O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2614 I SÉRIE NÚMERO 66

profunda pelo seu significado político como feliz pela nobreza dos intentos dos seus subscritores.
Por isso, Sr. Presidente da República Francesa, Sr. Presidente da República de Portugal, vos agradecemos muito comovidamente a aceitação gentil do convite que vos dirigimos para nos prodigalizarem estes momentos.
E fazemo-lo com redobrada emoção, quanto é certo que estamos acompanhados por todos quantos são a tradução mais viva da vontade colectiva do povo português, pela presença do Sr. Ministro de Estado, em representação de S. Ex.ª o Sr. Primeiro-Ministro, do Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, dos membros do Governo e demais titulares dos órgãos que lhe dão expressão e asseguram a sua vitalidade democrática.
Fazemos deste encontro o vértice dos sentimentos que nasceram da admiração e respeito mútuos, no relacionamento fecundo, que a amizade envolveu na terna suavidade com que se acarinha o que muito se estima.
Encontro de duas pátris que nas vicissitudes que os ventos forjaram nos cruzados caminhos dos seus percursos, sempre deixaram o rasto de prodigiosas mensagens que constituem e são parcelas, das mais ricas, do património de cada uma da Europa a que pertencemos, da humanidade que vivemos.
Do entrosamento das suas vivências, que não conheceram limitações nem fronteiras, resultou um dos mais valiosos contributos na formação do «espírito europeu», que é ponto de convergência das dádivas preciosas de cada um dos povos e dos estados que se inscrevem nesta Europa admirável.
Ela é sem dúvida a mais pequena das cinco partes do mundo mas é também a mais bela, a mais fértil, sem solidões, sem desertos; a mais culta, onde as artes e as humanidades ganharam um brilho que não tem paralelo.
Ela guarda como que um certo génio que ainda não existiu fora dos seus limites ou que, pelo menos, nunca se afastou muito deles e, por ele, nunca renunciou a inventar, a criar, porque possuída de uma perene inquietação de continuadamente prosseguir na busca aliciante de uma cada vez maior liberdade e justiça.
No dobrar irreprimível dos tempos, esta Europa afadigada medita em cada noite o refazer angustiado do dia seguinte, em novas formas, novos caminhos, novos projectos no tormento aliciante de prosseguir rompendo e abrindo os mistérios do desconhecido para que cada homem possa ser mais livre, mais responsável, mais cidadão. E a inteligência, fortalecida pela reflexão, afirma-se em novos avanços.
Informados dessa cultura fomos ao Oriente e lá deixámos um padroado que é afirmação consumada desse «espírito», andámos pelas Américas e de nós por lá ficou ou a consciência da emanciparão dos povos e o despeitar da formação de Estados, reinventamo-nos na África e por lá deixámos larga sementeira de lusitaniedade que é também «espirito europeu»
Sulcámos os mares descobrindo terras novas, fundimo-nos com outras gentes, tonámo-nos universais.
Esta foi e é a nossa gesta
Cumprimos o mar
Lançámo-nos agora, como diria o poeta, a busca de uma nova índia, que não existe no espaço, em naus construídas com aquilo de que se fazem os sonhos.
Percorremos agora outros caminhos pela força do mesmo espírito, à procura doutros horizontes, na alma não conseguida da nossa incontestável identidade.
Daí o incontido orgulho de ser português, de ser europeu.
Ele está plenamente justificado e pergaminhado pelo testemunho de um dos maiores expoentes do pensamento universal, e necessariamente francês, Victor Hugo, quando, a respeito da abolição da pena de morte, escreveu: [...] vós, portugueses, não deixastes de ser navegantes intrépidos. Outrora íeis à frente, no oceano; hoje, na verdade, proclamar princípios é mais belo que descobrir mundos. Por isso, eu clamo glória a Portugal.»
Porque proclamar princípios é também descobrir mundos, dizemos nós, sempre novos e insuspeitados, na esfera do pensamento, e porque são a força condutora da inteligência e da cultura dos povos, que haveríamos nós de dizer da formosa e respeitada França?
Pátria de lucidez do pensamento, fulcro da inteligência da História, ponto de referência das culturas que se processam no nosso Mundo, a França ganhou o consagrado mérito de caminhar na primeira linha da defesa dos direitos do homem ao proclamar os princípios da liberdade, da fraternidade, da justiça da solidariedade.
Ela goza do privilégio inegávelde ser apetecida e amada. Os seus mártires, os seus santos, os seus heróis, os seus sábios, filósofos, pensadores e poetas fazem dela o coração propulsor ao ritmo que condiciona, vivifica e fortalece os desejos de conquista das metas que a sua exaltante capacidade de rascar futuros vai propiciando a todos quantos, com avidez, recolhem o proveito do seu admirável esforço.
Pelo seu espírito pela força centrifugadora do seu pensamento, as ideias se espalham pelo mundo para, num retorno a mais saírem de novo, cada vez mais ricas, mais nobres, mais sedutoras.
É perante V. Ex.ª Sr. Presidente da República Francesa, que, como idóneo e supremo representante da admirável e gloriosa França, fazemos respeitosa vénia em homenagem sincera ao génio criador do povo Francês.
Com ela vai também o nosso profundo sentimento de gratidão pelo nobre e delicado acolhimento que o vosso povo dispensa aos muitos milhares de portugueses que, pela dignidade do seu trabalho, são a natural extensão do Povo que somos e estão contribuindo para tornar mais sólidos os laços que unem as nossas duas pátrias.
Mas, se estes momentos são o encontro de duas pátrias, comprometidas agora na empresa comum da construção de uma Europa cada vez mais livre e mais justa, eles são também o encontro de parlamentares.
Sabemos quanto vos é grato, Sr. Presidente, envolvermos da ambiência parlamentar foram muitos os anos de luta política vivida nas bancadas do seu nobre e prestigiado Parlamento luta marcada pela coerência, pela firmeza das convicções, pela palavra a um tempo austera e fácil, definindo as linhas da arquitectura de um pensamento político que lhe grajeou o respeito e a admiração dos seus pares e do esclarecidos povo Francês.
Lutador sem desfalecimentos, deu V. Ex.ª testemunho do valor da firmeza de vontade, da finura de uma inteligência posta ao serviço da lucidez, de um idealismo que dos fracassos retira força nova para perseverar e ganhar a coragem necessária a voos mais altos.
E sem essas feridas subiu mais alto e voou mais longe.
Por isso o temos hoje aqui, como expressão, a mais subida, do povo francês. E se relembrámos os lugares do seu mandato de deputado é porque sabemos como intensamente o viveu e quanto lhe é querida a instituição parlamentar. Quando há sede de democracia; quando ela dá testemunho da vontade do povo que representa; quando ela é expressão viva da vitalidade, da isenção, da independência.