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19 DE DEZEMBRO DE 1968 2853

eminentemente nacional de nada valeu, ou a memória de certos indivíduos esteve adormecida durante tanto tempo?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pareceu-se de mais a amnésia de alguns, ou a má fé de outros; e, nesta Sala, como Deputado, e no dia a dia, como homem da rua, mas sempre, enquanto Deus me der vida e saúde, em qualquer parte, protestarei veementemente, preocupada e indignadamente, contra aqueles que pretendem lançar poeira nos olhos do bom povo da nossa terra, com fins inconfessáveis de denegrir toda uma obra, que para engrandecimento da Pátria foi erguida, e jamais se poderá consentir ver destruída, ou sequer contestada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «Todos não somos de mais para continuar Portugal», disse-o Salazar, e, nobremente, honradamente, o reafirmou - sem enjeitar os direitos de autor - Marcelo Caetano, quando, em 27 de Setembro, o substituiu na chefia do Governo, prestando assim pública homenagem ao seu ilustre antecessor, homem justo, patriota e isento, como ele próprio é, sem dúvida alguma.
O Prof. Marcelo Caetano, com a sua personalidade forte, a sua sensibilidade política e a sua gratidão de português, e dos melhores, quis, perante o País e perante o Mundo, manifestar a sua- adesão - já conhecida - aos princípios fundamentais do Regime, que, aliás, sempre serviu devotada e pátrioticamente.
Porque pretendem agora alguns elementos indesejáveis tentar abrir uma brecha, e que cedo pode transformar-se num verdadeiro fosso, entre dois estadista, que, embora com concepções próprias de governar, durante tanto tempo colaboraram, contribuindo para a grandeza de Portugal eterno, e redimido pela revolução de 28 de Maio?
Porque se pretende dar a impressão de que se está operando uma viragem, que, no espírito de alguns, apenas visa criar uma solução de continuidade no regime que o Presidente Salazar incarna e o Prof. Marcelo Caetano anunciou desejar continuar, para bem de todos nós? Será que duas personalidades distintas não poderão dar sequência a uma acção governativa,, tornando-a igualmente eficaz e construtiva? Não creio, e comigo não o crêem milhões de portugueses.
Sr. Presidente: Vou terminar, mas não desejo fazê-lo, porém, sem afirmar solenemente que, sem saudosismos políticos doentios, antes pelo contrário, dentro da realidade, mas firmemente, lutarei com toda a minha alma, com toda a minha fé, nesta Casa, repito, enquanto for Deputado, e em qualquer circunstância, enquanto tiver forças, por uma política esclarecida, verdadeira, construtiva, e que, não esquecendo o exemplo ímpar de um passado recente, sirva o futuro de Portugal uno e indivisível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E como eu, pode V. Ex.ª estar certo, pensa a grande maioria dos portugueses de aquém e de além-mar, brancos, pretos, mestiços, mas todos, e acima de tudo, verdadeiramente portugueses.
Como eu pensa ainda toda essa juventude heróica que em África, em três frentes, oferece, em holocausto u Pátria, a sua generosa vontade de vencer uma guerra que nos foi imposta, dando por vezes, e com a maior nobreza, a sua própria vida.
Só peço a Deus que na retaguarda não se permita a sabotagem de uma vitória que será nossa e de que não se duvida. Cuidado, porém, quando, sob o signo de uma hipotética união, se pretenda transigir! Isto sim, quando a unidade for pré-fabricada, poderá estar em perigo até o conceito do Presidente Salazar, e que o Presidente Marcelo Caetano há dias repetiu, de que «todos não seremos de mais para continuar Portugal» ...
Srs. Deputados: Não nos deixemos iludir e, embora respeitando a opinião de cada um, quando for expressa com boa fé, saibamos resistir aos demagogos, aos falsos profetas, aos reformadores feitos à pressa, aos progressistas, aos timoratos, aos ambiciosos, àqueles que querem, em suma, negar o passado, gozar o presente e preparar o seu futuro!
Unamo-nos em torno do venerando Chefe do Estado, esse português admirável, esse homem bom, justo, exemplo de civismo, de serena e firmo reflexão, e de sábia e sã determinação de levar a bom termo, e em toda a sua extensão, o mandato que o País, em boa hora, lhe confiou.
Juntos, à sua volta, apoiaremos quem S. Ex.ª escolheu para prosseguir pelos caminhos que tornaram. Portugal, através das suas virtudes, exemplo ímpar neste Mundo em derrocada, e onde a descrença atingiu já as bases de uma civilização que todos supunham indestrutível!
Sr. Presidente: Creio e confio nos destinos da nossa pátria e nos homens a quem foi dada a suprema honra de a servirem no mais alto nível. Quero também acreditar em alguns outros, que só por desorientação ou «zelo excessivo» poderão actuar cegamente, esquecendo, porém, que a melhor forma de colaborarem não será nunca destruir o que está feito. Quando se deita um edifício abaixo há que saber primeiro como reconstruí-lo depois!
Passada, porém, esta euforia de renovação, e adaptado o Regime a uma nova concepção governativa, quero crer que todos nos uniremos para continuar Portugal: os que se mantiveram firmemente fiéis aos princípios que o próprio Chefe do Governo perfilhou, desde o início, e aqueles que pecam, principalmente ... por excesso de velocidade. Só assim poderemos ser «dignos dos nossos mortos», slogan que uso constantemente, talvez porque entre eles se encontra, a par de tantos bons e generosos jovens, o meu filho mais velho, caído pela Pátria, no Norte de Angola, e eu desejar tanto, e em tudo, ser digno do seu exemplo ...
Sirvamos todos Portugal, mas percorrendo caminhos que não se afastem do mesmo objectivo: actualizar as estruturas da Revolução Nacional sem atingir os seus alicerces nem minimizar os seus obreiros.
Assim entender-nos-emos; assim, por certo, triunfaremos. De contrário, correremos o risco de arrasar quarenta anos de esforço, de paz, de progresso e de êxitos. E o País ficaria irremediavelmente mais pobre, e, dividido, caminharia para a sua autodestruição, tão temerosa como aquela que há dias o Sumo Pontífice denunciou e que constitui o maior perigo que ameaça a igreja católica.
Saibamos, na adversidade, ser dignos de nós próprios, e Deus também nos ajudará!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Albino dos Reis: - Sr. Presidente: V. Ex.ª dá-me a palavra?

O Sr. Presidente: - V. Ex.ª pede a palavra para explicações?