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3 DE ABRIL DE 1990 2073

Partido Comunista Português (PCP):

Ana Paula da Silva Coelho.
António Filipe Gaião Rodrigues.
Apolónia Maria Pereira Teixeira.
Carlos Alfredo Brito.
Domingos Abrantes Ferreira.
Jerónimo Carvalho de Sousa.
João Camilo Carvalhal Gonçalves.
José Manuel Antunes Mendes.
José Manuel Maia Nunes de Almeida.
Júlio José Antunes.
Luís Manuel Loureiro Roque.
Luís Maria Bartolomeu Afonso Palma.
Manuel Rogério Sousa Brito.
Maria Ilda Cosia Figueiredo.
Maria Luísa Amorim.
Octávio Augusto Teixeira.
Octávio Rodrigues Pato.
Sérgio José Ferreira Ribeiro.

Partido Renovador Democrático (PRD):

António Alves Marques Júnior.
Hermínio Paiva Fernandes Martinho.
José Carlos Pereira Lilaia.
Rui José dos Santos Silva.

Centro Democrático Social (CDS):

José Luís Nogueira de Brito.
Narana Sinai Coissoró.

Partido Ecologista Os Verdes (MEP/PEV):

André Valente Martins.
Herculano da Silva P. Marques Sequeira.

Deputados independentes:

João Cerveira Corregedor da Fonseca.
Maria Helena Salema Roseta.

O Sr. Presidente: - Sr. Presidente da República da índia, Sr. Presidente da República, Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Sr. Presidente do Tribunal Constitucional, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Excelências, minhas Senhoras e meus Senhores: Volvidos cinco séculos que levámos partilhando os caminhos da História, esta é a primeira vez que o mais Alto Magistrado da índia faz uma visita de Estado a Portugal.
Com a presença de V. Ex.ª na Assembleia da República, bem se poderá dizer que refazemos o encontro de povos e de culturas.
As nossas histórias - da índia e de Portugal - têm uma relação marcante a partir do século XVI. Não é possível o estudo de uma delas sem mergulhar nas raízes da outra.
A nossa principal obra literária, Os Lusíadas, onde o génio de Camões -também ele caminheiro do Oriente - fez repousar muito da história pátria, assenta na epopeia dos Descobrimentos, que culminaram na abertura do caminho marítimo para a índia.
Da índia trouxemos então «riquezas». As de valor material foram sendo consumidas pela sede dos homens ou pela voragem dos tempos.
Importa mais que recordemos aquelas outras que marcam indelevelmente o nosso passado comum: a cultura e o pensamento científico portugueses receberam influências fundamentais do que vimos, sentimos e convivemos em Goa, que são indispensáveis ao estudo e conhecimento da nossa história.
Difícil seria lambem entender, em toda a sua extensão, a história da índia, o caminho para a sua própria unidade e, em particular, o império de Vijayanagar e do reino de Krsna Deva, sem ter em conta a presença dos Portugueses.
Mas a narrativa das relações luso-indianas não se reduz apenas aos contactos localizados e ao encontro directo entre os nossos povos e culturas. A sua realidade é bem mais profunda e nem sempre terá sido devidamente considerada.
A abertura, que fizemos, das ligações marítimas para a índia produziu efeitos em toda a zona que se estende do sul do continente indiano às Repúblicas de Génova e Veneza.
As rotas tradicionais do comércio, de trocas e contactos, conhecem então uma nova competição e alternativa. Grandes são, por isso, as suas repercussões nas regiões de predomínio otomano, mulçulmano e persa, com efeitos que iriam perdurar pelos séculos seguintes.
E que dizer da influência que teve nos povos que hoje constituem a Europa comunitária?
Não me refiro apenas ao desenvolvimento e impulso impensáveis nos anos precedentes, que conheceram as artes náuticas, a matemática, a geografia, a construção de navios e outras ciências e actividades afins.
Na minha perspectiva há, no entanto, um outro aspecto mais marcante na história da Europa.
No início do século XVI, o Velho Continente vivia o termo de um mediavalismo residual. E é nos contactos com a índia, agora mais intensos pela abertura do caminho marítimo, que tem lugar um salto qualitativo, mercê dos trabalhos de Garcia de Orta.
Vivendo em Goa, os conhecimentos que adquire permite-lhe escrever, em 1563, os Colóquios dos simples e drogas he cousas medicinais da índia, obra que ocupa uma posição cimeira nos trabalhos do Renascimento, em «História de Medicina», pelo inventário extremamente rico de novas substâncias e materiais que aí conheceu.
Outros horizontes e o contacto com novas culturas despertam-lhe o espírito científico, crítico e inovador na forma de apresentação e estudo das coisas.
Nasciam, com Garcia de Orla, os métodos experimental e científico, que na Europa apenas balbuciavam passos tímidos, sem todavia saber romper com a influência das instituições académicas de emito.
«O sentimento empreendedor..., a confiança histórica, a afirmação da força humana e o domínio sobre os elementos» passam a dar forma ao desenvolvimento das ciências.
Assim se compreende quo aquele trabalho tivesse uma inusitada expansão na Europa culta de então; traduzido para latim logo em 1567, em Antuérpia, por Carolus Clusius, a sua importância leva a que de imediato surjam três novas edições; é igualmente traduzido para italiano e francês e nos anos seguintes é referenciado e comentado numa série de publicações inglesas e espanholas.
Surgia, bem o podemos afirmar, uma nova era, que rompia com os quadros da cultura europeia dominante e abria novos caminhos ao pensamento científico, que nunca mais deixaria de se desenvolver e aprofundar.