54 | I Série - Número: 063 | 27 de Março de 2008
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o voto apresentado sobre os acontecimentos no Tibete traz considerações das quais discordamos, assentando em pressupostos que, reproduzindo mensagens difundidas internacionalmente, incluindo imagens de acontecimentos de fora da China apresentadas como tendo aí ocorrido, não correspondem, com rigor, à realidade.
Protestos do PS e do PSD.
Não está em causa a manifestação de pesar do PCP em relação às vítimas, o seu desejo de que os conflitos tenham uma resolução rápida e pacífica, bem como os princípios do PCP de defesa da democracia e dos direitos humanos. O que está em causa é o facto de estar em curso uma grande operação contra os Jogos Olímpicos de Pequim, …
Protestos do PS e do PSD.
…real mola por detrás de uma escalada de provocação e de muitas das falsas indignações a que vamos assistindo na cena política internacional.
É curioso, aliás, que continue a falar-se do Tibete como território ocupado pela China quando nem as potências que instigam e apoiam movimentos de orientação separatista que estão na origem das acções violentas — de que até Dalai Lama já se demarcou — põem em causa a integridade do território da República Popular da China, incluindo o Tibete como região autónoma. Isto vem, aliás, acompanhado em geral de uma sistemática deturpação dos acontecimentos históricos.
Seria preciso lembrar, para reintroduzir algum rigor, que desde o século XIII que o Tibete está unido, com diversos graus de autonomia, à China e que, no início do século XX, a região foi invadida pela Grã-Bretanha a partir da Índia. Seria até preciso lembrar que à época da Revolução Popular chinesa, em 1949, vigora no Tibete um regime feudal, onde a maioria da população era constituída por servos e escravos, com uma forte concentração da terra e dos meios de subsistência.
Seria até preciso lembrar que o actual Dalai Lama, antes de se assumir como dirigente do chamado governo no exílio, integrou, ele próprio, a primeira Assembleia Nacional Popular da China, que elaborou a constituição chinesa.
Neste processo, invocam-se e inventam-se argumentos para justificar actuais e futuras linhas de confronto e de afronta ao Direito Internacional, com origem nos mesmos de sempre: aqueles que já há cinco anos não se coibiram também de inventar a existência de armas de destruição em massa como suporte de uma guerra que destruiu o Iraque e impôs incontáveis sacrifícios ao seu povo. É por isso que assume especial importância, neste caso, o respeito pelo Direito Internacional, tantas vezes violado, para dar lugar a acções de ingerência, directa ou indirecta, procurando impor interesses estratégicos e económicos.
É por tudo isto que não votamos o voto apresentado.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, há determinados princípios que Os Verdes defendem intransigentemente: a condenação da violência, a defesa dos direitos humanos, a resolução pacífica de conflitos e o respeito pelo Direito Internacional. Não há dúvida sobre isto.
Vozes do PSD: — Mas…