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2850 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 156

O Orador: - Perante a actual situação do eu sino superior, aqui tantas vezes analisada e que o Governo já publicamente reconheceu impor uma vasta reforma, mostrando simultaneamente o sen interesse e desejo de que a mesma, fosse precedida de amplo inquérito, ninguém duvida que os estudantes universitários têm justas queixas e consequentes recriminações a apresentar, as quais terão de ser devidamente consideradas pelo Governo e com a maior brevidade possível.
Simplesmente, para se não correr o risco de ver perdidas para todos as diligências que alguns alunos pretendem fazei em defesa dos seus legítimos interesses, estas devem ser conduzidas sob forma ordeira, pelas vias e métodos legais, o que, aliás, se torna fácil pelo espírito aberto ao diálogo tantas vezes manifestado pelos responsáveis, condicionado, obviamente, a interlocutores que actuem de boa fé e disciplinadamente.
Só por ingenuidade (que se não aceita em adolescentes já a caminhar para adultos) os estudantes poderão pretender que, enquadrando a defesa das suas justas aspirações num clima revolucionário de propósitos condenáveis, as autoridades académicas façam, calma e facilmente, a distinção entre o trigo e o joio, quando uns e outros, afinal, nem sequer se importam de aparecer unidos e amalgamados aos olhos de todos, contribuindo assim para a confusão, de que só podem ser vítimas os que ainda estão de boa fé.
Desta confusão, na realidade, só beneficiam os profissionais da desordem.
Mascarados, conforme as circunstâncias, de incompreendidos, ingénuos, heróis ou mártires, procuram unicamente iludir os colegas e sob qualquer pretexto provocar as autoridades, com o fim de atingirem a fase de «confrontação», que no seu vocabulário próprio quer simplesmente dizer «luta com a polícia». Luta por nós não desejada.
E, enquanto se dedicam a estas torpes manobras, impedem que os elementos verdadeiramente válidos da Universidade possam dizer ao Governo o muito que lhes compete dizer sobre os graves e inúmeros problemas do ensino superior, colaboração que o Governo não pode, não deve e não quer dispensar.
É efectivamente lamentável que alguns estudantes tenham substituído totalmente o verbo «estudar» pelo verbo «perturbar», pois nada constróem nem deixam que os outros construam.
E não meros lastimável que as direcções das associações académicas não sejam seleccionadas pelos seus eleitores de entre os melhores alunos das respectivas escolas superiores.
Há dias, numa Universidade francesa, um professor entendeu devir aproveitar a primeira aula deste ano lectivo para ler aos seus alunos alguns conselhos que declarou úteis.
Começou por afirmar que a primeira missão do estudante era estudar. Após a terceira frase de idêntico sentido que proferiu, o ruído que se estabeleceu na sala, de protesto contra princípios tão antiquados e reaccionários como aqueles, deixou de permitir a audição do resto da Leitura, que o professor, contudo, não interrompeu. Quando terminou pediu silêncio; os alunos dignaram-se deferi: o pedido e ele pode proferir e fazer ouvir a sua última frase: «Acabei de vos ler um dos capítulos do livro de Mão Tsé-Tung. (Risos). Podem sair.»
Em qualquer paralelo, em qualquer regime, o estudante que não estuda, além de ocupar indevidamente na Universidade o lugar que outro aluno válido podia e devia ocupar, não contribui para a sua própria realização, nem se torna útil a qualquer grupo social ou a qualquer facção ideológica.
Serve, quando muito, temporariamente; os propósitos dos seus mentores, numa efémera acção revolucionária ou agitadora, para depois ser por eles próprios considerado como um elemento inútil da sociedade.
E se um estudante que não estuda é, nessa qualidade, um elemento, inútil; um estudante que não estuda e não deixa estudar os colegas é um elemento nefasto.
Como, também, um professor que não ensina é, nessa qualidade, um elemento inútil, o um professor que deseduca, um elemento nefasto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E sendo, assim, não creio que a nossa Universidade possa permitir-se o dispendioso capricho de albergar elementos nefastos, e reputo caricato, para não empregar outro termo, que estes elementos, certamente já identificados pelas autoridades académicas, tentem interferir na reforma de uma Universidade, na qual não deverão ter cabimento.
Não seria, pois, dispensável esta altruísta colaboração?
Ainda a este propósito lembro que se publicou há dias no Diário do Governo a nova Lei Militar, votada recentemente nesta Assembleia. Nela se dá maior amplitude às disposições até agora vigentes, que permitem aos estudantes universitários adiar em certas circunstancias a prestação obrigatória do serviço militar.
Esteve, com certeza, no espírito de todos nós, ao aprovar tais disposições, reconhecidamente necessárias e convenientes, que elas deviam constituir um justo benefício para os estudantes que, compenetrados das suas principais obrigações, frequentem os estabelecimentos de ensino .superior com o propósito de neles obterem a sua preparação intelectual e técnica e os correspondentes diplomas.
Permito-me, por isso, perguntar se àqueles que se intitulam estudantes, mas que indiferentes ao significado desse título se limitam a ser agitadores de massas, criando com a sua actividade condicionalismos incompatíveis com a regular e tranquila preparação da generalidade- dos seus colegas, será lícito e honesto continuar a conceder o benefício Legal atrás referido e que para eles não foi efectivamente criado?
Consentir-se na concessão a alguns jovens desta injustificada regalia será realmente corresponder na retaguarda ao duro combate que antros jovens estão desenvolvendo na frente na defesa indiscutível do nosso ultramar?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não. Com certeza que não!
Sejamos, pois, coerentes com a política que afirmamos e tenhamos presente que a coerência e a sinceridade são virtudes que os jovens exigem sempre aos adultos, e com muita razão.
Em relação às questões que muito superficialmente analisei, penso, pois, que o Governo terá de realizar simultaneamente três grandes tarefas:

1.ª Resolver, com a colaboração de elementos válidos da Universidade (professores e alunos), através da anunciada reforma, os múltiplos problemas do ensino superior que se foram acumulando e agravando, sobretudo nos últimos anos:
2.ª Cuidar atentamente da formação da juventude, não descurando por mais tempo a sua tão necessária preparação política;