O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2864 I SÉRIE - NÚMERO 74

O Sr. José Magalhães (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Sentimos todos que foi demasiado cedo e que foi demasiado mal, e isso dá ao nosso pesar um carácter redobrado. A lei que ontem foi aplicada, naquilo que era uma tarde de sol que apelava para a vida, é demasiado cruel, não fomos nós que a aprovámos e só a podemos rejeitar.
O que aqui foi dito e por unanimidade aprovado é, sem dúvida, inteiramente justo, mas é dolorosamente insuficiente.
A deputada Ana Gonçalves tinha 12 anos quando se fez o 25 de Abril, mas creio que de uma maneira inesquecível soube partilhar, sentir e exprimir muitos daqueles que foram os melhores sonhos e os melhores projectos que justificaram o próprio 25 de Abril. Olha-se para ali e quase se diria que é quase impossível que ali não esteja.
Esboçou durante estes breves meses uma ínfima parte daquilo que tinha sonhado fazer e que vimos concretizar. Que tudo isso tenha sido apenas esboçado - com o que isso tem de ténue mas marcante - é particularmente doloroso. Havia ali - e creio que todos nós o sentíamos - uma chama que era apenas inferior à promessa daquilo que seria. Creio que todos nos interrogávamos com um ar um tanto tocado, maravilhado, como seria aquela chama quando fosse plena, madura, sábia, unindo essa fogosidade - que toda a gente assinala - à temperança e à experiência. Isso nunca mais saberemos como seria.
O Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português associa-se plenamente ao voto de pesar que hoje aqui votámos. Mas queremos sublinhar, ao inclinarmo-nos perante a memória da deputada Ana Gonçalves, que há uma lembrança que acima de todas se sobreleva: a de que há sonhos que em si mesmos não são perecíveis, pois são imorredouros e vão continuar.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Coelho.

O Sr. Carlos Coelho (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Há momentos em que as palavras não nos ocorrem com a dimensão com que gostaríamos que elas traduzissem a totalidade dos nossos sentimentos.
Em nome do Grupo Parlamentar do PSD e de forma muito especial do grupo de deputados da JSD, que com ela conviveu numa experiência que tentámos todos que fosse diferente, uma experiência que levou a que na
Comissão Parlamentar de Juventude todos nos tentávamos dar, relacionar, trabalhar de uma maneira assaz diferente daquela que às vezes condenávamos nos seniores, queria expressar a nossa dor pelo desaparecimento da Deputada Ana Gonçalves.
Muitas vezes as ideias separam-nos, os projectos dividem-nos, a maneira de vermos as coisas que nos rodeiam é diferente de uns para outros e nestes momentos é muito importante ver sobretudo aquilo que nos uniu. Uniu-nos uma relação pessoal de estreita amizade, uniu-nos uma maneira de conceber a democracia, uniu-nos uma maneira jovem de afirmar as preocupações que são as da nossa geração e de o fazermos, às vezes, mesmo contra as conveniências e, outras vezes, contra as pressões.
Portanto, é muito doloroso ver que aquilo que nos uniu, que nos devia continuar a unir, já não é mais possível.
Ana Gonçalves foi, para nós, o exemplo de uma forma combativa, de uma fornia elegante, de uma forma sedutora feminina, porque também com isso fomos tocados, uma forma de ser e de estar que não pode merece- só a nossa saudade e o nosso aplauso, mas que nos merece agora também a nossa tristeza. Se às vezes há momentos que nos levam a dizer coisas que parecem desajustadas ou desequilibradas, julgo que é com a maior racionalidade e sobriedade que posso dizer, em nosso nome, que a Assembleia da República não será na legislatura que se avizinha a mesma sem a participação daquela que nos habituámos a respeitar e a admirar.

O Sr. Presidente: -- Srs. Deputados, penso que está no sentimento de todos, em razão do infauto acontecimento que agora aqui estivemos a lembrar, que deveremos interromper a nossa sessão, aliás, dá-la por terminada.
A próxima reunião terá lugar às 15 horas da próxima quinta-feira, precisamente com a mesma ordem do dia, acrescida porventura de outros factos que daqui até lá sejam passíveis da nossa apreciação.
Nestes ternos, dou por encerrados estes nossos trabalhos em sinal de luto.

Eram 15 horas e 45 minutos.

O REDACTOR, José Diogo.

PREÇO DESTE NÚMERO 16$00

Depósito legal n.º 8818/85

IMPRFNSA NACIONAL-CASA DA MOEDA, E. P.