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5 DE FEVEREIRO DE 1964 3097

O Orador: - Não posso deixai passar em silêncio aquilo que considero um dos mais graves inconvenientes da nova variante rodoviária. Em defesa do interesse turístico da região, permite-mo solicitar ao ilustre Ministro das Obras Públicas que mande estudar as possibilidades técnicas que terá o aproveitamento da actual estrada, desde o miradouro do Vale do Inferno até Santa Clara, como término da variante anunciada.
Prevejo as dificuldades, mas sei o que valem e o que podem os técnicos daquele Ministério e julgo, portanto, que o problema pode ter solução. Mas, se a não puder ter tal como sugiro, que, ao menos, se estude uma ligação ampla entre a futura variante e a actual estrada, entrando nesta acima do miradouro, e que se alargue esta última de modo que possa ser utilizada mais comodamente pela viação ligeira e de turismo.
E não só que se alargue, mas que se melhore em todos os sentidos, que se embeleze, se liberte e se proteja de certas construções e de certas pujanças vegetais que já bastante a comprometem e que tendem a anular por completo o excelente panorama que ela nos oferece.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para isto nem haverá dificuldades técnicas nem serão de aceitar recusas ou adiamentos de ordem económica. A cidade e o turismo bem merecem que se não desperdice aquilo que tão generosamente nos ofereceu a Natureza.
É fora de dúvida que a variante anunciada vem resolver o problema permanentemente aflitivo da circulação rodoviária entre Coimbra e Cernache, onde, actualmente, em estrada estreita e tortuosa, se acumulam, particularmente a certas horas, os camiões, os autos ligeiros, os carros, as carroças, as bicicletas e os peões. Afirma-se também que, pela sua função de estrada-dique, na sua parte terminal, ela virá a criar melhores condições de protecção e de defesa à velha e extraordinariamente bela Igreja de Santa Clara.
Mas também é verdade que não resolve e até agrava o problema rodoviário do Largo da Portagem, na margem direita do Mondego, à entrada da cidade.
Não o resolve, porque não melhora as condições actualmente existentes, e deve até agravá-lo, porque a nova variante com certeza vai atrair a viação pesada que actualmente evita a estrada, estreita e íngreme, do Vale do Inferno e se serve de outras estradas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Efectivamente, ali, numa verdadeira encruzilhada de importantes ligações com o Norte, com o Sul e com as Beiras, em pequeníssimo espaço, em frente do edifício da Comissão Municipal de Turismo, um sinaleiro tem de arranjar processo de escoar todo o trânsito, pesado e ligeiro, que se dirige do Sul para o Norte, do Sul para a cidade, do Sul para as Beiras, todo o que vem da estrada da Beira para a cidade de Coimbra, para o Norte e para o Sul, todos os peões que entram e saem da cidade, etc. Quer dizer: as vantagens da larga e bela Ponte de Santa Clara, a que ficaram ligados nomes dos Ministros J. Frederico Ulrich e Arantes e Oliveira, que veio substituir a velha, estreita e arruinada ponte, são anuladas por aquela forçosa, apertadíssima e angustiante passagem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As dificuldades crescem dia a dia, à medida que cresce o trânsito, e avolumam-se em certos dias e em certas horas, demorando de modo inconveniente e prejudicial o escoamento dos veículos. O novo Estádio Universitário, pela frequência que vai atrair, em certos dias e em certas horas, e o novo liceu normal, pelo movimento que naturalmente vai acarretar, são dois novos elementos a agravar as actuais condições de trânsito naquele recinto. E, portanto, fora de dúvida que as condições rodoviárias impõem e o interesse de Coimbra e do País exige que se faça quanto antes uma nova e ampla ponte que resolva os problemas da circulação automóvel e que garanta nova entrada fácil na cidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sei que o ilustre Ministro das Obras Públicas a julga igualmente indispensável, como, aliás, já a considerava o Eng.º Duarte Pacheco, e, por isso mesmo, espero que o Governo não deixe de garantir as facilidades indispensáveis ao seu estudo e à sua execução tão rapidamente quanto possível.
O que conheço da cidade, dos seus problemas actuais e do seu futuro como Cidade Universitária, como repositório de preciosidades históricas e artísticas e como terceira urbe, da metrópole, leva-me a sugerir que essa nova ponte se situe perto de Almegue, atravessando não só o rio, mas também cruzando em viaduto o actual ramal de caminho de ferro e a Avenida de Fernão de Magalhães, tendo à sua saída as duas ligações que conduzam à cidade e à estacão do caminho de ferro e uma outra que seja o seu natural prolongamento, através do vale e da Estrada de Eiras, e que irá encontrar a actual Estrada do Porto por alturas da Adémia.
Haveria toda a conveniência em que o estudo da implantação da nova ponte se fizesse em conjunto com aquele a que está a proceder a Direcção da Hidráulica do Mondego para a construção do dique de derivação com que se pretende assegurar a permanência de uma toalha líquida no leito do Mondego, mesmo no pino do Verão.
A ligação entre Santa Clara e o Almegue afigura-se-me extraordinariamente fácil, por estrada larga, verdadeira avenida que passaria entre o Estádio Universitário e a colina, alargando a actual estrada que conduz à Bencanta.
Esta partiria de um largo, onde viriam juntar-se a estrada da ladeira do Vale do Inferno, convenientemente melhorada, e a das Lajes, depois do alargamento do troço que há-de ligar a próxima variante com o término da Avenida de João das Regras. Este alargamento acarretaria a protecção e a valorização da velha Igreja de Santa Clara, libertando-a do casario que a compromete e a abafa, mas respeitando integralmente o Portugal dos Pequeninos, obra maravilhosa, de extraordinário valor turístico, verdadeiro museu nacional, dos mais visitados do País, conhecido e admirado por quantos estrangeiros nos visitam e que tem sido objecto de excelentes publicações em revistas de renome internacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Assim se valorizaria não só o Portugal dos ^Pequeninos e a Igreja de Santa Clara-a-Velha, mas também o novo liceu e a Quinta das Lágrimas.
Nesse largo, desafrontado do casario ali existente e convenientemente urbanizado, parece-me que não ficaria mal a estátua da Bainha Santa, entre os dois Mosteiros de Santa Clara a que estão ligados a história da sua vida gloriosa e o culto devotado de tantos milhares de fiéis. Assim se daria também solução a um problema inquietante - o da provisória instalação da sua bela estátua no terreiro fronteiro à Igreja de Santa Clara-a-Nova.