8 | I Série - Número: 024 | 11 de Dezembro de 2008
mobilidade especial? Como pode a reestruturação da indústria da construção naval prescindir dos saberes de centenas de trabalhadores especializados? Em segundo lugar, toda a lógica subjacente ao processo de transferência dos trabalhadores os empurra para assinar contratos individuais com a nova empresa, à margem de qualquer acordo colectivo e prescindindo do actual estatuto da função pública, ou seja, com diminuição objectiva dos seus direitos e regalias.
Em terceiro lugar, a nova empresa SA significa, desde logo, a perda de benefícios sociais relevantes: para já, anuncia-se o encerramento da creche do Arsenal do Alfeite, que, actualmente, beneficia centenas de famílias de funcionários da empresa.
Os trabalhadores do Alfeite, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, estão justamente em luta contra a reestruturação anunciada e o seu lastro de privatização à vista, de despedimentos disfarçados, de perda de direitos e garantias, frutos de uma longa, dura e ímpar tradição de luta dos trabalhadores do Arsenal.
Esta bancada presta-lhes, desde aqui, a sua solidariedade, pela defesa do sector público da construção naval, pela defesa dos direitos dos «arsenalistas», pela salvaguarda da economia nacional e pela defesa da dignidade de quem trabalha.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — A declaração política do Sr. Deputado Fernando Rosas gerou quatro inscrições para pedidos de esclarecimento, a que, com certeza, o Sr. Deputado responderá, individualmente, senão a gestão parlamentar não seria credível, já que, deste modo, tem direito a mais tempo de resposta.
Risos.
O Sr. Fernando Rosas (BE): — O Sr. Presidente, com a sua sabedoria, tira-me as palavras da boca.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Rosas, quero felicitá-lo por ter trazido ao Plenário da Assembleia da República a questão do Arsenal do Alfeite.
Aproveito este pedido de esclarecimento para manifestar também a solidariedade do Grupo Parlamentar do PCP para com os trabalhadores do Arsenal do Alfeite, que, confrontados com as decisões do Governo relativamente à empresa onde trabalham, têm razões para estar inquietos quanto ao futuro, e não apenas quanto ao futuro do sector público da indústria naval, de que o Arsenal do Alfeite é um dos maiores representantes, mas também quanto ao seu futuro profissional.
Mas a questão que lhe quero colocar, Sr. Deputado, tem a ver, em primeiro lugar, com a forma como a Assembleia da República, particularmente a Comissão de Defesa Nacional, foi tratada pelo Governo e pela maioria neste processo. E digo «pelo Governo e pela maioria», porque o Governo falhou em todos os compromissos que havia assumido para com a Comissão de Defesa Nacional, de fornecer a esta Assembleia informação atempada sobre as suas intenções relativamente ao Arsenal do Alfeite, mas a maioria, alguns dias antes de o Governo anunciar a sua posição, já tinha apresentado aqui, aquando do debate, na especialidade, do Orçamento do Estado, uma proposta que só poderia ter sido feita, sabendo de antemão o que o Governo iria fazer em relação ao Arsenal do Alfeite.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, tratou-se não apenas de uma deslealdade por parte do Governo mas também de uma deslealdade parlamentar por parte da maioria.
Uma outra questão tem a ver com a forma como os trabalhadores não foram ouvidos neste processo, ou seja, foram chamados ao Ministério da Defesa uma hora antes da conferência de imprensa em que o Governo iria anunciar o futuro do Arsenal do Alfeite. E o paralelismo que o Sr. Deputado aqui traçou com as Oficinas