O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3 DE JULHO DE 1971 2371

tejana: dos 30 por cento da população do continente no alvorecer do século XVI chegar-se-á hoje a 8 por cento?
Em boa hora novas actividades económicas procuram as terras do além-Tejo, cidades-centros urbanos de apreciável grandeza se anunciam para a zona de Sines.
Bem útil o será, até para dar cumprimento ao disposto no n.º 1.º-A do artigo 8.º da nossa Constituição, em que se reconhece «o direito ao trabalho, nos termos que a lei prescrever». Mas não deverão os direitos das gentes nacionais à vida e ao trabalho estar, de algum modo, acima dos simples interesses materiais estranhos dos detentores de «alheias» concessões? (No sentido de «distantes», v. nomeadamente Dicionário de Cândido de Figueiredo.) Também isso é política, e não se dirá que se não trate de política nacional.

O Sr. Correia das Neves: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Correia das Neves: - Sr. Deputado Alarcão e Silva, eu, como vosso colega, representante do círculo de Beja, que o mesmo é dizer da quase totalidade do Baixo Alentejo, não posso deixar passar a oportunidade para registar o meu grande apreço pela intervenção de V. Ex.ª
Não é V. Ex.ª um alentejano, não tem responsabilidades especiais na defesa dos interesses do Baixo Alentejo e do Alentejo em geral, aqui, na Assembleia. Mas, homem profundamente estudioso, como se tem revelado, pôde V. Ex.ª equacionar, com clareza, os mais graves problemas dessa grande província portuguesa.
Estou com V. Ex.ª, quanto às apreensões que apresenta. Estou também de acordo com V. Ex.ª, quanto a que o porto de Sines, e todo o empreendimento industrial que o Governo se propõe levar a cabo, trarão, com certeza, grande desenvolvimento a toda essa vasta área.
São esses realmente os votos que formulo.
E, já agora que V. Ex.ª estava a focar em especial o aspecto social, que sempre se prende com empreendimentos dessa natureza, também peço, especialmente ao Governo, como superior orientador da economia, que desse grande empreendimento - que o vem a ser com certeza - resulte o melhor proveito social, mão só parta as populações do Baixo Alentejo, que vivem um quadro realmente carregado, como poma o colectividade em geral.
Muito obrigado pela oportunidade que me deu.

O Orador: - Agradeço ao Sr. Deputado Correia dias Neves as palavras gentis que fez o favor de aduzir e comungo igualmente dos mesmos sentimentos quanto às preocupações sociais idas populações alentejanas.
Não sou, evidentemente, alentejano, nem por nascimento nem por residência, mas durante muito tempo trabalhei no Baixo Alentejo e, felizmente, percorri-o de uma ponta à outra».
Fadado o litoral alentejano para o processo de arranque do desenvolvimento económico e social, razões de fundo não encontramos para que o adensamento dos gentes das tenros da Maia à seara da Arrábida se não prolongue para sul, ia cominho ido Algarve, nas rotas do Sol.
Boa hora o trouxe, boa hora o levou, ao Sr. Presidente do Conselho, a tetras do Baixo Alentejo litoral, dirão suas gentes ... ia nós com elas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Peres Claro.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: Artista plástico nosso, em desenhos que fazia em certo semanário, de crítica a acontecimentos citadinos ou mesmo nacionais, punha sempre, nas mais incríveis posições, às vezes exigindo busca cuidada mas sempre satisfeita, um senhor de chapéu na cabeça e bigodes de retorcer, a quem ele chamava «o Sr. Parece-Mal». Era um símbolo nacional, símbolo de um pudor, quase subserviência, que nos é atávico e tanto nos faz perder como gente e como nação. O que venho aqui dizer andava há muito comigo, há longos meses, na esperança de vir a deitá-lo fora, por sem razão. Mas hoje, exactamente - e adiante direi porquê -, matei dentro de mim «o Sr. Parece-Mal» e aqui estou.
A nossa juventude está em três frentes de combate, defendendo nelas a integridade da Pátria, contra forças vindas do estrangeiro, treinadas e mantidas por estrangeiros. A nossa juventude está na guerra há dez anos e não se vislumbra que o deixe de estar em breve. Pergunto: Como é preparada a nossa juventude para a guerra? Responder-me-ão que nos quartéis o fazem e muito bem. E eu confirmo, mas direi também que, para se fazer um soldado resoluto por consciência do dever que lhe incumbe e das qualidades que tem, não basta pegar num jovem na casa dos 20 anos, dar-lhe durante dois meses intensiva preparação física e psicológica e desembarcá-lo a seguir nas praias africanas. Isso não basta. Se a nossa juventude vai para a guerra, tem de ser educada para a guerra, pareça isto mal a quem parecer. A realidade é esta. Esquecê-la ou desprezá-la não será bom serviço prestado à Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sou contra as guerras; nós todos, estou certo, somos contra as guerras. Make love, not war! - amem-se, não se matem! - não é apenas o grito dê presença de um grupo que fez do amor livre a bandeira da sua revolta contra as leis da sociedade dos homens. É também a palavra serena e permanente de Cristo, na proclamação da identidade divina dos homens: «Amai-vos uns aos outros!» Nós estamos neste país em espírito cristão. Mas uma coisa é a atitude filosófica perante a vida e outra a realidade da própria vida. Nós estamos em guerra. Guerra que não procurámos, todos lançados nos caminhos de um viver melhor em entendimento comum. Guerra que se faz no emaranhado das selvas, entre campos de minas, por sucessivas artimanhas em que os homens têm de chamar a si as qualidades que a Natureza deu aos animais, para eles poderem escapar às armadilhas da luta pela vida. Quando dantes as guerras se faziam em grita de cavaleiros e peões à carreira pela «terra de ninguém» ou de todos; quando dantes se faziam as guerras com o avanço de batalhões cerrados ao rufo dos tambores e ao grito dos clarins, bastava, mas era imprescindível, que os homens - como então D. João I aconselhava - martirizassem o corpo em exercícios físicos, adestrassem o braço no manejo da arma, fortalecessem o ânimo para as privações. Isso bastava, que os desfalecimentos ida vontade se revigoravam no roçar dos companheiros ou na embriaguez heróica da carga sobre o inimigo. E para as pequenas cobardias havia sempre uma segunda fila. Muito mudou, porém, o modo de guerrear dos homens. A luta de guerrilhas em que toda a guerra se transformou responsabiliza individualmente o soldado.