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1278 | I Série - Número 031 | 17 de Junho de 2005

 

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares.

O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Governo apresenta condolências à família do Dr. Álvaro Cunhal e ao Partido Comunista Português, que perdeu o seu dirigente histórico, e associa-se à homenagem, mais do que justa, que a Assembleia da República agora lhe presta.
Álvaro Cunhal foi uma figura ímpar do século XX, em Portugal, foi um protagonista de processos políticos em Portugal, desde os anos 30 até à actualidade e, a esse título, faz parte do nosso presente. Mas também faz parte do nosso presente por outras razões, nomeadamente por razões que têm a ver com a sua resistência à ditadura fascista. Teria sido muito mais difícil derrubar o Estado Novo sem a presença e a liderança de Álvaro Cunhal, bem como do esforço da organização que ajudou a desenvolver e a reconstruir.
Álvaro Cunhal teve também um papel de destaque no Portugal pós-25 de Abril onde ocupou lugares muito importantes e onde conduziu a força política, que é a sua, no cumprimento do respectivo programa. Neste sentido, Álvaro Cunhal, como muitos outros, é um dos construtores da democracia portuguesa, tal como ela hoje existe.
Mas a melhor maneira de homenagear Álvaro Cunhal é homenagear aqueles que o homenagearam ontem. E esta é uma forma que Álvaro Cunhal gostaria que seguíssemos.
Basta ler livros como, por exemplo, Levantado do Chão, de José Saramago, e a descrição que aí se faz do que eram as reuniões das células nos anos 40 e 50, no Alentejo, para perceber a força anímica e política que figuras como Álvaro Cunhal deram a muitos milhares de injustiçados e explorados da nossa sociedade.
Álvaro Cunhal, que poderia ter sido um brilhantíssimo advogado ou pintor, um excelente romancista ou contista, escolheu tomar partido. E tomou partido pelo ponto de vista daqueles que lhe pareciam (e eram objectivamente) os dominados de então, os "danados da terra" de então. Tomou o partido por esse ponto de vista e acreditou que era possível mudar as situações que denunciava.
Tentou mudar, segundo a sua visão do mundo, que não é necessariamente igual à de nós todos - não é igual à minha, mas também se as minhas homenagens se limitassem a homenagear aqueles que têm a minha visão do mundo, elas não poderiam ser chamadas homenagens mas, sim, seguidismo -, e lutou da forma como entendeu, segundo as perspectivas que entendeu.
Ganhou umas batalhas e perdeu outras. Felizmente ganhou umas e felizmente perdeu outras, mas fê-lo a partir desta posição inicial de tomada de partido a favor daqueles que são os mais humildes, os mais pobres, e acreditando que era possível mudar a sua situação. Esta foi, do meu ponto de vista, a homenagem que um larguíssimo conjunto da sociedade portuguesa e a opinião pública portuguesa no seu todo prestaram ontem a Álvaro Cunhal. E, repito, a melhor maneira de homenagear Álvaro Cunhal é homenagear essa gente que assim o homenageou.

Aplausos do PS e da Deputada do PCP Luísa Mesquita.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.

O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.as e Srs. Deputados: Em duas singelas páginas o meu camarada Álvaro Cunhal expressou aquilo que considerou como a sua última vontade: ser-lhe-ia muito grato, para além de não haver pronunciamento de discursos, que no funeral estivessem presentes os seus camaradas, dos mais responsáveis aos mais modestos e desconhecidos, junto dos quais lutou antes e depois do 25 de Abril, até aos últimos dias da sua vida, os familiares a quem muito amava, amigos sem partido, homens e mulheres e jovens que se habituou a estimar e a respeitar e outros que quisessem estar presentes com respeito que, como comunista, foi toda a sua vida, com virtudes e defeitos, méritos e deméritos como todo o ser humano.
Quiseram os comunistas, os trabalhadores, os jovens, os democratas, os patriotas, o povo português não só corresponder ao seu desejo como ultrapassá-lo pela grandeza, participando num acto de homenagem incomparável na sua história.
A própria forma como decidiu do destino dos seus restos mortais revela o seu carácter de recusa do mito e do culto da personalidade. Não ficaremos com as suas cinzas. Guardaremos a sua imagem e o seu exemplo no coração da nossa memória, acolhendo as suas ideias e a sua obra como um legado intrínseco ao nosso projecto e à nossa luta, ao nosso Partido, à democracia, como instrumentos de trabalho e de análise ligados à vida, ao tempo que vivemos e ao devir colectivo.
A sua morte física provoca-nos um profundo sentimento de dor e perda.
Perdemos um grande homem, um obreiro de causas e projecto libertadores.
É certo que o tempo de vida de uma pessoa é sempre um tempo curto no processo histórico e na evolução da sociedade humana. Também o foi a vida de Álvaro Cunhal. Mas ele teve o privilégio de viver tempos fascinantes e dramáticos carregados de acontecimentos onde não se limitou a observar e a interpretar mas antes a ser um protagonista na luta pela liberdade do seu povo e pela democracia do seu País, sem abdicar das suas visão e dimensão internacionalistas.

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