O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

23 DE JANEIRO DE 1963 1889

O Orador: - Sr. Presidente: nesta desolada época de mitos ideológicos, de fantasias políticas e de pregões sedutores, afaga os ouvidos de muitos povos ocidentais o princípio do anticolonialismo, que, tal e qual é apresentado pela maioria dos seus estrénuos paladinos, também vai haurindo nas raízes comunistas a seiva de que se aviventa.

Já Karl Marx e Lenine pretenderam ver no colonialismo apenas o fantasma da tirania e a volúpia de lucros amaldiçoados, identificando expressamente a colonização com a exploração, e, no humanitarismo aparente com que ataviaram a sua real desumanidade, sonharam uma «aliança natural» do comunismo «redentor» com os povos oprimidos pelo tão apregoado despotismo das nações colonizadoras.

Não esquecendo as benemerências da colonização em cultura, em formação espiritual, em libertação do barbarismo, em vias de comunicação, em portos, em sanidade, em estabelecimentos hospitalares, em escolas, em progresso técnico, industrial e agrícola, na conquista de mercados, na mobilização de mão-de-obra, na fixação de núcleos populacionais, numa série ininterrupta de utilidades para os povos colonizados, não esquecendo todos estes benefícios, que sem colonização seriam inviáveis, nós também somos contra o colonialismo, no sentido pejorativo com que o termo corre fama, pois nunca praticámos colonialismo à russa, nem à asiática, nem de qualquer outra forma que não seja o progresso profundamente humano e entranhadamente cristão.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A linha de rumo da nossa colonização assenta nesta norma sublime: brancos ou negros, amarelos ou peles-vermelhas, todos somos irmãos.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O Orador: - 33 certo que nações poderosas e civilizadas como os Estados Unidos nem sempre têm comungado do nosso ponto de vista.

Mas a grande nação americana não esquece que a independência que usufrui não se alicerçou na emancipação dos povos autóctones, mas na repressão dos aborígenes, de que resta uma reserva em desafortunada condição social - colorido rebanho humano para fins turísticos neste contraditório século XX em que tanto se fala em direitos do homem e em dignidade da pessoa humana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os Estados Unidos não poderão esquecer que fizeram a integração do Alasca e do Hawai e que no Pacífico têm sob a sua jurisdição territórios insulares em verdadeiro regime colonial, a cujos habitantes não são reconhecidos direitos políticos nem cidadania americana.

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Não fazemos, Sr. Presidente, colonização à russa, que subjuga, esmaga e explora económicamente nações culturalmente diferenciadas que já fruíram da mais ampla independência política, com fronteiras geogràficamente demarcadas.

E assim, sem qualquer espécie de pudor, e não falando já na coerciva sovietização dos países satélites, a Rússia incorpora nos seus domínios povos de 27 nacionalidades, falando línguas diferentes e constituindo diferenciadas etnias.

Será em nome do anticolonialismo que, só na Europa, a Rússia exerce a sua hegemonia sobre gentes que integram onze nações: Albânia, Alemanha Oriental, Bulgária, Checoslováquia, Estónia, Letónia e Lituânia, Polónia, Hungria, Jugoslávia e Roménia?

Será em nome do anticolonialismo que a Rússia, só no período do pós-guerra, já incorporou no seu território mais de 13 000 000 km2?

Será em nome do anticolonialismo que as gentes submetidas ao imperialismo moscovita, que em 1945 constituíam apenas 8 por cento da população mundial, no nosso tempo já ascendem a 33 por cento?

Não será contra o colonialismo russo que a Hungria há-de erguer-se, na história trágica do Mundo, como um grito sangrento de ré vindicta?

E quem não vê o turbilhão do imperialismo russo, alastrando pela Ásia, pela África e até pela América, cumprindo com fidelidade geométrica o programa de Lenine. despertando movimentos de nacionalismos exacerbados, organizando frentes de libertação, treinando guerrilhas e terroristas, fornecendo armamento, fazendo retiradas estratégicas, firmando acordos comerciais, prestando assistência técnica, instruindo nas suas Universidades estudantes arregimentados a quem familiariza nos segredos do marxismo, do materialismo histórico e nas perversidades do anarquismo?

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, Sr. Presidente, os olhos ocidentais sofrerão tão prolongada miopia que não vejam o colonialismo asiático, langoroso e rastejante, envolvendo nas suas espiras grandes parcelas do continente africano, na mira de expulsar dali o branco e amanhã submeter o negro à hegemonia do amarelo, preenchendo os espaços vazios com o fluxo dos seus excedentes demográficos?

O Sr. Pinheiro da Silva: - Muito bem!

O Orador: - A conferência de Nova Deli, sob os auspícios do vesgo pacifismo de Nehru; a conferência de Bandung, onde a China Vermelha pontificou com autoridade e com êxito; a conferência do Cairo, em que o Egipto depôs no rosto da União Soviética o beijo da fraternidade socialista; a conferência de Acra, onde NKrumah, olhando da sala das sessões a cadeia que o recolhera como presidiário, salpicou de bílis a velha fronte da Europa, todas estas conferências deixam ver, a plena luz, as infrenes ambições do imperialismo asiático.

Espanto-me, Sr. Presidente, de que o Mundo não veja as fauces hiantes de Nehru, que deglutiu Goa, Damão e Diu, Caxemira, o Heiderabad e o Nepal; que cinicamente tritura os indefesos nagas; que, mergulhado no charco das suas ambições, afagando sofregamente os dólares e as libras com que os Estados Unidos e a Inglaterra têm laureado a sua política de mentira e de agressão, ainda volve as suas pupilas ressumantes de paludismo político para as bandas da África Oriental, procurando transformá-la em couto de ribaldos indianos, saídos de uma enorme massa populacional onde a reverberação faustosa de poucos contrasta com a execranda miséria de autênticas carcaças humanas, ressequidas de fome, como múmias antigas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No Ocidente todos deveriam ver isto, mas muitos que blasonam da agudeza dos seus olhos não vêem que estão cegos