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10 DE MARÇO DE 1986 1395

É toda esta ambiência de projecto nacional que nos leva a viver emocionadamente este momento.
É que, na construção daquele destino, está o homem que hoje vitoriamos.
É tão grande, tão transcendente o que ora sentimos e vivemos, que pensamos que não haverá um só português que não experimente o perpassar do frémito da esperança, carregada de desejos de um futuro melhor.
Tão grande, tão transcendente, que não poderíamos contê-lo tão-só no que somos.
Por isso vieram até nós ilustres representantes de outros Estados a quem nos ligam a amizade, o respeito e a admiração.
Por isso temos connosco intelectuais, pensadores, artistas, jornalistas, políticos, de primeira linha, que, pelas formas próprias, se isolaram da massa dos homens comuns para, caminhando à frente, por cima e ao lado daquela, apontarem horizontes, analisarem passados, interpretarem, reformularem e construírem o futuro da humanidade.
O que dizem, o que fazem, o que pensam são também nosso património de cultura.
Revejo na vossa presença o delicado sentido da vossa solidariedade com o povo português, que nesta data, está escrevendo uma das suas páginas mais importantes.
Mas se é solidariedade, também é admiração e respeito pelo que somos e estímulo encorajante para prosseguirmos o projecto encetado.
Pelo que sois, pelo que representais, pelo que fazeis, pelo que fareis, pelo calor e carinho da vossa presença, eu vos saúdo e agradeço.
Srs. Deputados, este será mais um dos momentos decisivos do nosso percurso de séculos, aureolados pelos fulgores da glória de heróis, de mártires, de sábios, de santos.
No centro das nossas atenções, dos nossos desvelos, das nossas esperanças, dos nossos compromissos, está um homem com quem tive o privilégio de trabalhar, de conviver, de conhecer.
Quem há que o não conheça em Portugal e no mundo entre os políticos mais responsáveis e os pensadores mais atentos à evolução e transformação sociais da humanidade?
Ele aqui está, entre nós, porventura no acto mais responsável da sua vida de cidadão, de pensador, de político, de português.
Não será mais possível pensar a história, pensar a Revolução de Abril, reflectir sobre o ideário político e social das últimas décadas sem ter presente a figura de Mário Soares.
O jovem ardente que, tomado pelos ideais de liberdade, agitou ideias, mobilizou vontades, rasgou caminhos, destruiu barreiras.
Por causa deles foi perseguido, pagou o tributo injusto da prisão, do desterro, do exílio.
Pela liberdade asfixiou emoções, suportou o peso esmagador de silêncios, travou sofridamente as comoções do desânimo e tantas vezes terá afivelado o rito do conformismo para poupar à esposa e aos filhos o desespero chorado da angústia da separação forçada.
Da ardência dessa juventude onde a doação e a entrega caldearam e fortaleceram convicções seguras surge o político, construtor de ideias, animador de projectos, mobilizador de vontades.
Num discurso, ora arrebatado ora sereno, ora exuberante e forte, ora moderado e reflexivo, foi ganhando a estatura do político de primeira fibra.
Arrastou multidões, fez adeptos, ganhou amigos. Por multidões foi contestado, combatido, negado e suscitou adversários animosos.
Mas por entre o fragor das lutas políticas, dos seus êxitos e dos seus fracassos, sempre ressurge a sua figura indomável de lutador incansável, disposto a prosseguir com firmeza, com determinação, com coragem renovadas.
Foi autor de artigos e escreveu livros. Penso, porém, que o seu livro mais belo, o seu único livro, é a sua própria vida, como testemunho eloquente e vivo de quanto ela vale quando posta ao serviço da liberdade.
Seu defensor impenitente, paladino dos direitos do homem e da justiça, ganhou o respeito e a admiração "dos Portugueses e o reconhecimento dos políticos grandes que, noutros espaços e latitudes, prestam homenagem aos méritos da coragem, da determinação, da audácia dos que põem em jogo, sem cálculo, os seus interesses e a própria vida, ao serviço da grande causa: a liberdade, a democracia, a justiça.
Vida exuberante, a sua, esmaltada de ricos contrastes, onde o lutador fogoso se conjuga com a cândida e descontraída bonomia; onde a firmeza obstinada se entrosa com um natural pendor conciliatório e dialogante; onde a visão austera do Estado se desfaz perante a simpatia de um convívio fácil; onde a consciente responsabilidade do interesse nacional se aquece ao calor de uma afectividade sem preconceitos.
Srs. Deputados, Srs. Primeiro-Ministro e Membros do Governo, Srs. Convidados: É este português, que outros retratariam melhor, que o povo escolheu para Presidente da República de Portugal.
Ao testemunharmos a sua posse estamos processando um virar de página e de tal modo que, valendo-me de Garrett, com ele poderei dizer: «A sociedade já não é o que foi; não pode tornar a ser o que era; mas, muito menos ainda, poderá ser o que é.»
Com V. Ex.ª Sr. Presidente da República, vamos prosseguir em nova caminhada, com renovado alento, já que novos horizontes nos esperam.
Fazemo-la sob a bandeira que tão acrisoladamente teceu: Unir os Portugueses; servir Portugal.
Por isso aqui estamos, Sr. Presidente da República, para, em nome próprio e no desta Assembleia da República, vos saudar efusivamente e vos desejar todas as felicidades, que o mesmo será dizer: servir Portugal.

Aplausos gerais, de pé.

O Sr. Presidente: - Seguidamente, vai usar da palavra, por direito próprio,
S. Ex.ª o Sr. Presidente da República.

Aplausos gerais, de pé.

O Sr. Presidente de República: - Sr. Presidente da Assembleia da República, Exmos. Chefes de Estado, Primeiros-Ministros e Altos Representantes de Estados e Povos Amigos, Sr. Primeiro-Ministro, Membros do Governo e Altas Autoridades Portuguesas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores: Depois de ter jurado por minha honra «cumprir e fazer cumprir a Constituição», as minhas primeiras palavras são para saudar o povo português, garante da perenidade da Pátria - uma Pátria com mais de oito séculos de história e que representa uma cultura, uma forma peculiar de estar no mundo e uma língua hoje falada por cerca de 150 milhões de seres humanos. É aos Portu-