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2370 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 117

sição de Carvão e fosforites, com grande benefício para a produção de ferro e fertilizantes, possivelmente em termos concorrenciais europeus.
Este ou outro programa de valorização das pirites sómente será viável se existirem instalações portuárias que permitam a carga rápida de grandes navios mineraleiros capazes de levar as pirites [ou os seus produtos] a toda a parte, a preços Competitivos com os praticados pelos outros grandes produtores mundiais: (Espanha, índia, Rússia e China.
Existem bons exemplos em território português de soluções deste tipo. Assim, para aproveitarmos os minérios de Cassinga construímos o Porto Salazar. [...] Em Lourenço Marques dispomos de instalações de carga de minérios à altura de satisfazerem as exigências da exportação dos países vizinhos e outro tanto sucede no Lobito.

Em contrapartida, na metrópole até tivemos uma ponte de ramal ferroviário a embargar os acessos marítimos dos minérios aos cais da Siderurgia Nacional. Foi preciso que uma barcaça desse um pouco mais de flanco para o problema de algum modo se resolver. Faltam agora aos cais do Seixal (ou outros) maiores fundos praticáveis.

As iniciativas que já realizámos indicam-nos o caminho a seguir, com a vantagem, de a solução à vista ser mais fácil do que as de África. De facto, à generosidade do subsolo junta-se, no caso que agora nos ocupa, a da costa marítima, que a curta distância das minas limita, no Atlântico, a faixa piritosa alentejana.

Por outro lado:

A atribuição à actividade mais rendosa e de lucro à vista - a petrolífera - da parte dos encargos das obras de realização imediata e de interesse comum poderia talvez ser solução a encarar - e não seria inovação - para se dar começo à realização do empreendimento.
O aproveitamento e industrialização dos- minérios, originando um sem-número de actividades e as mais vastas e benéficas repercussões económicas e sociais, representam objectivos que de forma ímpar correspondem aos desígnios do Governo em matéria de desenvolvimento geral e regional.
Um verdadeiro porto como o sugerido serve igualmente tal política e é essencial para que as valiosíssimas riquezas naturais do País não continuem a jazer no seio da tenra, quantas vezes - e tantas têm sido- ao sabor do interesse alheio.
A conjugação com o terminal dos petroleiros poderá constituir uma contribuição decisiva pára a construção do porto mineraleiro e para tornar em radiosa realidade o aproveitamento dessas riquezas.

Assim escrevera, há tempos, o articulista que venho de citar.
O sonho está em vias de tornar-se realidade.
Mas não são apenas razões dessas que militam a favor do porto mineraleiro, da indústria petrolífera e do importante centro urbano que se anuncia para os termos de Sines.
Razões demográficas as assistem, e não poderíamos calá-las.
A população alentejana no início do século XVI andaria por 317 000 almas, o que representaria cerca de 30 por cento da população do continente.
Com uma densidade de 15, superior à então anedie. geral de 13 habitantes por quilómetro quadrado, o Alentejo seria, ao tempo, espaço relativamente bem povoado de gentes.
Mas logo a população «estagnou, e depois diminuiu, como a de todo o País [...], em consequência da sangria das conquistas, das viagens marítimas e do povoamento da Índia e do Brasil.
Estas causas, a inospitalidade do clama e o regime da propriedade», afirmou-o o então Subsecretário dias Obras Públicas ao inaugurar, em 1964, um ciclo de conferências sobre o Plano de Rega do Alentejo, «explicam que há um século o Alentejo contasse apenas 342 000 habitantes, ou seja, praticamente, o mesmo do século XVI», apesar de a população do continente ter bem mãos que triplicado.
Ao contrairmos no século XX, a população «de facto» dó Alentejo já subira paira 445 milhares de habitantes e, decorridos mais sessenta anos, acresceu de 285 000, dos quais 200 000 correspondem - números redondos - aos anos de 1920 a 1940.
Deu-se assim, com o desbravar dos matorrais dessa «planície heróica», fenómeno bem nítido de atracção de gentes e de fixação de «seareiros».
Mas o esforço quebrou, a continuidade perdeu-se, as gentes cansaram-se na incerta labuta pelo pão de cada dia; e a população estabiliza ou retrograda na quase totalidade dos concelhos.
O acréscimo - 64 por canto desde o início do século e até ao recenseamento de 1960, como haveríamos de afirmar em outra conferência desse ciclo (1) - não se processou uniformemente ao longo da terra alentejana.
A bordadura litoral que acusa no clima, na vegetação, nos diferenciados usos e costumes, como nos próprios habitat e psicologia social, influência diversa, incontestavelmente marcada pela proximidade atlântica e por contacto com formas algo diversas de civilização, regista maiores índices de crescimento populacional que a faixa intermédia, e esta maiores acréscimos que a mancha transtagana mais dobrada ou vizinha da raia.
O fenómeno -que assume, aliás, foros de quase universalidade com o preferente encaminhar-se das populações do interior para o litoral e das montanhas ou colinas para as planícies - é facto que deve ter-se em conta no estabelecimento de qualquer política de planeamnto regional.
Mas o acréscimo da população alentejana encontra-se fortemente comprometido por evolução demográfica mais recente, de que se não deixa de referir aspecto bem sintomático: a população presente do Alentejo diminuiu de 40 000 habitantes na decaída de 50, talvez de 150 000 em estimativa que apressadamente traçámos para a década de 60. Mas muitos mais partiram se lhe houvéssemos juntado os saldos fisiológicos entretanto verificados.
Vão-se assim embora as gentes que, em passado recente, tão apegadas à sua terra, ou letárgicos à partida, se tinham afirmado. E atingidas por esse mal endémico que se alarga, aliás, à quase totalidade da terra portuguesa: o êxodo rural, facultam as migrações humanas quadros de autêntica «debandada» que os saldos fisiológicos não conseguem suprir - também eles se consomem na voragem das partidas.
Assim se explica o amortecer do crescimento, a posterior estabilização e o mais recente retrocesso da gente alen-

(1) ALARCÃO, Alberto do - População, Mão-de-Obra, Emprego no Limiar do Plano de Rega do Alentejo. Lisboa, Ordem doe Engenheiros, 1964. (Memória n.º 198.)