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8 DE MAIO DE 1987 2863

Srs. Deputados, vamos passar à votação do voto que acabou de ser lido.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Tem a palavra, o Sr. Deputado José Carlos Vasconcelos.

O Sr. José Carlos Vasconcelos (PRD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É com profunda consternação e emoção que, em nome do PRD e no meu próprio, hoje, aqui, recordo uma companheira, colega e amiga, que a morte, impiedosa e brutal, acaba de ceifar na flor da vida: Ana Gonçalves. Ana Gonçalves, a nossa Ana, 25 anos, uma juventude generosa mas serena, em que uma não menos serena maturidade já se insinuava, tragicamente despedaçada, ao quilómetro 8 da estrada Lisboa-Setúbal, uma vida e um sonho - que sendo seu, era também um pouco de todos nós - subitamente desfeitos...
Ainda não podemos acreditar que possa ser verdade vermos vazio, para sempre, o seu lugar ao nosso lado, vazio aqui neste Parlamento, vazio no Partido que com entusiasmo ela ajudou a fazer, vazio no convívio do nosso dia-a-dia. Ainda não podemos acreditar que possa ser verdade que nunca mais teremos ao nosso lado aquela jovem viva, activa e simpática, inteligente e talentosa, que alguns de nós conhecemos, em 80, tinha ela então apenas 18 anos, a empenhar-se com afinco e determinação na CNARPE, a lutar por ideais de liberdade, de justiça e de progresso, de melhoria de condições de vida do nosso povo, por que sempre se bateria, merecendo seguramente o respeito de todos, mesmo dos que pensavam e pensam de forma diferente; aquela jovem que às 4 horas e 30 minutos da madrugada do dia funesto de ontem ainda trabalhava connosco, na sede do PRD, na mesma senda e no mesmo combate.
Licenciada em Direito, jovem advogada, repartindo-se entre Setúbal e Lisboa, Ana Gonçalves foi uma das mais activas fundadoras do PRD, cuja génese e criação acompanhou desde o início, desde o início também sendo figura absolutamente marcante e coordenadora da organização da juventude, assim como o elemento mais novo das duas comissões directivas nacionais do Partido, desde a sua fundação, como já o tinha sido das estruturas provisórias que as precederam. Nós, os que desde o primeiro minuto estiveram nessa mesma caminhada, sabemos tudo que nela representou Ana Gonçalves, sabemos a sua capacidade e a sua dedicação.
Mas também esta Assembleia da República teve oportunidade de conhecer estas e outras suas qualidades - de as conhecer e de as aproveitar, no decurso desta legislatura, em que a nossa companheira teve papel activo, ou mesmo determinante, e tantas vezes brilhante, através de múltiplas intervenções e em vários domínios, sobretudo as relacionadas com áreas de trabalho - a cuja comissão pertencia e na qual desenvolveu assinalável acção - e da juventude, como foi justamente destacado no voto de pesar que acaba de ser aprovado.
Assim, Ana Gonçalves continuará presente entre nós, seus companheiros, seus colegas e seus amigos, muito para lá da homenagem que hoje aqui comovidamente lhe prestamos, presente no nosso trabalho, presente no nosso pensamento e, sobretudo, presente no nosso coração. «Morrem jovens os que os deuses amam» - escreveu o poeta. E uma vez mais - e com que mágoa, e mais que mágoa, o dizemos - se provou, muitas vezes, ser assim. «Morrem jovens os que os deuses amam.» Mas Ana Gonçalves, a nossa Ana, repito, continuará aqui connosco.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Ferraz de Abreu.

O Sr. Ferraz de Abreu (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Quero expressar à Câmara o pesar e a consternação com que, ontem, recebemos a notícia do brutal acidente que vitimou a deputada Ana Gonçalves.
Apesar de ser curto o tempo que mediou entre a sua entrada nesta Assembleia e este acidente fatal, Ana Gonçalves mostrou ter uma personalidade que irradiava simpatia, competência e entusiasmo pelas suas convicções. As suas intervenções constituíam como que uma lufada de ar fresco nesta Assembleia e a sua espontaneidade, o seu entusiasmo e a sua generosidade naturalmente que por nenhum de nós serão esquecidos.
É por todas estas razões que nos queremos associar ao pesar que, neste momento, invade todos os militantes e membros do Partido Renovador Democrático, deixando ficar aqui as nossas sentidas condolências para a família de Ana Gonçalves.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Gomes de Pinho.

O Sr. Gomes de Pinho (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Deputado Hermínio Martinho em particular: Ë com enorme mágoa que o CDS e eu próprio nos associamos à manifestação de pesar pela morte da nossa colega Ana Gonçalves. Perdemos todos, perdeu o País, uma deputada brilhante e uma cidadã voluntariosa e combativa. Mas perdemos também uma jovem política promissora, portadora de um espírito franco de revolta e de uma imensa capacidade de sonhar, que em múltiplas intervenções deixou patente. Deixou-nos ainda, como exemplo, para a nossa capacidade colectiva, a sua enorme convicção de criar um país diferente, de romper o ciclo do conformismo, de olhar confiadamente o futuro.
Na autenticidade veemente das suas intervenções, Ana Gonçalves trouxe-nos aqui um estilo novo, directo, firme que, mesmo quando dela discordávamos, nos levava a admirá-la e a respeitá-la.
Assisti à sua primeira intervenção, que, por sinal, foi uma crítica contundente a algumas das ideias que defendo. Da discussão que então travámos surgiu uma amizade sincera que nenhum outro conflito parlamentar - e foram vários - jamais perturbou.
Não é, portanto, fácil pensar que não a voltaremos a ter aqui connosco a denunciar as injustiças, a combater contra os privilégios, a lutar por um país mais justo e mais solidário. Porém, uma coisa é certa: o seu combate vai continuar pela voz de outros deputados de todas as bancadas e ninguém apagará da nossa memória a sua imagem e o seu exemplo.
Permita-me, Sr. Presidente, que dirija à família de Ana Gonçalves e em particular ao Grupo Parlamentar do PRD os nossos sentidos pêsames e lhes expresse a nossa amiga solidariedade.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Magalhães.