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1654 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 82

passado a recordação de outras reformas pequenos, insignificantes ou nulas.

Não é o ensejo nem o lugar de prosseguir nesta tema, mas não deixo de tocar em dois ou trás pontos que explicam em parte o inacostumado Interesse provocado pelas providências tomadas pelo Ministro da Educação.

E claro que, quando falo de interesse, refiro-me às concordâncias, as objecções e as críticas, mesmo às críticas demolidoras, se as há, pois, desde que a apreciação é livre, tonto direito tem de falaz o que aprova tudo como o que tudo rejeita. Assim é que entendo a liberdade de opinião, que de forma alguma é a simples faculdade de aprovar ou discordar sob condições. À uniformidade de opinião prejudica a cultura dá inteligência e de saber, sobretudo quando resulta de um controle previamente estabelecido. No domínio do pensamento os monopólios asfixiam a capacidade criadora.

No discurso proferido há dias pelo Ministro da Educação Nacional permito-me assinalar a passagem respeitante à Urgência que o Prof. Veiga Simão tenciona imprimir à execução da reforma.

Com plena consciência da aceleração dos factos e das ideias, própria dos nossos dias, sente o tempo fugir-lhe perante o magno empreendimento a que se lançou. "Temos de caminhar com segurança", diz o ilustrado Ministro, emas acompanhando a velocidade das transformações que se operam por esse mundo fora em todos os sectores da vida dos povos. A unidade de tempo para situar as coisas "reduziu-se de tal modo, os atrasos que importa recuperar multiplicam-se sempre em progressões de tal razão, que todos os momentos contam."

Eis uma linguagem que gostávamos de ouvir repetida noutros domínios da actividade nacional, a ver se nos acabam de pregar que a velocidade do progresso é a nossa perdição.

No mesmo dia, no discurso que pronunciou ao tomar posse do cargo de director da Faculdade de Medicina, disse o Prof. Cândido de Oliveira:

A Faculdade de Medicina de Lisboa já há muito não comporta o número de alunos que a frequenta. É preciso que urgentemente se faça outra ou mesmo outras, a exemplo do procedimento das metrópoles civilizadas por essa Europa fora.

Aqui está apontada, por quem possui qualidade para isso, a situação de angústia que se experimenta na Faculdade de Medicina de Lisboa: excesso de alunos relativamente aos meios pedagógicos sem falar de outras causas e deficiências bem conhecidas.

Há semanas defendemos aqui a fundação de uma nova Faculdade de Medicina, aproveitando, para o efeito, o hospital que se projecta edificar no Restelo. À nossa apagada voz junta-se agora a palavra autorizada do novo director, que não descortina outra solução paro o congestionamento da Faculdade, a não ser uma ou mais Faculdades novas.

Entretanto, enquanto se aguardam as decisões das instâncias supremas, o ensino degrada-se. As matrículas na cadeira de Anatomia, em Lisboa, avizinham-se dos dois milhares, Para esta imensidade dá estudantes existe um único professor catedrático. Será preciso fazer comentários?

Em confronto com a "velocidade das transformações que se operam por esse mundo", como se tornam visíveis os atrasos acumulados!

Para resolver esta contradição faz falta um ideário que interprete as realidades nacionais h luz do presente, e não do passado, projectando no futuro a imagem da nova sociedade que esperamos.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Jorge Correia: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quem pela primeira vez visite esta faixa do País para aquém de cordilheira constituída - pelo Caldeirão e Mon-chique, certamente se impressionará de encontrar um território pequeno que sob o nome de Algarve contém uma diversidade imensa de paisagens, climas, gentes e falas!

A própria corografia o subdivide em Barlavento e Sotavento, com as suas características climáticas e ecológicas bem diferenciadas: a atlântica e a mediterrânica.

Esta província., célebre hoje em todo o Mundo como das mais apetecíveis estâncias de férias, pela garridice e policromia das suas paisagens, pela lhaneza do seu povo, pela suavidade dos seus (poentes, peia doçura do seu clima, pela maciez das suas incomparáveis praias e ainda pela inebriante inspiração dos seus capitosos vinhos, tem, para além. de tudo isto, uma vida espiritual intensa e muito própria.

Pululam os contemplativos, os poetas, os bailadores, os músicos e os trovadores jocosos dos seus inconfundíveis bailes mandados!

Ë neste ambiente paradoxal, de longes luminosos e meditação, ide cor e agitação fremente da Natureza, e, por isto mesmo, tão propício a todas as manifestações estéticas e espirituais, que têm desabrochado no alfobre algarvio os valores mais díspares, desde os santos, mártires, heróis, autistas, sábios, estadistas, aos poetas e prosadores dos maiores - da língua portuguesa!

Hoje, Sr. Presidente e Srs. Deputados, ergo a minha voz modesta e despretensiosa, mas que eu quisera ilustre apenas para estar à altura da evocação das duas figuras que pretendo salientar e homenagear nesta Casa, onde, a par da viva agitação dos problemas que nos preocupam dia a dia, não fica mal a serena contemplação daqueles que, libertos já da ganga que os materializou, de alguma maneira nos deram o exemplo da sua vida ou a lição dos seus testemunhos e de uma maneira ou de outra forma iluminaram a sua época com o esplendor da centelha com que Deus o distinguiu!

Duas personagens notáveis, a quem não foram prestados ainda as honras devidas e o preito da nossa profunda admiração e respeito. Duas figuras singulares, que por caminhos inteiramente diferentes atingiram o zénite da sociedade portuguesa.

Uma consumiu-se numa existência de asceta, alcandorando-se pela renúncia e humildade cristã aos paramos da santidade!

A outra, numa ânsia de conhecimento e embriaguez estética, levou uma vida de nómada e epicurista, erguendo-se ao sorne da fama pelos primores de uma cultura humanística pujante e requintes de uma sensibilidade de artista!

Uma e outra são dignas que nós, simples mortais, que nada possuímos que nos liberte dessa condição, assinalemos a sua passagem luminosa pela Terra, que aqueceram com o brilho dos seus invulgares merecimentos!

A primeira dessas figuras a que venho a referir-me vai o Algarve inteiro prestar condigna consagração no dia 17 de Abril próximo, data em que faz um século que nasceu em Tavira D. Marcelino António Maria Franco, que viria a ser sagrado bispo da sua própria diocese.