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29 DE JANEIRO DE 1965 4415

Ficar por aqui seria reduzir em demasia e traçar com um tira-linhas três ou quatro riscos a preto no quadro branco.
Existem problemas técnicos, dificuldades naturais, trabalhos penosos de resultados decepcionantes e até erros de concepção, desacertos, inadvertências, enganos naturais nas operações de grande escala e depois multiplicados pelas resistências de uma região áspera, desconcertante e problemática, na conquista da riqueza natural.
O Douro está sujeito ora a secas catastróficas de largos meses que esterilizam o crescimento, ora a cheias tumultuarias e destruidoras que arrasam todos os estorvos postos ao seu ímpeto.
Ele é um fio preguiçoso, sussurrante, perdido nos recôncavos, como avistavam o Jacinto e o Zé Fernandes de Guiães durante meses e meses, e, de repente, recobre, submerge e leva na sua frente caudalosa as penedras e arribas e também as terras proveitosas dos vales e encostas.
A sua inclinação parece demasiada. A sua foz dificílima e carregada de presságios.
As barragens de Portugal e Espanha nada têm oposto, neste particular, às inundações inopinadas, que continuam por igual destruidoras e perniciosas.
Portanto, a navegação do Douro, requerendo abrigos, interrupções, levantando novos problemas, não é isenta de custos adicionais, de despesas e perdas incalculáveis, de novas implicações e de obras de grande envergadura.
As próprias embarcações terão de recolher a porto de abrigo e não ficarão seguras em várias emergências.
Esta obra é complexa.
Nada menos de cinco escalões - Atães Garrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho.
Obras de acostagem e portos no Focinho, Foz-Tua, Porto Manso, Castelo de Paiva e Germunde.
Não se ficará por aqui.
Serão necessários canais de derivação e haverá que recorrer a outras instalações de descarga.
Ter-se-á que recorrer também a teleféricos e outros meios, tanto no Pocinho como nas ligações ao canal Douro a Leixões.
Aqueles que planearam a navegabilidade do Danúbio e do Reno tiveram menos problemas, e porque se trata de correntes regulares, tanto no Verão como no Inverno, as suas frotas de embarcações - automotoras, peniches, reboques, cisternas - puderam ser organizadas de modo mais simples e pronto e já existiam antes das grandes obras públicas de barragem e aproveitamento eléctrico.
Os projectos oficialmente apresentados para tornarem navegável o Douro apresentam um obstáculo formidável, de solução quase angustiosa.
A albufeira a construir em Foz-Tua implicará uma submersão da linha de caminho de ferro de 43 km.
Reconstruir esses 43 km de barrocais, fraguedos e despenhadeiros parece hoje obra de ciclopes.
E por isso se põe como solução indispensável a derivação da linha de Bragança, de Mirandela ou de Cachão para o Pocinho, ou para o concelho de Meda, servindo é certo, o vale de Mirandela e o vale de Vilariça, mas transformando e aliciando estes terrenos de feracidade insuperável.
É certo que a linha amputada apresenta reduzido tráfego, mas oferece a ligação mais curta à via duriense que se faz pelo Porto e terá de fazer-se por Coimbra com o mar.
Algumas pontes, entre elas a de Abreiro, seriam danificadas e alguns terrenos ribeirinhos viriam a ser cobertos pela lagoa artificial, gerações de trabalho penoso e heróico que se veria perdido!
Haveria ainda um túnel difícil por alturas de Roios a Meireles.
Teria de rever-se ainda o plano de estradas, perder-se-iam muitos mercados, alterar-se-ia a fácies da economia local e, somados custos, alterações, despesas e incómodos, ficar-se-ia na maior das perplexidades. Mas sem coragem resolutiva e sem prejuízos nada se faz hoje.
O plano rodoviário teria de ser, por igual, revisto, feito de novo, e conduziria não se sabe até que linha remota de consequências.
Também a navegação do Douro vai implicar desvios e novas sistematizações rodoviárias por alturas de Bagaúste e do Carrapatelo.
Recorrer a novos aproveitamentos hidroeléctricos com facilidades de atravessamento, de uma para outra margem, são novos problemas para os quais, não obstante a justificação de custos e sua compensação, Correspondem novas dificuldades sem conto.
Portanto, a primeira face da navegação do Douro tolda-se, enruga-se, vê-se contraturada por grandes preocupações, problemas técnicos e dispêndios.
A linha do Douro estaria em vésperas de graves alterações. O esforço feito pela grande administração ferroviária - tão grande que deixa a perder de vista algumas das nossas Secretarias de Estado - no sentido da melhoria técnica, da comodidade geral, da segurança e da aceleração de suplantar a penúria financeira merece louvor que, a despeito de críticas, não pode ser regateado.
Admiro aqueles que venceram as fatalidades de um passado de desmantelamento e confusão.
E que puderam renovar a via, alargar as estações, reorganizar quadros e serviços, introduzir a tracção Diesel e electrificar, dentro de possibilidades financeiras mais que medidas e das ajudas de um Estado que nunca poderia ser generoso em demasia nem liberal com excesso.
Reporto-me ao comum da regularidade e eficiência ferroviária, mas encontro um espinho, ou pelo menos uma mancha, na face clara dos avanços e melhorias.
Não quero dizer que não está bem, mas parece-me de estrita justiça e plenitude reclamar que os serviços do Douro sejam elevados tis alturas do Minho e do Sul e Sueste, cuja rentabilidade e intensidade de tráfego e coeficiente de exploração relativo não alcançam aquele.
Ora, reclamar a navegação duriense significa para alguns o abandono da linha do Douro, a sua morte aos pedaços ou, pelo menos, a sua cristalização num mínimo de despegas, construções e mais-valias.
Mas também isto não ascende aos foros de cânon absoluto.
A navegabilidade do Douro não pode aceitar-se que relegue para segundo plano ou deixe ao abandono a linha do Douro.
Impõem-se melhorias de estrutura e de serviço como até aqui.
Impõe-se a renovação das pontes, a dilatação dos patamares e das estacões, as rectificações do traçado, o abatimento do túnel da Pala.
Com estes aperfeiçoamentos, com acelerações indispensáveis, com vagões apropriados, plataformas, facilidades de embarque e tarifas proporcionadas, com um transporte aéreo ou uma declinação Carvalhal-Pocinho, o minério de Moncorvo poderia seguir até Leixões naturalmente depois de elevado o seu teor e apresentação.
Sabemos o que pode ser feito no sentido da rapidez, da eficiência, da irradiação e da modernização, porque