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1330 I SÉRIE -NÚMERO 36

checo Pereira. Porquê? Porque transformou as oposições na Rainha Má a ver-se ao espelho. Só faltou dizer-nos quem é, para ele, a Branca de Neve e o Príncipe, o que talvez possa ser revelado no próximo Congresso, e, sobretudo, que nos diga quem são os Sete Anões com os quais vai cortar.

Risos do CDS-PP.

É que talvez possamos abandonar esta visão tribal da vida portuguesa. Os 51% e os 49% têm a mesma dignidade e, por consequência, seria melhor que, de uma vez para sempre, acabássemos com esta perspectiva.
Quero terminar com uma muito leve e rápida consideração.
A Revolução já tem muitos anos, já vem de 1974. A geração que está a chegar à idade de ser eleitorado não tem noção do processo histórico em que o sistema se desenvolveu. A maior parte dos jovens que tiver tido a paciência de seguir o debate desta tarde não vai julgar o sistema em função dos sacrifícios feitos em favor da liberdade, em favor da racionalização do Estado, em favor da implantação de um regime democrático compensador daquilo que era considerado opressivo, vai julgar em função do comportamento.
Assim, apelo ao povo português que não seja levado por um sentimento que está a desenvolver-se entre nós, que é o da total irresponsabilidade, apelo - repito - ao eleitorado e aos outros, ao eleitorado que responsabiliza os outros, ao eleitorado que não toma a responsabilidade das escolhas que faz... Este sentimento, a generalizar-se, traduz-se na alienação de um sentido cívico fundamental. O comportamento desta Assembleia é essencial para que este estado de espírito não se desenvolva. O que espero, o que desejo, é que sejamos capazes de recuperar o prestígio que a Assembleia perdeu, recuperar a função que a Assembleia perdeu, recuperar as condições que nos permitam tratar dos assuntos do Estado sem os substituir pela agressão pessoal, tratar dos assuntos do Estado sem os substituir pela insinuação de intenções e práticas, tratar dos assuntos do Estado sem nos esquecermos que todos passaremos e que o que desejamos é que a Nação continue.
É natural, é possível que muitos dos intervenientes neste debate estejam hoje a lembrar-se de um conceito de Ibsen: "Um dia se verá que os vencidos são os vencedores, que os vencedores são os vencidos". Pode ser que estejamos todos enganados, quando chegar o julgamento popular.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Adriano Moreira, todos nós temos todo o respeito do mundo pelo seu saber, pela sua experiência, pela sua idade que, para mim, que sou mais novo, é um factor importante. Mas há uma coisa, Sr. Deputado. É que, há pouco, se não tivéssemos falado mais alto, o Grupo Parlamentar do CDS-PP não estaria agora a usar da palavra nesta Assembleia...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Exacto!

O Orador: - Mais: numa Câmara democrática "quem não se sente não é filho de boa gente". Ora, o discurso do Sr. Deputado Adriano Moreira é demasiado vago, metendo-nos a todos no mesmo saco...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - ... e eu não gosto de ser metido no mesmo saco com pessoas que, objectivamente, tiveram culpa de alguns dos incidentes que ocorreram nesta Casa.

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado, para mim, é sempre muito fácil sair de qualquer debate com uma imagem de Estado: basta deixar a intendência da condução dos debates para outros, basta estar fora daquilo que é a centralidade política do debate, daquilo que não é o centro da controvérsia entre partidos numa democracia - as diferenças de opinião - e, depois, como é evidente, eu poderia dizer tudo sobre a matéria sem sujar as minhas mãos nessa parte do debate. E, com franqueza - repito, com franqueza -, eu não gosto de ser metido no mesmo saco e de receber uma espécie de lição de moral sobre o comportamento parlamentar, a qual acho que não mereço, nem eu próprio nem o Grupo Parlamentar do PSD.

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado, com franqueza, julgo que o essencial do ponto de vista político é fazer diferenças, e penso que nem todos nós nos comportámos da mesma maneira esta tarde.
Mas há mais, Sr. Deputado: não me importo que o povo português veja que na Assembleia temos estas controvérsias. Não há nenhum Parlamento do mundo, num país democrático, que não as tenha. É assim no Parlamento inglês, é assim no Parlamento francês, é assim no Parlamento espanhol, e o nosso até é particularmente manso sob esse ponto de vista, para quem conheça a realidade dos outros Parlamentos.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - É evidente que me custa que a questão de Timor, sobre a qual há um consenso nacional, seja muitas vezes perturbada por incidentes parlamentares. É muito difícil que isso não aconteça num Parlamento e faz parte da aprendizagem da democracia compreender que assim é. E os portugueses que estão a ver-nos pela televisão devem compreender que numa democracia, nos Parlamentos, é assim que se discute e que, muitas vezes, é na controvérsia directa que melhor se percebem as diferenças.
Devo dizer-lhe que o que pior fez à causa de Timor, em Portugal, foi a mistura entre uma lógica e um pensamento imperial em relação às nossas colónias e uma lógica de pensamento de abandono imediatamente a seguir ao 25 de Abril.

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado, é o preço dessas duas vertentes, dos que olharam para Timor como se aqueles fossem os últimos homens que queriam permanecer portugueses porque tinham a nostalgia do Império e dos que tratavam Timor como se fosse uma colónia igual às outras que podia ser entregue à potência do lado, são estas duas maneiras de pensar o problema que, durante muitos anos, impediram que nós pudéssemos tratar o problema de Timor com a dignidade institucional com que necessitava de ser tratado.
Sr. Deputado, estamos dispostos a discutir tudo o que for necessário. Eu, francamente, até penso que à custa de um consenso nacional, que, muitas vezes, é feito de silêncios onde deveria haver fala, não discutimos suficientemente a

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