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8 DE ABRIL DE 1972 3529

Por si só, suponho que todos pensaremos que não. Às evoluções, mais do que as leis, fazem-nas os homens e o nosso futuro industrial há-de depender, primeiro, do nosso esforço e, depois, da maneira como nos soubermos adaptar às novas condições da economia mundial. Remar contra a maré é sempre vão e perigoso.

Uma coisa é certa: não podemos continuar a raciocinar à base dos espaços fechados e defendidos de até agora, dos estratos definidos e impermeáveis. O signo hoje é de dinamismo. Tudo o que é estático fez o seu tempo: defesas pautais ou condicionamentos.

Para mira tenho que as idades da história necessitariam agora de nova reformulação. Que Roma ou Constantinopla tivessem caído, parece-me que, para nós, homens do século XX, define muito pouco. Se houvesse de ser eu a compartimentar, pois compartimentaria primeiro pela invenção da escrita, depois pela difusão da imprensa e agora pelo desenvolvimento da televisão. Parecer-me-ia mais correcto. Hoje, mais do que nunca, são as ideias que comandam o Mundo.

Estamos, desde há poucos anos, mima nova viragem da história. Em frente de nós já podemos ver e seria indesculpável que não víssemos ou não quiséssemos ver.

Se ponho assim as coisas é só para afirmar a minha convicção de que o Mundo em que havemos de viver há-de ser profundamente diferente daquele em que temos vivido e que, se não nos quisermos tornar desenraizados ou marginais, teremos que nos mentalizar para novos dias.

O condicionamento industrial nasceu noutra época, em que podia e até. devia ser, quando a Europa estava ainda longe e carecida, quando as distâncias eram ainda barreiras. A tecnologia de então não era a tecnologia de hoje e o 'gigantismo das empresas desse tempo seria irrisório agora. Faltava uma evolução que só muito sacrifício e, infelizmente, muito sangue consentiram.

No entanto o tempo fez o seu tempo e hoje seria néscio querer conservar barreiras que os outros já abateram, querer fundar esperanças industriais sobre os mercados que temos a mão, seguros pelo Diário do Governo, na pequena dimensão que consente a nossa dimensão económica.

Por que preço ficaria cada uma das mil peças que fabricássemos em comparação com cada uma dos milhões que os outros fabricariam?

Há uma economia de escala que teremos que aproveitar se quisermos sobreviver. Economia de escala que, justificando fabulosos investimentos, não podemos combater já nem com as distâncias que nos separam, nem com o pretenso baixo preço da nossa mão-de-obra. Como combatíamos até há pouco ...

Quereremos nós apesar de tudo, continuar com uma economia de estufa?

Meus senhores, a resposta a esta pergunta poderemos dá-la pela coragem ou pelo receio com que aceitarmos os preceitos da proposta que temos em discussão.

Nada costuma ser pacífico na economia dos nossos tempos e não o será, por certo, a aplicação dos novos princípios. Mas, quase por absurdo, não temos outro caminho ... é o caminho que os outros já seguiram.

Às políticas industriais dos países com que convivemos ou, mais tarde ou mais cedo, teremos que conviver regem-se por diplomas semelhantes. Quereremos nós ou poderemos nós conservar estatuto e meios de acção diferentes?

Não se negam as dificuldades imensas que se podem prospectar. À luta será muito dura e, desabituados destes

campos de batalha, vamos sentir sem dúvida na nossa carne o pouco apoio e a pouca experiência que temos tido.

E um dos mais sérios obstáculos que vejo: a deficiência gritante da cobertura comercial com que podemos contar aos mercados em que teremos que combater. Isto independentemente de uma palavra de muito louvor, que é justo aqui deixar, â boa vontade e ao esforço, sobretudo nos últimos tempos, do Fundo de Fomento da Exportação.

Mas, já o disse e tenho repetido vezes sem conto: temos magníficos comerciantes, mas, até hoje, os nossos comerciantes, com pouquíssimas e honrosíssimas excepções, têm preferido sempre vender-nos a nós, no nosso restrito mercado, quantas vezes só ou quase só produtos estrangeiros, a aventurarem-se no mar largo da concorrência internacional, procurando colocar noutros mercados produtos que portugueses fizeram. Isto justifica, em boa parte, os 18 milhões de contos do nosso déficit comercial em 1970. O número, por si, diz tudo.

Precisamos, repito sem me cansar, de uma cobertura dos mercados externos que contrabalance, em toda a medida do possível, o comércio estrangeiro e o comércio português vendendo produtos estrangeiros há tantos anos radicados entre nós.

Vender, hoje, é muito mais difícil que produzir. E por melhores que sejam a qualidade e o preço - disso temos alguma experiência -, triste campo, nem sempre o veni, vidi, vioi se segue ao mais cor-de-rosa dos sonhos. Mesmo quando esse sonho é bem fundamentado, o que nem sempre acontece.

Temos que esperar desilusões sobre desilusões, e as desilusões custam, pelo menos, muito tempo e muito dinheiro. Não podemos perder um segundo, nem esbanjar um escudo. Ao Governo caberá orientar e apoiar, até ao limite que lhe permita o jogo das convenções que tiver de subscrever, a nossa política comercial externa. Todos os Governos, dentro das suas mais latas limitações contratuais, o fazem. Até a dita libérrima economia alemã, na sua Lei da Estabilidade e da, Expansão, o permite. Por que não o havemos de fazer nos?

A indústria portuguesa, já pela sua débil expressão, já pela dista cia a que se encontra, já pela sua quase total carência de infra-estruturas e tradições exportadoras, ranis do que nenhuma outra necessita de apoio neste campo. Sentes e bem tristes experiências só nos dão razão, bem mais razão do que gostaríamos e quereríamos ter.

Estamos no limiar da luta. Julgo imperioso pensar desde já na formação imediata de empresa ou empresas - que possivelmente convirá que sejam de capital misto, que se proponham, dentro da lei que aceitarmos, fornecer à nossa indústria a informação, o apoio in loco é a base comercial de que necessita para A conquista dos mercados que é imperioso conquistar.

O Sr. Alberto de Alarcão: - Muito bem!

O Orador: - Temos que ser nós a vender o que produzimos. Senão o risco será mortal. Tantas vezes o foi já ... Não teremos ainda aprendido?

E para vender temos que estar nos mercados, com uma presença física e permanente. Temos que ter homens capazes e conhecedores. Que maravilhosos pontos de apoio, ainda, que só pontos de apoio, não poderiam e deveriam ser os secções comerciais das nossas representações diplomáticas!

O Sr. Leal de Oliveira: - Muito bem!