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3100 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 125

Quando a escola se declara, por exemplo, carecida do apoio da família, decerto não alude apenas a incentivos para o aproveitamento literário e a pressões para a conduta disciplinar, mas ao pressuposto de um clima natural favorável como condição da sua própria eficiência educativa.
Ora, em face da chamada demissão da família, forma extrema e derradeiro estádio lógico da crise endémica e já proverbial, apela-se com insistência para o reforço da presença supletiva do Estado.
Ninguém com a percepção mínima dos imperativos nacionais ousará, consideradas as circunstâncias do tempo, contestar-lhe a legitimidade e o inadiável.
Representaria, no entanto, um erro mortal que à sombra de tal suprimento de ânimo e capacidade para actuar no plano imediato não gastássemos um átomo de energia a desmentir a aparente inevitabilidade do processo desagregador.
Situamo-nos bem no âmago da questão, que não em simples afinidade com ela, se tentamos criar ou reaver as condições de ordem espiritual, social e económica que propiciem o que o irlandês Edward Leen, com certeza de diagnóstico e uma ponta de bom humor, denominou, por extensão do sentido corrente, regresso ao lar. Não pensava o nosso autor na poetizada «rainha do lar», que abandonou a arte dos seus lavores pela técnica de escrever à máquina; pousava no comum alheamento dos que deveriam vivê-lo, avaliar-lhe pelo justo preço as virtualidades e carências.
Desta sorte equacionada a questão, temos de rectificar o ponto de vista inicial: aqui não intervém o Estado em exclusivo suprimento da vontade alheia, move-se em esfera indisputável da competência própria.
A encíclica Divini Illius Magistri, tão legitimamente ciosa das prerrogativas da família e da Igreja, solicita expressamente os Poderes Públicos a intervirem para o saneamento e para a formação dos ambientes educacionais.
Entretanto, a precariedade da actuação no que toca ao ambiente formativo da família provém do facto de ela receber por sua vez e em cadeia, como é moda dizer, influências do meio circundante, e este, por força da progressiva aproximação do vário mas já tão concentrado mundo em que nos situamos, cada vez está menos ao abrigo de forçadas conveniências nem sempre edificantes.
Tudo isto parece tão demonstrado pela experiência que de todo nos acautela da perigosa ilusão de edificar a escola «suficiente educadora» por mais que a apetrechemos e a defendamos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mesmo no domínio que lhe é mais específico, enquanto serve a juventude, incutindo-lhe hábitos do seriedade intelectual, o gosto do trabalho custoso e quando ocorre desinteressado, assiste, desagradada muito embora, ao convite arrogante de certos meios à superficialidade, ao desordenamento de valores, eu ia a dizer, à inspiração apátrida de actividades de extensão e vulgarização cultural. Nem descarreguemos a consciência descansando na inconsequência de tais divagações. Havemos decerto de estar lembrados do conceito que o maligno barqueiro, no auto de Mestre Gil, fazia da vontade submissa dos condenados. «Embarcai e remaremos», dizia, e era como se dissesse que, imposta a barca e a companhia, o porto de destino ele o determinaria a seu talante.
Sendo assim, como é, só podia acontecer como não raro acontece no que respeita à formação da sensibilidade e do carácter, sem cujo equilíbrio e firmeza os homens desaprendem de olhar o céu e de construir a cidade.
Há muito de heroísmo e de desvelos providenciais na fidelidade dos jovens aos nobres princípios e aos exemplos sadios, se lhos contraditam as imagens escritas e filmadas que em catadupas lhes atiram para a frente dos olhos as várias internacionais da perversão a que não podemos ou não sabemos fechar as portas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Confortando-nos e revendo-nos orgulhosos nesta presente geração de combatentes de vanguarda, pressentimos, aqui ou além, insidiosas adversativas a tentarem limitar, ante o espírito juvenil, a afirmação do direito e a vontade de resistência da Pátria.
Queixámo-nos, aliás, anteriormente, da atonia e do desvairo ideológico de alguns nas gerações que nos seguiram. Mas quantas vezes o primeiro abraço aos ideais que os não merecem não é nos rapazes traídos pelo ambiente familiar e social o protesto de um magoado desencanto; que o não deve haver mais doloroso do que supor desmentidos pelo padrão do viver quotidiano os valores que com a alma toda quisemos depois de, rendidos, os aprendermos a admirar.
Sr. Presidente: estes e juízos muito semelhantes têm sido produzidos com mais autoridade e exacta expressão. Se a eles regresso é por me parecer que devemos aproveitar todo o alcance político da nossa concordância de pensamento, unânime segundo adianto, neste preciso aspecto da questão educativa.
Não o ignora o Governo nem lhe falta decerto a inteligência das soluções possíveis, mas ser-lhe-á porventura útil saber que também aqui o acompanha a Nação, cujos sentimentos profundos julgamos interpretar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque também existe, Deus louvado, um ambiente nacional cujas reacções, longe de entorpecerem ou desvirtuarem os propósitos construtivos, são forte incentivo a que não trepide a mão que haja de traçar o caminho direito para uma educação informadamente cristã e de objectivos portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Coincidiram sem dúvida com a nossa ânsia de pôr em dia e a favor dos planos e programas de desenvolvimento cultural, social e económico as potencialidades do sistema escolar, enquanto, porém, subentendem, como em tempos ouvimos, em escorreito latim de um novo doutor de Oxford, que «num mundo em que tudo se modifica o que menos muda é o próprio homem». Acresceriam as preocupações e teriam escasso fundamento as esperanças se a escola se fechasse sobre si, sobranceira às concretas exigências da comunidade. Mas como se resignaria o sector mais consciente da Nação a que a escola deixasse de ser a «sagrada oficina das almas» para converter-se em frio maquinismo de transmissão de conhecimentos utilizáveis?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não tem por ultrapassada a lição do Disciple, acredita em que há doutrinas corruptoras e que não foram precisamente essas as que ditaram a ruína do filósofo.