3584 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 182
os sítios visitados, como deram conta os órgãos da informação que seguiram de perto o acontecimento.
Em alguns pontos o entusiasmo popular excedeu a minha expectativa mais optimista e não foi possível aos repórteres fotográficos gravar tudo em imagens.
Fiquei profundamente emocionado ao ver no Gabu pessoas atropelarem-se, empurrando-se e acotovelando-se com o único objectivo de chegarem junto do ilustre hóspede, apertar-lhe a mão e entregarem-lhe as suas prendas, sem significado material, mas cheias de simbolismo, que eram desde simples objectos de artesanato local até animais vivos. Destinadas quase todas, ao Sr. Doutor Silva Cunha e ao Sr. General Spinola. Eu próprio recebi também uma, já na minha vinda, para entregar a S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho, Prof. Doutor Marcelo Caetano, o que farei logo que se oferecer oportunidade.
São prendas de valor quase simbólico, roas todas elas repletas de grande carga afectiva e de profundo significado.
ão será tudo isso símbolo indiscutível de lealdade, de fidelidade, de completa adesão a uma política por porte de um povo que na paz quer construiu- o seu futuro? Direi que os amigos deste povo ou os que assim se dizem - se o são de facto prestar-lhe um melhor serviço cooperando com Portugal no esforço para o seu desenvolvimento ou, na impossibilidade disso, deixando-o em paz, não fomentando a sua destruição.
Aquelas, manifestações espontâneas e sinceras do povo da Guiné levaram S. Ex.ª o Sr. Ministro, numa das suas declarações públicas, dirigindo-se às populações, a afirmar, cheio de emoção, que "o seu grande patriotismo, a sua completa dedicação a causa de Portugal, o inteiro respeito pela chefia do Sr. Presidente da República e do Sr. Presidente do Conselho, são as melhores garantias de que a Guiné há-de continuar a ser portuguesa e há-de sei- cada vez a Guiné melhor" - a que todos desejamos.
Esta afirmação, feito por um membro do Governo em cujas mãos está o destino do ultramar è o seu futuro melhor, é de facto animadora e leva-me a repetia- com fé que assim há-de ser, porque assim o queremos, assim o quer o povo.
Outro facto digno de nota que registei é o considerável número de inaugurações levadas a efeito sob a presidência do Sr. Prof. Silva Cunha, dos quais saliento as do movo posto emissor de 100 KW, das Estiradas Teixeira Pinto Cacheu, Xime-Bambodinca, Nova Lamego-Piche e Pirada fronteira do Senegal, e ainda a do novo cais de cabotagem, de acostagem permanente, de Bolola (em Bissau), melhoramentos de grande vulto nos aspectos social, económico e cultural.
O que acabo de referir é a confirmação do que declarei aqui há bem pouco tempo, no sentido de que o esforço de desenvolvimento que se vem verificando na província tem sido A arma mais eficaz contra o inimigo.
Com efeito, este só tem agora uma alternativa: aceitar honestamente a realidade insofismável de que o povo lhe virou as costas na Guiné de uma vez para sempre, para se ocupar na construção do seu futuro, por opção, à sombra da bandeará que o viu nascer - a bandeira verde-rubra da paz, da justiça e da fraternidade entre os homens. Ou fará isso, ou se volta abertamente contra esse mesmo povo que diz pretender libertar, desmascarando-se, deste modo, quanto as suas intenções ocultas. Aliás, é o que tem vindo a fazer, como o demonstram casos como os de Pirada e outros.
Quero voltar também a referir o que todos as manifestações simbolizam de apoio ao Governador A. Spinola, ilustre representante do Governo na província.
De simpatia pela sua acção inicial passou-se à pura amizade e desta a uma verdadeira devoção e cega confiança. Desde então, Governo e povo se confundiram, fundindo-se governante e governados numa perfeita e profícua simbiose, circunstância que tem tornado possíveis os realizações e progressos tanto no plano militar como no campo sócio-polítrico e económico que se vem verificando.
Com o decorrer do tempo, o inimigo, surpreendido por este facto insólito que contrariava todos os seus planos, desencadeou uma intensa campanha de mentiras e calúnias contra o Governo e de atemorização da população com boatos e falsos avisos através da rádio e de agentes internos e externos de subversão, tentando destruir o bloco monolítico constituído pelo binómio Governo-Povo.
Para denunciar a extensão, a organização e a falsidade dessa campanha, uma outra palavra quero aqui deixar, no seguimento da nota oficiosa apreciada pelos órgãos de informação sobre uma hipotética presença de observadores da O. N. U. em territórios da Guiné. Não poderia deixar de aproveitar a ocasião para informar esta Câmara de que pude verificar por mim próprio e m loco a falsidade dos afirmações vindas a público. De resto, já não é a primeira vez que notícias deste género são publicadas. O P. A. I. G. C. faz passear estes pretensos observadores em territórios da República da Guiné, mais ou menos afastados da província portuguesa da Guiné, fazendo-lhes crer que se encontram em "áreas libertadas" da mesma província. Se fosse ingenuidade, era muita ingenuidade!
Eu, se o Governo o não tivesse feito já, viria assegurar a esta Câmara que nenhum observador entrou na Guiné durante o referido período, e tal como a nota oficiosa do Governo Português o afirma, também eu desafio os três membros do chamado "comité dos vinte e quatro" a indicarem concretamente os locais que percorreram, para que assim fique bem provado o tremendo logro em que caíram e a interpretação mais benévola, o que de resto está na linha de conduta com que o P. A. I. G. C. tem procurado há já alguns anos convencer, embora inutilmente, primeiro os portugueses da Guiné e depois os estrangeiros, mais facilmente influenciáveis, dado não conhecerem não só as realidades do mundo africano como, e sobretudo, as realidades do Portugal africano.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Cotta Dias: -Sr. Presidente: A mesma estranheza que ontem me fez interromper considerações aqui produzidas, em relação a uma peça de teatro, levou-me posteriormente a procurar informação mais completa sobre o assunto.
Aquela que me foi possível reunir, parece-me correcto e útil não a guardar para mim e trazê-la ao conhecimento da Assembleia, cuja atenção foi desperta para o assunto, facultando mais peças de um processo que foi dito muitas pessoas não conhecerem e das quais resulta o esclarecimento mais nítido de todas as dúvidas aqui postas.
Não voltarei a nenhuma apreciação crítica sobre a peça em si. E isso porque, por um lado, a natureza mais geral de algumas das questões aqui levantadas, relativamente a classificação dos espectáculos, lhes confere relevo maior, a carecer de esclarecimentos com igual generalidade.
Por outro, aconteceu ser a peça objecto de detalhada análise crítica num órgão da imprensa de hoje, o jornal