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3030 I SÉRIE - NÚMERO 80

Numa gigantesca manifestação de dor prestámos-lhes a nossa última homenagem e dissemos-lhes que a sua memória perdurará, o seu exemplo jamais se apagará das nossas almas.
E se, por um lado, louvamos a presença do Sr. Presidente da República e do Governo, representado pelo Sr. Ministro de Estado e da Administração Interna no local do sinistro e nas cerimónias fúnebres, bem como a decisão da rápida atribuição do seguro e pensões de sobrevivência aos familiares dos bombeiros falecidos, pensamos que outras medidas ainda poderão e deverão ser tomadas.
Umas de carácter imediato, outras a curto prazo.
De entre as primeiras, reputamos de primordial importância a recuperação dos salvados e o repovoamento florestal das áreas ardidas.
Abertura de depósitos onde as propriedades possam colocar as madeiras queimadas, pagas a preços justos e preestabelecidos, é tarefa a implementar de imediato.
Nesta tarefa deve o Governo exigir a colaboração das fábricas de celulose e outras indústrias capazes de consumir esta matéria-prima.
Mas, repito, não poderemos perder demasiado tempo.
Não podemos, como aconteceu há anos, andar a criar comissões que demorem meio ano a organizar postos de recepção de madeira e depois funcionaram dois meses apenas.
Se não encontrarmos soluções rápidas poderemos atrasar a recuperação florestal por vários anos com os consequentes prejuízos para a economia nacional.
Se as madeiras não forem rapidamente cortadas, estas rebentarão de forma deficiente, inutilizando o material futuro.
Contudo, os agricultores não poderão proceder a cortes necessários se não tiverem a certeza da colocação e pagamento das madeiras, que lhes permitam, pelo menos, cobrir as despesas.
Deveríamos, por outro lado, aproveitar esta oportunidade e a disposição das populações para se proceder à abertura de asseiros mestres minimamente dimensionados que permitam acessos fáceis aos socorros em futuros casos de emergência.
Os serviços florestais regionais e locais, devidamente mandatados, poderiam desenvolver intensa acção de sensibilização junto das populações no sentido destas não deixarem de pé os esqueletos das árvores mas antes procederem ao seu corte sistemático e organizado de modo a permitir um repovoamento florestal capaz e rentável.
Não somos um país suficientemente rico para nos darmos ao luxo de deixar cerca de 15 000 ha de terreno serem reflorestados ao sabor da natureza.
Temos ainda um largo capital de disponibilidade e capacidade que não podemos enjeitar. Os órgãos autárquicos, as corporações de bombeiros e outros organismos locais devidamente interessados num plano bem elaborado poderão desenvolver acção de enorme importância, em tempo útil.
Basta ver como todos se comportaram nestes últimos dias. Ainda decorriam os funerais dos nossos queridos mortos e já equipas percorriam o terreno avaliando os custos materiais e sociais desta calamidade cujo relatório preliminar deverá ser hoje mesmo conhecido.
Mas a curto prazo há medidas a tomar, providências cautelares de futuras situações calamitosas como esta.
Águeda dispõe de um aeródromo, cujos custos de conclusão e manutenção serão irrisórios quando comparados com os prejuízos que o concelho e, consequentemente, o País, sofrem. E não me refiro apenas aos serviços que este aeródromo poderia prestar servindo de base de apoio aos serviços aéreos de combate aos incêndios refiro-me também à sua utilização, ao longo de todo o ano, no apoio à indústria e turismo da região. Não tenho dúvidas de que se trataria de um investimento altamente reprodutivo.
Por outro lado, somos possuidores de uma zona florestal de grandes dimensões onde se torna indispensável criar, tal como lá fora, uma toalha de água que permita acorrer com um ataque rápido e eficaz às zonas incendiadas. Daí a necessidade, a curto prazo, de se construir uma barragem-dique no rio Alfusqueiro, justificável ainda pela única possibilidade de se regularizar o caudal do rio e o aproveitamento hidro-agrícola, inserido como está no aproveitamento do Vouga lagunar e serrano.
Breves sugestões estas, que nem a emoção com que vivemos estes dias lhes retira rigor e validade.
Assim todos nós, órgãos de soberania nacional, o queiramos, assim todos nós, representantes deste martirizado povo, não nos contentemos com visitas simpáticas, com lindas «poses» para os fotógrafos e para a televisão, com palavras de belo efeito no momento, mas que, se esvaem mais rápidas que o fumo que sufoca e mata.
Srs. Deputados: Falei-vos com o coração a chorar, com o mesmo coração que viveu directamente com as populações as horas dramáticas do último fim-de-semana.
Mas não queria continuar a chorar. Queria poder voltar a sorrir com o sorriso do povo, com o rever-descer das nossas florestas, com a certeza de que ninguém morreu em vão.
Confio nos homens que detêm o Poder, seja na Assembleia da República, no Governo ou nas autarquias locais; confio que todos vamos dar as mãos, e assim unidos, tal como morreram os nossos bombeiros num exemplo de solidariedade ímpar, seremos capazes de reparar os atrozes efeitos desta «dantesca tragédia» e prepara um futuro sem pesadelos.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Horácio Marçal.

O Sr. Horácio Marçal (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Deveria comemorar-se no nosso país, no passado dia 15, o Dia Mundial do Bombeiro.
Em vez das comemorações que tivessem por base uma alegre e sã convivência, apanágio dos soldados da paz, esse dia foi marcado infelizmente, em toda a zona centro do País e mormente em Águeda e Anadia, por cerimónias fúnebres que sob a presidência de S. Ex.ª o Presidente da República e com membros do Governo e elementos desta Assembleia da República, se realizaram naquelas terras bairradinas.
Tudo começou numa noite cálida de Verão, de sexta-feira, dia 13.
Mais uma vez as matas da região de Águeda, que vão até às faldas do Caramulo, foram pasto de chamas. Chamas violentas, devoradoras de árvores, da fauna, de casas de habitação, de escolas, de viaturas e para cume da tragédia, de quinze vidas humanas.