O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

FEVEREIRO DE 1971 1655

Fez os seus estudos no Seminário Diocesano de S. José, em Faro, sempre com distinção, quer nos preparatórios, quer mo curso (teológico, que concluiu em 1891).

Pelo seu fino trato, simplicidade natural, porte exemplar, amor ao estudo, à disciplina e à oração, conquistou a estima, a consideração e o respeito dos colegas e superiores.

Em 1898 foi ordenado sacerdote por D. António Mendes Belo e a 26 de Novembro do mesmo ano celebrou a sua primeira missa ma artístico. Capela de Nossa Senhora do Carmo, da sua cidade matal!

Em 1908 era nomeado cónego honorário, passando a capitular em 18 de Agosto de 1915, e por motivo da transferência do Sr. D. António Barbosa Leão paro o Porto é escolhido para vigário capitular, até à sua nomeação para a Diocese do Faro, em 15 de Maio de 1920, por decreto do Papa Bento XV, vindo a sagrar-se bispo em 18 de Julho do mesmo ano.

Foi íntimo e devotado colaborador de dois prelados seus antecessores, D. António Mendes Belo e D. António Barbosa Leão, o primeiro elevado à dignidade de Patriarca e Cardeal de Lisboa e o segundo transferido para a Diocese do Porto.

Durante o cativeiro deste último, após o advento dia República, foi ele quem manteve viva a chama da fé no Algarve, amparando os poucos alunos que ficaram e recrutando outras, aos quais, com, a ajuda de alguns sacerdotes, ministrou o ensino em casas particulares, até que, regressado o prelado do exílio, o Seminário se instalou no edifício próprio, que fora ocupado pelo Regimento n.º 88, de Faro.

De suas próprias mãos lhe arrebataram as chaves do Seminário e do paço episcopal, não as entregando voluntariamente para significar que estes edifícios eram propriedade da Igreja, e não do Estado.

Criador e impulsionador de inúmeras obras religiosas, foi defensor acérrimo dos direitos da Igreja, pelo prestígio da qual lutou uma vida inteira como gigante, pelo exemplo imaculado de amor ao próximo e de uma vida profundamente devotada a Cristo

Faleceu em 8 de Dezembro de 1055 e foi inumado na cripta da Sá de Faro.

De compleição franzina e ar de místico, mais parecia um coruchéu gótico a evomar-se para os céus em permanente prece, numa espiritualização da própria matéria, inspirando a todos sentimentos piedosos dimanados da sua santidade.

E hoje, poucos anos depois da sua morte, a sua efígie anda já pelos oratórios e pelos sacrários mais humildes dos lares algarvios, iluminada pelo bruxulear das chamas votivas daqueles que se sentem confortados com as suas graças de taumaturgo.

Se de entre as suas virtudes tivéssemos de salientar alguma, eu diria que a humildade foi aquela que com naturalidade e sem o mais insignificante esforço se sublimou naquele homem, cuja parcela material era ínfimo suporte de uma grandeza de alma e de uma fé inexcedíveis!

Justo é que os Algarvios, e, de entre estes, com particular razão, os tavirenses, quisessem perpetuar no bronze e para todo o sempre o pastor que em vida lhes deu o maior e mais dignificante exemplo de amor e humildade.

A segunda personagem que aqui recordo, se não exala o perfume da santidade que sublima, glorifica-a a auréola de mártir imolado em holocausto à República que tanto amou e (serviu com intransigente aprumo e fidelidade.

Refiro-me a Manuel Teixeira) Gomes, essa figura varonil de porte distinto e maneiras requintadas, servida por uma das mais curiosas e sensíveis celebrações do nosso tempo!

Homem de (cultura invulgar, conhecia-a pelo estudo e pelo contacto directo com os centros donde irradiaram as diferentes civilizações 6 aqueles que de qualquer maneira guardam ciosamente as relíquias e vestígios desses tempos.

Visitou-os infatigavelmente durante muitos anos, bebendo e assimilando em haustos profundos de contemplação e meditação numa imoderada ânsia de saber e irrefreável sede inata de emoção!

Foi ao mesmo tempo um diletante e um homem de negócios que deste amalgamo soube tirar a lição de equilíbrio - que a si próprio impôs mesmo nos mais graves momentos da sua vida.

Primeiro embaixador em Londres da incipiente República durante treze anos, num dos períodos mais conturbados da Europa prestes a entrar em guerra, deve os seus indeléveis êxitos diplomáticos e, consequentemente, os mais relevantes e patrióticos serviços ao País, a sua vincada personalidade, à irradiante simpatia do seu fino trato, a sua superior inteligência e à experiência vivida em contactos com os mais variados povos.

De Londres, e verdadeiramente instado pelo Partido Democrático, volta a Portugal, num cruzador que n cortesia britânica, numa demonstração do mais - alto apreço pelo ex-ministro, pôs à sua disposição para o regresso, a fim de ocupar a mais alta magistratura da Nação, lugar que exerceu com inexcedível nobreza de sentimentos e verdadeiro sentido das responsabilidade que impendem sobre um Chefe de Estado!

Tentou mais de uma vez congraçar os políticos desavindos por ódios, dissídios e paixões, que se mostraram insanáveis, apesar dos seus hercúleos esforços de conciliação.

Baldadas tantas instâncias, preferiu renunciar a amoldar-se a exigências partidárias, ou trilhar caminhos ínvios que brigassem com a Constituição, que jurara solenemente defender.

Passados vinte e seis meses, quero crer, não por falta de firmeza ou quebra de fé nos destinos da Pátria, mas pela repulsa incoercível que os interesses inconfessáveis dos políticos de então lhe causavam, e que deterioravam inexoravelmente o País, exilou-se voluntariamente para, no remanso e total afastamento da intoxicada atmosfera de Lisboa, poder dedicar-se aos seus escritos e a meditação da sua romanesca existência, tão fértil de episódios saborosos de flagrante oportunidade.

Mas Teixeira Gomes não foi apenas o político, o Presidente da República, facto que só por si lhe outorgaria foros de imortalidade, foi, para além disso, o artista que tão bem nos soube transmitir, numa linguagem plena de expressão, os reflexos da sua delicada sensibilidade, o romancista de inconfundível talento, e o mais impressionista de quantos pintaram na literatura portuguesa!

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sem de qualquer forma me vestir com a presunção de ter traçado os perfis destas duas relevantes figuras da vida portuguesa, pois para tanto não só me faltaria o engenho como o conhecimento de tantos sucessos e pormenores das suas vidas, sem os quais toda a apreciação seria imperfeita, quis apenas, com largas e descoloridas pinceladas, aproveitar o ensejo de os lembrar neste selecto areópago e prevalecer-me desta oportunidade para agradecer na pessoa do presidente da Câmara de Tavira, que ainda sou, embora por poucos dias, ao Governo a sua magnânima ajuda que vai tornar possível A consagração a D. Marcelino Franco. Desta mesma tribuna quero ainda cumprimentar e felicitai- as louváveis iniciativas particulares pró-monu-