23 DE JANEIRO DE 1963 1887
celho de Castanheta de Pêra, que lhe fica na parte cimeira ao norte, com a sua altitude média de 600 m, até aos concelhos do Bombarral e Peniche, que lhe ficam ao sul e quase ao nível do mar, poderá admirar extasiado uma diversidade de belezas sem par, desde a paisagem serrana, com as suas ravinas e vales profundos, onde por vezes só o pinheiro consegue crescer, até à mais suave planura de campos férteis e várzeas fecundas e as praias maravilhosas de S. Pedro de Manuel, Nazaré, S. Martinho do Porto, Baleai e tantas outras.
Nele ficam situados alguns dos mais ricos e históricos monumentos nacionais, entre os quais figuram os Mosteiros de Santa Maria da Vitória e de Alcobaça, os Castelos de Leiria, de Óbidos e outros.
A sua indústria vidreira figura em primeiro lugar no País, a de lanifícios em terceiro e as de resinosos, madeiras e cerâmica são igualmente das mais importantes na economia nacional, o mesmo acontecendo em relação aos seus portos de pesca da Nazaré e Peniche,' cujos rendimentos anuais atingem cifras de muitos milhares de contos.
Vem tudo isto à guisa de intróito para o assunto que pretendo versar e que considero do maior interesse para o turismo nacional e, em especial, para os concelhos das Caldas da Bainha e de Óbidos.
Quero referir-me à lagoa de Óbidos, que fica situada, na sua maior extensão, dentro do concelho que lhe deu o nome e vai confinar com o mar nu praia da Foz do Arelho, banhando uma boa parte desta mesma freguesia.
A caça e u pesca na lagoa são desportos favoritos de todos quantos conhecem aquele local, dadas as suas condições privilegiadas, o mesmo acontecendo com os que praticam o remo, a vela e a natação.
Ela constitui desde há longos anos um dos mais importantes motivos de atracção de toda aquela região, e de modo particular das Caldas da Bainha, que alguém já considerou como fulcro ou sede de uma vasta zona turística a criar oportunamente, dadas as excepcionais condições que reúne aquela cidade, na qual funciona desde ha séculos o mais antigo hospital termal do Mundo inteiro e que entre nós é hoje considerado legalmente como hospital central da zona sul, que é o Hospital Termal Bainha D. Leonor, pertencente à Fundação do mesmo nome.
A. lagoa de Óbidos é a maior de Portugal continental e, pela sua configuração e magnífica situação geográfica, é uma das mais belas atracções turísticas daquela região, e até do País.
Com o seu comprimento superior a 6 km, por mais de 3 km de largura, é nela que os milhares de habitantes das povoações que a circundam vão ganhar o pão de cada dia, na faina da pesca e na colheita das algas e do limo.
Durante todo o ano, e principalmente na época estival, acorrem ali dezenas de milhares de pessoas de todos os pontos do País, para nela gozarem os fins de semana durante o Inverno e as suas férias na época de Verão.
A amenidade do seu clima, os pinhais que a envolvem, a variedade da sua fauna piscícola e a pouca distância a que fica da cidade das Caldas da Bainha, a que está ligada por escassos 10 km de boa estrada alcatroada, proporcionam ao visitante condições de excepcional beleza e comodidade.
Durante os meses de Verão é na mesma lagoa que milhares de banhistas tomam o seu banho, pois raros são os dias em que é possível fazê-lo no mar, que lhe fica próximo, dada a braveza quase permanente das suas ondas.
Foi devido u mesma lagoa que a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho ali adquiriu o Palácio Gran-dela com a sua cerca e nela mandou construir os magníficos edifícios, que albergam milhares dos seus associados durante o ano, sobranceiros a lagoa, donde se desfruta uma das mais belas paisagens portuguesas, que pode considerar-se deslumbrante.
Merece neste momento uma palavra de homenagem e gratidão, e faço-o muito gostosamente deste lugar, o nosso ilustre colega Sr. Deputado Veiga de Macedo, a quem as Caldas da Rainha e a Foz do Arelho muito devem, pela criação de uma vara do Tribunal do Trabalho naquela cidade e pelo incremento que deu à freguesia e praia da Foz do Arelho, enquanto Ministro das Corporações e Previdência Social, quando mandou construir os belos edifícios que ali se encontram e quê suo propriedade da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, razão por que em nome daquele concelho lhe exprimo reconhecidamente o agradecimento que lhe é devido.
Em contraste com o que acima deixo referido, e porque a fúria do mar não se compadece com a obra maravilhosa de Deus, a lagoa está a assorear-se de tal modo que se prevê o seu desaparecimento dentro de poucos anos, se não lhe acudirem com urgência.
Antigamente a lagoa mantinha-se em comunicação directa com o mar durante uma parte do ano, o que lhe permitia renovar a agua diariamente, com as marés, e ao mesmo tempo manter em abundância enorme variedade de peixes e mariscos, que constituíam uma das suas maiores riquezas.
O braço do homem só era necessário para abrir a comunicação com o mar, na época própria de. cada ano, quando uma estreita faixa de areia os separava; mas, nos últimos anos, essa abertura de comunicação tornou-se impraticável, dada a grande extensão de areia que passou a existir entre o mar e a lagoa e que é necessário remover para os ligar.
No passado ano de 1962, apesar dos esforços e boa vontade dispensados pelo presidente da Câmara Municipal das Caldas da Bainha e pelos serviços hidráulicos, que ali tiveram uma escavadora a funcionar durante algumas semanas, não foi possível manter a comunicação da lagoa com o mar, e, por tal razão, a maior parte dos banhistas afastou-se. dela, com grave prejuízo para todos.
A venda dos belos mariscos que nela abundam foi proibida pela Direcção-Geral de Saúde nos longos períodos em que fica isolada pela grande extensão de areia que a separa do oceano.
As chuvas torrenciais que caíram durante as últimas semanas encheram-na de lês a lês, alagando os campos marginais e ameaçando invadir a estrada nacional que lhe fica próxima, com a grave consequência da sua destruição, o que só por milagre não aconteceu, devido a um estreito canal que o peso da água ali contida rasgou para se esvaziar no mar, há poucos dias ainda.
Mas esta comunicação é transitória e não se mantém por muito tempo, podendo fechar em poucas horas e de um momento para o outro.
Quando a lagoa fica isolada do mar durante muitos meses, as suas águas ficam represadas, dando lugar à morte do peixe e ao afastamento dos que a utilizam como praia de banhos.
Para que a lagoa se mantenha com todas as suas riquezas e atracções é indispensável estabelecer a comunicação das suas águas com as do mar com carácter permanente.
E porque o assoreamento dos últimos anos aumentou consideravelmente, já não basta o trabalho manual dos homens daquelas localidades, que antigamente escavavam essa pequena vivia de comunicação, mas sim é necessária a intervenção do respectivo departamento do Estado para a realização da obra, que é grande e de certo modo dispendiosa.