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446 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 200

José de Freitas Soares.
José Garcia Nunes Mexia.
José Manuel da Costa.
José Rodrigo Carvalho.
José Rodrigues da Silva Mendes.
Júlio Alberto da Costa Evangelista.
Laurénio Cota Morais dos Reis.
Luís de Arriaga de Sá Linhares.
Luís Tavares Neto Sequeira de Medeiros.
Manuel Dólares Pereira.
Manuel Homem Albuquerque Ferreira.
Manuel José Archer Homem de Melo.
Manuel Lopes de Almeida.
Manuel Maria Sarmento Rodrigues.
Manuel Nunes Fernandes.
Manuel Seabra Carqueijeiro.
Manuel de Sousa Rosal Júnior.
Manuel Tarujo de Almeida.
D. Maria Irene Leite da Costa.
D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis.
Mário Angelo Morais de Oliveira.
Mário de Figueiredo.
Martinho da Costa Lopes.
Paulo Cancella de Abreu.
Rogério Noel Peres Claro.
Sebastião Garcia Ramires.
Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães.
Tito Castelo Branco Arantes.
Urgel Abílio Horta.
Virgílio David Pereira e Cruz.
Vítor Manuel Amaro Salgueiro dos Santos Galo.

O Sr. Presidente: - Estão presentes 68 Srs. Deputados.

Está aberta a sessão.

Eram 16 horas e 35 minutos.

Antes da ordem do dia

O Sr. Presidente: - Está em reclamação o Diário das Sessões n.º 199.

Pausa.

O Sr Presidente: - Como nenhum dos Srs. Deputados deseja fazer qualquer reclamação sobre aquele Diário, considero-o aprovado.

Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado José Manuel da Costa. Convido o Sr. Deputado a subir à tribuna.

O Sr. José Manuel da Costa: - Sr. Presidente: só desejava que as minhas palavras de hoje fossem tão puras como é puro o motivo que as inspira e determina!

Não direi uma palavra mais de condenação ou de repulsa pelo crime hediondo que se cometeu e já foi aqui verberado por todos nós. Silêncio, agora, sobre essa hera de treva da vida nacional, sobre esse momento de luto para a consciência dos países do Ocidente, sobre esse instante de eclipse nas sinuosas linhas de rumo da nossa civilização!

Silêncio agora sobre um acto nefando, que é símbolo trágico do desvairamento e de balbúrdia de um mundo que pretende construir-se sem Deus, sem lei e sem moral.

Quebre-se esse silêncio tão-só em glória e em memória de um jovem a cujo corpo mortal se estão agora abrindo as entranhas da Mãe-Pátria para o abraçar ao seu seio e assim, uma vez mais, se enriquecer da riqueza, lê um sangue que é o sangue generoso e fecundante de um herói e de um mártir.

Honra seja aqui prestada neste dia à memória eterna do bravo piloto Nascimento Costa, símbolo gentil de uma raça, de uma pátria, de um ideal e de uma geração.

O venerando Chefe do Estado, em homenagem póstuma, fê-lo cavaleiro da Torre e Espada, honraria e prémio de poucos..., que só se ganha nos extremos limites do dever ou na dávida integral do sangue e dae vida. O povo português, esse, o verdadeiro, o que não sabe abdicar de si mesmo nem trair as suas origens e raízes de comunidade organizada, esse tornou-o já cavaleiro do ideal, um ideal que já excede e ultrapassa as fronteiras da Mãe-Pátria, porque o piloto Nascimento Costa não morreu tão-sòmente por Portugal, morreu por um tipo de civilização e de cultura que têm por princípios essenciais e irredutíveis Deus, a Pátria e a família, princípios esses que eram precisamente o alvo maior do crime e foram também o alvo principal das balas que o prostraram para sempre.

Morreu no mar de todos os homens a defender uma liberdade, que é a de todas as nações, e a sustentar uma lei, que é condição essencial e primeira da dignidade e da honra dos povos livres. Morreu no mar, no mar que era a sua vida, e à sua terra o trouxeram os braços do Santa Maria, a fim de que sobre essa terra viesse pairar para sempre a chama da sua alma ardente, chama de serviço e de sacrifício, chama de educação e de exemplo, chama de acção e de resgate.

É conhecido, ainda quando difícil de entender, o conceito de que: "Não deu nada quem não soube dar tudo!". Nascimento Costa só teria para dar a sua vida de homem, a sua alegria de jovem pai de família, o seu dever de honrado piloto de um pacífico navio de comércio. Pois "deu tudo" num só instante, e logo se juntou o seu nome, desconhecido e simples, à grandeza dos nomes maiores que enchem oito séculos de história! Quem diz aí que a Pátria está amortecida e triste? Quem pode duvidar de uma geração que tem a alma deste tamanho e tem a vida pronta para a perder desde que saiba que lhe sobrevivem a honra e a glória dos mortos, a memória e o respeito dos vivos, a dignidade e a existência da Pátria, a paz e a misericórdia de Deus?

Ah! Sr. Presidente! Eu não sou da geração de Nascimento Costa! Dessa geração são os meus filhos, e isso me permite trazer aqui um depoimento de duplo significado. Quem dera que nestas duas gerações todos tivéssemos, os pais e os filhos, um tão sublime culto do dever e da honra como o tiveram Nascimento Costa ao fiar a sua vida e o pai de Nascimento Costa ao dar o seu filho, na profunda dor das suas lágrimas, mas no último orgulho do seu coração!

Sei a responsabilidade do que digo mas nos tempos apocalípticos que o Mundo vive e nas horas trágicas e delicadíssimas que nós vivemos não nos pode caber a vergonha de nenhuma cobardia, nenhuma dor nos pode refrear, nenhum acto nos pode tornar indignos das obrigações e das responsabilidades da hora presente. Nascimento Costa era um potencial de acção; foi porém a sua morte que o tornou exemplo, e se este exemplo não for meditado, vivido, sofrido e encarado de frente por todos nós, por cada um de nós, sem distinção e situações, de idades ou de credos, "nada nos salvará", e os egoísmos, as riquezas, as ganâncias, as vaidades e as hipocrisias, mesmo quando disfarçados de boas intenções, não tardarão em ruir por terra, pois do outro lado da trincheira se conta com tudo isso, e contra tudo isso só é sublimemente válido um exemplo colectivo que nasça e se inspire no exemplo de Nascimento Costa.

Sr. Presidente: ontem, luminosamente, no paquete Santa Maria a gente portuguesa esteve toda ela à roda de três grandes símbolos fecundos e estimulantes: o