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2980 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 121

Pois sabem VV. Ex.ªs o que sucedeu? Foi Cabo Verde que passou a servir de escala para Angola e Moçambique!
Dois, três, quatro, sei lá quantos aviões por dia!
O arquipélago exultou. Depois de achadas por mar, as ilhas tinham sido descobertas agora pela nossa aviação!
Mas ... era fartura de mais para as ilhas desafortunadas. Tinham razão afinal os cépticos, os que duvidavam de tanta acharia ...
Na verdade, foi «sol de pouca dura». Removidas as dificuldades que inibiam a escala pela Guiné, Cabo Verde foi abandonado. Já lá não vai nenhum ...
Quer dizer: Cabo Verde serve, mas só serve para as faltas. E é isto que nos dói, Sr. Presidente, é isto que fere a nossa sensibilidade de portugueses. Só somos lembrados ... se ...
Até há pouco, as ligações aéreas fizeram-se com o arquipélago através do Voo da Amizade, que, segundo informações, se mantinha com um único avião e mesmo esse brasileiro. Esgotado o tempo de voo, esse avião único está na revisão. Todas as terças e sextas-feiras - dias da sua saída - a resposta é sempre a mesma: «o voo tal - o que devia ir a Cabo Verde - foi cancelado»!
Embora subordinado também a um «se», no que concerne à deslocação de pessoas e às partidas e chegadas, o Voo da Amizade lá ia servindo Cabo Verde - tant bien que mal -, cada um de nós à espera de uma oportunidade para nele poder
viajar ...
Enfim, do mal o menor, e nós lá nos íamos governando com o favor, ou com a sorte, de o Sal ser uma escala necessária. Agora, nem o Voo da Amizade ... e a situação não se resolve.
Sr. Presidente: não quero pôr o problema apenas sob o ponto de vista sentimental ou de política nacional - esta, sem dúvida, de grande alcance e, por isso mesmo, a impor uma solução de premência.
Não - sei, na verdade, quais as dificuldades de ordem técnica porventura existentes que impedem a inclusão de Cabo Verde como escala regular das carreiras nacionais para a África Portuguesa. Admito que existam. Mas o certo é que temos no arquipélago um aeroporto de categoria internacional, que está a ser preparado para escala dos aviões da África do ,Sul para a Europa e que já tem servido de escala também para variadas carreiras aéreas estrangeiras. Isto significa que o aeroporto - que é nosso - serve para os outros, mas não nos serve a nós. Há-de haver a tal «razão técnica» para não irmos a Cabo Verde, mas de certeza que essas razões nem são insuperáveis, nem irremovíveis. Urge eliminá-las e nem se diga que a técnica não tem ao seu alcance os meios necessários para tanto ...
Por outro lado, e sob o aspecto económico, poderão perguntar-me: mas, V. garante um tráfego que justifique comercialmente a escala pelo Sal?
Poderia responder apenas com a invocação do interesse nacional a sobrepor-se a todos os outros, mas prefiro responder com outra interrogativa. Como concluir pela afirmação que a pergunta envolve, se as escalas por Cabo Verde têm sido sempre esporádicas, incertas, aleatórias, não oferecendo nenhuma garantia aos que precisam de se servir do transporte por via aérea?
Creio, Sr. Presidente, que estamos perante um círculo vicioso. Os aviões não vão a Cabo Verde porque Cabo Verde não garante um tráfego que justifique a escala. Cabo Verde não pode assegurar o tráfego porque nenhuma garantia lhe é dada para o escoamento desse tráfego.
Ora, pelo que conheço e sei, estou inteiramente convencido de que, se os aviões estabelecerem carreiras regulares, com dias certos e lugares assegurados, a escala por Cabo Verde torna-se rentável.
Como as coisas estavam e presumivelmente continuarão, se o Voo da Amizade continuar, é que não é possível tirar conclusões acertadas.
Pois se houve passageiros que estiveram oito, dez, quinze dias à espera de uma «aberta» e ainda tiveram de desistir, porque os aviões passavam constantemente cheios e não havia lugares para eles ...
Pois se houve passageiros que, depois de estarem dias e dias no Sal, tiveram de ir a S. Vicente para pedir um barco que os fosse ali buscar, para os trazer para a metrópole ...
Pois se houve ...
Oh! Sr. Presidente, eu poderia contar tantos e tantos casos, mas seria um rosário sem fim ...
Acrescentarei, contudo, que a nossa sina é, lá e cá, ficar na chamada «lista de espera». Partimos, «se» os outros desistirem ... E triste - temos de concordar - e, assim, toda a gente procura evitar o risco.
Na realidade, Cabo Verde continua a ser um arquipélago e para apanhar o avião no Sal é preciso ir das outras ilhas - de uma das oito restantes habitadas. Calcule-se o que de aborrecimentos acarreta uma deslocação destas, sem se conseguir o que se pretende, além das .despesas, que não são nada pequenas ...
Ora, é preciso sairmos deste círculo vicioso e isso só é possível com factos positivos, com a experiência necessária, em termos que permitam conclusões não precipitadas.
Por que não prolongar, por exemplo, a carreira das Canárias até ao Sal e a Bissau?

O Sr. Pinto Bull: - Muito bem!

O Orador: - Por que não fazer, pelo menos, uma escala semanal dos aviões para e do nosso continente africano pelo Sal?
Por que não estabelecer uma carreira regular Lisboa-Açores-Madeira-Sal-Bissau, servindo toda esta faixa portuguesa?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Fala um leigo, Sr. Presidente. De aviões, só sei viajar neles, apertar o cinto quando acende a luzinha do respectivo letreiro, ou deixar de fumar quando aparece o No smoking imperativo, que é quando nos apetece mais fumar ...
Não sei se as minhas sugestões são realizáveis, mas a verdade é que, sem experimentar as coisas em condições de regularidade, não é lícito tirar conclusões que, por prematuras, são despidas de qualquer valor, carecendo, como carecem, de demonstração.
Cabo Verde tem tráfego para a metrópole e para a Guiné, até mesmo em mercadorias. Questão é que haja um mínimo de garantia a assegurar o escoamento desse tráfego.
Tenho a certeza de que a indiscutível boa vontade da T. A. P., a quem o País deve inestimáveis serviços, embora com esquecimento de que Cabo Verde é Portugal, não deixará de levar a empresa a atentar neste problema, que, sendo de Cabo Verde, é também da Nação.
Apelo, pois, para a T. A. P., na convicção de que os Ministérios do Ultramar e das Comunicações facilitarão todas