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18 DE FEVEREIRO DE 1961 447

nome de Santa Maria, a vida de Salazar e o martírio heróico de Nascimento Costa. Toda a gente portuguesa esteve ali à volta da fé invencível, da acção inteira, intemerata e desinteressada do sacrifício puro, abnegado e redentor.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A gente portuguesa esteve ontem onde devia e agora, neste preciso momento em que a terra portuguesa se embebe no sangue rico de Nascimento Costa, estejamos nós todos de pé em honra, louvor e glória do herói nobre e puro que no sacrifício ganhou para para si a imortalidade e nos deixou a nós a imperativa e tremenda responsabilidade do seu exemplo. Firmes e de pé; a posição dos homens quando aguardam as ordens de serviço, a posição dos homens quando olham para diante e não vêem limites à grandeza dos seus ideais e ao império do seu dever.

Curvemo-nos tão-só numa solidariedade de mágoa perante quem ficou com o prestígio de um grande nome, mas no vazio da presença física de um grande amor.

Vita mytatur, non tollitur, a vida muda, não se perde! Ascendeu a Deus em glória, a alma de um grande e jovem português e à terra está baixando o pobre despojo da sua vida breve. Honrou a Deus e à Pátria, mudou-se a sua vida, não a perdeu. Mas a nossa, essa perder-se-á se nos esquecermos do vigor e do rigor do seu exemplo, perder-se-á se em toda a longa e ameaçada terra portuguesa fraquejarem os ânimos, perderem coragem os corações ou se voltar a cara à onda de violência que se propõe correr sobre nós.

Portugal salva-se se todos os portugueses não se esquecerem nunca, mais do teu exemplo, Nascimento Costa. Este é a glória da tua morte, o símbolo da tua vida, a chama da tua alma, agora posta por Deus lá junto das estrelas que procuravas na ponte do teu navio e donde agora nos ensinas os caminhos agitados e ásperos que diante de nós se levantam.

A tua morte, é jovem vanguardista da Mocidade Portuguesa, que te ensinou e formou, é jovem piloto dos mares abertos e livres, é jovem cadete de um ideal em que se condensa, toda uma civilização de que somos hoje os mais arriscados garantes e responsáveis, a tua morte, Nascimento Costa, não há-de perder-se, porque tu estás lá, de ao pé de Deus, a ensinar-nos a verdade do caminho e o sentido da vida, daquele caminho e daquela vida que não trocamos nem traímos, mesmo quando o preço da lealdade seja o sangue das nossas feridas mortais, como pelo sangue tu foste fiel ao passado da Pátria, testemunho do seu presente ameaçado e sublime, e apóstolo do seu futuro de redenção e de liberdade nos ideais que seguimos e servimos: o único caminho, a única verdade, a única vida possíveis!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente: pedi a palavra, para, em breve apontamento, me associar às considerações que o nosso ilustre colega José Manuel da Costa acaba de proferir em homenagem a Nascimento Costa, o heróico rapaz que tombou no seu posto, oferecendo a vida no cumprimento do dever.

Nascimento Costa, como também Maciel Chaves, que anos antes igualmente oferecera o seu sangue em terras da índia, criaram-se e formaram-se nas fileiras da Mocidade Portuguesa, onde aprenderam o culto do dever e da honra, o sentido da lealdade e do patriotismo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As suas vidas, generosamente dadas em cumprimento do dever, enchem-me de emoção e de saudade, mas também de orgulho - na medida em que como eles e tantos outros, servi e militei nas mesmas fileiras - e dignificam a instituição que os formou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De facto, Sr. Presidente, quando uma organização como a Mocidade Portuguesa começa a aureolar-se com o sacrifício do sangue dos seus rapazes, a dar ao País a juventude dos seus filiados, dá-nos a certeza de que nem o seu labor foi infecundo, nem baldadas as esperanças que tenham sido depositadas na sua tarefa educativa.

Ali se aprendeu a servir um ideal, se formou uma sólida consciência nacional, se prepararam homens para as tarefas do futuro.

Pode o País estar seguro da sua devoção, de que o exemplo de Nascimento Costa, caído na ponte de comando do Santa Maria, há pouco menos de um mês, como o de Maciel Chaves, caído há anos em terras da índia, será seguido quando o dever o exigir e a Pátria o requerer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Orgulhemo-nos destes exemplos, agradeçamos à Mocidade Portuguesa que os formou e fiquemos seguros de que o País pode contar com a sua juventude.

Sr. Presidente: o povo de Lisboa, o povo do País, com o seu sentimento vivo de justiça e a sua fina sensibilidade, recebeu ontem apoteòticamente o regresso a bom porto do Santa Maria. O povo de Lisboa está neste momento a prestar significativa e sentida homenagem a Nascimento Costa.

Pois bem, é neste momento que desejo recordar com a mesma emoção e igual sentimento de homenagem e respeito aqueles que, em terras da portuguesíssima Angola, deram a vida em defesa da ordem e da integridade da. Pátria, aqueles, brancos ou pretos, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... da África ou da Europa, mas igualmente portugueses, que corajosa e decididamente enfrentaram os assaltantes e souberam bater-se e morrer no cumprimento do seu dever para com a função, e especialmente de fidelidade ao País.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Creio, Sr. Presidente, poder interpretai-os sentimentos do País afirmando que as manifestações que neste momento estão a ser prestadas a esse heróico rapaz que foi Nascimento Costa corporizam e envolvem, por igual, as que devemos àqueles que em Luanda deram também a vida em defesa da ordem e da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A consciência nacional, vibrando em uníssono, exprimindo-se eloquentemente nas manifestações de pesar e de homenagem do nosso povo a Nascimento Costa, engloba, com a mesma emoção, com o mesmo vivo sentir, com o mesmo marcado reconhecimento, a homenagem nos agentes da ordem tombados dias depois em Luanda.

O sacrifício foi o menino, o heroísmo foi igual, uns e outro merecem o nosso reconhecimento, são devedores do preito da nossa homenagem, da gratidão da Pátria.

Vozes: - Muito bem, muito bem!