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18 DE JANEIRO DE 1969 2973

Respondo:

O mais belo investimento de recursos e a mais promissora sementeira de esperanças é o de pôr todo o português a sentir, a pensar e a falar integralmente como português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para que todos, com a ajuda de Deus, possamos, sob a orientação esclarecida e unitária dos nossos actuais dirigentes e a uma escala verdadeiramente nacional, alcançar a vitória. Vitória "através da qual", como disse a grande voz da política nacional, "não queremos senão continuar na paz n Nação Portuguesa".

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Barros Duarte: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Todos os ilustres oradores que na actual sessão legislativa me precederam nesta tribuna se têm referido com merecido relevo a dois factos de grande relevância na vida nacional portuguesa, ocorridos durante o mês de Setembro do ano transacto. Quero referir-me às graves doenças e consequente afastamento da vida política do Presidente Salazar e à sucessão no cargo do Prof. Doutor Marcelo Caetano.

Nada poderia eu, meus senhores, sem estultícia, acrescentar à eloquência c autoridade dos depoimentos que já aqui tivemos a ventura de escutar com a maior atenção. Gostaria, no entanto, Sr. Presidente, me fosse permitido revelar, desta tribuna, a todo o País o estado de alma das gentes simples da nossa mais longínqua província ultramarina, quando as feriu também a elas a dor de saberem gravemente enfermo o Presidente Salazar. Esse estado colectivo de alma traduziu-se, com singela eloquência, neste simples desabafo com que humildes estivadores timorenses do porto de Díli quiseram espontaneamente sublinhar o triste acontecimento:

O homem grande Salazar está doente! ... Coitado! ... Ele é como que o nosso avô! ...

"Nosso avô" - versão superlativa de "Pai da Pátria", poder-se-ia afirmar. Este meus senhores, é o depoimento dos povos de Timor. Expressão singela da sua enorme gratidão e estima pelo homem que consumiu quarenta anos da sua existência a redescobrir e restaurar a alma nacional, a esculpir o monumento grandioso de um Portugal moderno, mas fiel à sua própria história.

Sobre a sucessão na chefia do Governo pelo Sr. Prof. Doutor Marcelo Caetano, apenas posso falar de uma atitude ou virtude que, à força de trinta e três anos de convívio com populações muito simples em terras de missão, se me tornou já muito familiar e muito querida. Estou a pensar na modéstia com que o ilustre mestre catedrático e esclarecido estadista se categorizou entre simples "homens como os outros" no seu notável discurso de posse e na humildade do gesto e da linguagem com que se quis aproximar do comum dos portugueses na sua recente mensagem ou comunicação ao País através das câmara da R. T. P.

Se a humildade é outro nome da verdade, bem haja quem assim a pôde exemplificar. E se a modéstia e a simplicidade são timbre dos espíritos superiores, bendito Deus, que o Governo da Nação não perdeu altitude.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Tem-se, no decurso do presente debate, verificado um interesse cada vez maior da Câmara relativamente ao aviso prévio sobre a expansão da língua-pátria no ultramar português, da autoria do ilustre Deputado Dr. Henriques Nazaré, a cuja inteligência, amor à verdade, intrepidez de atitudes e espírito humanitário rendo sinceras homenagens. E se razões intrínsecas, muito fortes, não houvesse para um convencimento imediato da importância e oportunidade do presente aviso prévio, bastaria aquele interesse geral, insistente e sério, da mais alta Assembleia da Nação para desvanecer qualquer duvida mais remissa a esse propósito. Um interesse que se foi afervorando em devoção patriótica pelo idioma pátrio, voz de ura grande povo com passado, presente e futuro.

Soam-me ainda nos ouvidos os belos acordes daquela verdadeira sinfonia da língua com que, há bem poucos dias, nos maravilhou a todos, certamente, o Sr. Dr. Veiga de Macedo, a quem o País ficou já a dever um muito maior conhecimento da sua língua escrita e a quem eu tributo o maior respeito, admiração e estima.

A língua, meus senhores, é expressão da própria vida de uma colectividade. Por isso mesmo é força, como também a vida é força. Mas, pelo mesmo facto de que a língua é expressão da vida, o idioma de um povo só pode mover-se na direcção da própria vida. Quer dizer: na direcção de necessidades e exigências da própria natureza, e actuar no sentido de uma permanente adaptação à vida, que procura, por instinto indefectível, a sua conservação c aperfeiçoamento no tempo e no espaço.

Deste modo, a relação língua e vida não pode embeber-se de outro sentido senão de que a língua existe em função da vida e não esta em ordem àquela. Esta proposição admite uma outra versão: a língua está ao serviço do homem, e não este em razão dela. E é nesta acepção que ela se torna símbolo e factor vigoroso de unidade política e se apresenta como a via mais curta e mais larga para a promoção integral de populações ainda em vias de desenvolvimento.

Unidade política e promoção social ou cultural - dois valores que bem podem justapor-se apenas em plano de igualdade ou simultaneidade, ou sobrepor-se um ao outro numa linha de subordinação de um em proveito do outro.

O ponto de equilíbrio neste confronto de valores não pode ser procurado senão na mais elevada noção da dignidade humana, na sensibilidade da nossa consciência de cristãos e na consagração da nossa história de nação civilizadora de povos e evangelizadora de almas.

Mas promoção pode ser assimilação ou evolução diferenciada. Aquela contém cm si um princípio coesivo de personalidade colectiva. O seu processo é gradativo, normalmente, forçosamente lento, mas seguro. A evolução diferenciada que se lhe contrapõe caracteriza-se, sobretudo, pelo gosto ou instinto de movimento, talvez ao ritmo da vertigem, num exarcebado ou permanente insofrimento perante a lentidão da própria história. E pode bem acontecer que, buscando refugir à morosidade dos processos de assimilação, venha o desejo incontido de uma rápida promoção social das massas populacionais nativas a optar por uma evolução diferenciada, susceptível de se precipitar em medidas violentas, revolutivas ou subversivas de valores tradicionais daquelas mesmas populações.

E não se pode facilmente ocultar um sinistro pressentimento de que numa evolução diferenciada assim definida se ocultem formas diversas de imaturidade não isentas de graves riscos.