1656 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 65
feliz realização que desde já se oferece ao País, até para evitar os inconvenientes políticos, económicos v sociais da concentração verificada nus últimas décadas nas regiões de Lisboa e do Porto.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: -É a convicção de tal excelência e a urgência que há em encarar positivamente o problema que me animam a voltar ao assunte no presente aviso prévio.
Nesta segunda parte da minha intervenção, e depois de uma ligeira referência geográfica à bacia do Mondego, partirei de uma análise das condições económico-sociais dos distritos de Coimbra, da Guarda e de Viseu. Desenvolverei seguidamente o que julgo mais essencial relativamente as potencialidades económicas que se apoiam nu Mondego. E depois de falar das estruturas indispensáveis ao êxito do aproveitamento e de outros apoios que reputo complementares para o sucesso do esquema regional, oferecerei a consideração da Câmara algumas conclusões que de momento serão necessariamente provisórias.
Perdoar-me-á, Sr. Presidente, que repita algumas generalidades relacionadas com o Mondego (cf. Alfredo Fernandes Martins, O esforço do Homem na Bacia do Mondego).
' Começámos por ouvir na escola primária que se trata do maior rio que nasce em Portugal. De facto, partindo de uma altitude de 1425 m (Corgo das Mós), percorre 227 km até chegar à Figueira da Foz.
É costume considerar quatro secções no seu curso principal: a primeira, com um declive médio de 23,5 m por mil, corresponde à parte serrana, desde a Fonte dos Ferreiros ao Porto da Carne; a segunda estende-se até a foz do Dão, acusando um declive médio de 3,6 m por mil; a terceira, da foz do Dão até à Portela, com um declivo de 1,1 m por mil, constitui o troço em que o rio recebe o contributo dos principais afluentes - Dão, Alva e Ceira; finalmente, a quarta secção inicia-se na orla mesozóica e prolonga-se até ao mar, acusando um declive de 0,40 m por mil. Aos meandros encaixados de montante sucedem-se agora os meandros divagantes, fazendo-se a marcha na planície sobre aluviões seculares, correndo mesmo o rio entre diques e motas num plano mais elevado do que os campos marginais.
O rio de montanha manifesta-se no seu poder erosivo nos primeiros 43 km. Este caracter torrencial abranda nos 100 km seguintes, quando, até à foz do Dão, o Mondego é um verdadeiro adolescente. Os 36 km da idade viril vence-os através de uma série de meandros profundos, apresentando já na fase terminal os primeiras depósitos. Mas é na planície aluvial que o rio velho dos últimos 48 km encontra os seus grandes problemas.
Embora alimentado pelas neves da Estrela e do Caramulo, tem nas chuvas o principal factor do seu regime hidrográfico. A constituição geológica dos terrenos da bacia superior, com a sua fraca permeabilidade, as grandes manchas desarborizadas da montanha e a diferença de altura das chuvas registadas nas estações do ano acentuam as características torrenciais. A relação calculada para Coimbra entre o caudal mínimo e o caudal máximo oscila entre l m3 e 3000 m3. (Cf. engenheiro Henrique Buas, Estudos sobre o Mondego).
A velocidade de propagação do máximo de cheias entre S. João de Areias e a ponte de Santa Clara já se fixou em 7 km/hora, valor sem dúvida notável. Logo, as cheias se espraiam pelos campos marginais (a velocidade horária entre Coimbra e Montemor diminui para 2,3 km), cortando os diques, fazendo quebradas, depositando milhares de toneladas de areia, num afã de ruína
que faz erguer gritos de dor, bem expressos naquele clamor angustioso de "Salvem os nossos campos!" que não raro tem subido até ao Governo da Nação.
Dos afluentes do Mondego, o Dão é um rio de planalto, com os seus.90 km de percurso. Partindo de uma altitude de 775 m, sem quedas de nível muito acentuadas, o Dão permite constatar que os afluentes da- margem direita do Mondego têm um declive médio inferior aos da margem esquerda, o que se explica pela maior inclinação das vertentes do flanco esquerdo do rio principal.
O Alva nasce bem perto do Mondego, a 1525 m de altitude, para se lhe reunir depois de correr 107 km.
Os primeiros 15 km vence-os vertiginosamente com um declive de 7 m por mil. Autêntico rio de montanha, apresenta-se aqui com grande poder erosivo. Neste curso superior o engenho do homem procurou tirar dele o melhor proveito. Passada a ponte de Jugais, o declive desce para 15.6 m por mil, através de formações xistosas num pequeno percurso de 6,5 km, puni voltar a atingir, á cota • 300, o domínio dos granitos. Mais adiante, de novo entro formações xistosas, ajudará a compor o cenário da celebrizada "ponte dos três entradas". De Penalva até à cota 50 o declive médio acusa 3 m por mil e nos restantes 12 km baixa para 1,6 m por mil.
O Ceira, .cuja extensão é de 82 km, nasce para lá da serra do Açor, a 1200 m de altitude. Rasga um vale profundo, com um declive de 71,8 m por mil, até encontrar os quartzitos silúricos de Fajão, onde a sua marcha inicial conhece obstáculos. O declive virá a reduzir-se para 10,7 m por mil até Serpins, acentuando-se ainda mais (2.8 km por mil) nos restantes 25 km, até junto da Portela.
Ao rio de planalto que é o Dão, aos rios de montanha que são o Alva e o Ceira, corresponde, na bacia do Mondego, um afluente de planície! que é o Arunca. Nasce a uma cota 325, nas colinas de Albergaria. Uma vez atingida a região de Soure, passa a correr entre formações aluviais, reduzindo-se, nos últimos 12 km, dos 53 km do seu percurso, o declive médio para 0,87 m por mil.
Esta bacia hidrográfica do Mondego abrange uma área de 6700 km3, repartida pelos distritos da Guarda, Viseu, Coimbra, Aveiro e Leiria, através dos seguintes concelhos: distrito da Guarda: Aguiar da Beira, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Seia e Trancoso; distrito de Viseu: Distrito de Coimbra: Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa, Figueira da Foz, Góis, Lousão, Mirauda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Poiares, Soure e Tábua; distrito de Leira: Ansião, Figueiró dos Vinhos e Pombal; distrito de Aveiro: Mealhada.
Sr. Presidente: parece-me agora oportuno chamar AS atenções da Câmara para o condicionalismo económico-social da região do Mondego.
Os elementos que passo a referir dizem respeito ao conjunto dos distritos de Coimbra, da Guarda e de Viseu.
Embora a área destes distritos não pertença, toda ela, ao Mondego, procedo assim por três razões:
1.ª Nem sempre me foi possível obter elementos estatísticos respeitantes exclusivamente a área da bacia hidrográfica do Mondego;
2.ª A importância do distrito como região u como circunscrição administrativa não pode ser minimizada nas tarefas de planeamento;
3.ª Os restantes conselhos dos três distritos estranhos à bacia do rio beneficiarão, mais ou menos directamente, do esforço de desenvolvimento que se concentre na mesma.