verbas com a franca ajuda do Estado.
Santa Maria, a ilha de Santa Maria e as suas condições portuárias têm ocupado, posso dizê-lo, muito