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9 DE OUTUBRO DE 1998 327

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Queiró.

O Sr. Luís Queiró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: No dia em que o Prémio Nobel da Literatura é atribuído a José Saramago, o Grupo Parlamentar do CDS-PP felicita o escritor e manifesta o seu regozijo por ver o nome de Portugal e a nossa língua assim celebrados internacionalmente.
Esta atribuição do Prémio Nobel não pode ser considerada senão como uma homenagem à plêiade de escritores de extraordinário talento e humanidade no Portugal do século XX, e é assim que a queremos ver. Para além de Fernando Pessoa, podemos recordar aqui hoje, entre outros maiores, os nomes de Jorge de Sena, Miguel Torga, Virgílio Ferreira, Eugénio de Andrade, Agustina Bessa Luís.
Ligamos demasiada importância a prémios, e talvez não prestemos suficiente atenção aos escritores. Que este momento sirva, não só para celebrar o autor, a quem o dia pertence, mas também para recordar os escritores de quem não se fala tanto mas que não honram menos a nossa cultura e a nossa língua.

Aplausos do CDS-PP, do PS e do PSD.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Queria exprimir, em nome de Os Verdes, a satisfação grande que é ver atribuído o Nobel da Literatura a José Saramago.
Através deste Prémio, é o cidadão José Saramago que está de parabéns, é a literatura portuguesa que está de parabéns, é uma língua que é consagrada. São estas várias dimensões, as dimensões de uma língua que une uma comunidade muito grande no planeta, a consagração de uma língua que, em muitos outros nomes, se poderia rever, alguns que aqui foram lembrados, mas também outros que poderiam ser dignos deste Prémio.
Mas é sempre impossível abarcar toda a imensa riqueza de patrimónios que na língua se contêm e que, em Portugal, também poderiam passar por escritores que foram lembrados, mas por muitos outros, como Cardoso Pires, que é seguramente um grande escritor do nosso país.
Este Prémio é, fundamentalmente, a consagração do cidadão, da literatura, da língua, da cultura deste país, na sua diversidade e no momento em que a diversidade, muitas vezes, se perde, está ameaçada e tende a ser anulada por outras lógicas mais dominantes.
Por tudo isso, nós, Os Verdes, queremos saudar este Prémio.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem agora a palavra o Sr. Deputado, também escritor, e grande escritor, grande poeta, Manuel Alegre.

O Sr. Manuel Alegre (PS): - Sr. Presidente, os meus sentimentos, como escritor e como português, são, creio eu, os sentimentos de todos os portugueses neste momento: sentimentos de alegria, de orgulho nacional e de partilha.
Os grandes escritores não precisam de prémios nem, necessariamente, um prémio faz um grande escritor.

O Sr. José Magalhães (PS): - Muito bem!

O Orador: - E nem sempre o Nobel aceita! Mas desta vez acertou e fez justiça! Fez justiça à língua portuguesa, que é a terceira língua da Europa mais falada no mundo; fez justiça à literatura portuguesa; fez justiça à literatura de língua portuguesa; e fez, indiscutivelmente, justiça à obra de um grande escritor português e universal, que é José Saramago.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Porque José Saramago ganhou também por mérito próprio, pela sua obra, pelo seu contributo para a renovação, não apenas do romance português mas da língua portuguesa, da linguagem e dos temas. Ele é um homem com profundas raízes portuguesas mas é um escritor universal.

O Sr. José Magalhães (PS): - Muito bem!

O Orador: - Os seus principais livros são livros daqui e são livros de toda a parte, e os seus temas são temas de agora e são temas de sempre. Recordo, por exemplo, o seu último livro, Todos os Nomes, sem dúvida nenhuma um dos maiores romances da nossa literatura e de qualquer literatura na Europa e no mundo, uma grande reflexão sobre o amor e sobre a morte. É um romance daqui, é um romance de Portugal, é um tema de agora e é um tema de todos os tempos e de todos os lugares. É isso que faz a grandeza de um escritor.
Outros o poderiam ter ganho noutros tempos, Saramago ganhou-o por ele próprio, por mérito próprio. Ganhou pelos mortos, ganhou pelos vivos, ganhou pelos escritores portugueses e ganhou também pelos do Brasil, pelos de Angola, pelos da Guiné, pelos de Cabo Verde e pelos de Moçambique, porque tem grandeza suficiente e a sua obra é suficientemente universal para poder fazê-lo por todos nós.
Quero, finalmente, sublinhar que este Prémio foi também atribuído a um homem civicamente empenhado, a um homem que tomou historicamente partido, a um homem que se interessa pelos problemas do nosso tempo, do seu país e do Mundo. E isso tem também um significado didáctico, um significado pedagógico e está de acordo com os próprios objectivos para que foi criado o Prémio Nobel, que é compensar não só uma obra de grande qualidade literária mas também uma obra que tenha contribuído para a liberdade e para a dignidade do homem. E José Saramago, sendo um grande escritor português, é também um grande escritor humanista.
Portanto, as minhas palavras, neste momento, são de alegria, são de um abraço fraterno a José Saramago e são de obrigado, porque ele ganhou por todos nós e para todos nós.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, para além do voto que tive a honra de propor, e que mereceu a vossa aprovação, gostaria só que José Saramago soubesse que tenho muita honra, uma grande honra, em ser seu compatriota.