13 DE JANEIRO DE 2011
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O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Podemos aceitar que esse recebimento em excesso tenha sido por via
inadvertida, por lapso, por erro, por desconhecimento; já não podemos aceitar aquilo que o Sr. Deputado
Jorge Machado disse, isto é, que uma vez recebido, pertence. Não pertence, porque foi recebido
indevidamente.
Protestos do PCP.
O que o Governo está a pedir agora é a restituição do que foi devido em excesso. Nada mais! Não há
alarme social e entendo que a situação é extremamente clara!
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, o Sr. Deputado Artur Rêgo coloca as
questões de uma forma abstrata, mas importa falar dos casos concretos, e estes não «pintam o cenário» como
o Sr. Deputado referiu.
Quem recebe reformas da ordem dos 400 ou 500 € não acredita que está a receber um valor acima do que
devia.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não acredita, mas é o que diz a lei!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — As pessoas receberam de boa-fé porque a segurança social lhes enviou
esse montante e acreditaram que era o montante a que tinham direito.
O que faz o Governo? Com um elevadíssimo grau de insensibilidade social e numa altura em que as
dificuldades apertam, em que os idosos passam gravíssimas dificuldades, o Governo tira 100 € numa reforma
de 400 ou 500 €. Onde vai o discurso do CDS-PP sobre os reformados e os pensionistas?!…
Vozes do PCP: — Ora bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Já lá vai, não é, Sr. Deputado?
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Além de cortar 100 € na reforma de quem recebe 400 €, o Governo
pretende que as pessoas devolvam o dinheiro que, suposta e devidamente, receberam desde 2007 até hoje.
Acha legítimo que uma pessoa que recebe 418 € de reforma seja notificada para pagar 5000 € de prestações?
Que culpa é que teve essa pessoa, Sr. Deputado? Nenhuma! Não é legítimo nem é aceitável que se exija
estes montantes! Essa pessoa recebeu de boa-fé e não tinha maneira de saber que não podia receber.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Omitiu uma declaração obrigatória e está de boa-fé?!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Portanto, a culpa não é das pessoas. A culpa é dos governos, que
andaram a destruir os meios da segurança social, andaram a destruir os recursos humanos da segurança
social, e agora acontecem estas coisas! Não é legítimo exigir estes montantes.
Também não se percebe por que razão há uma mão tão dura para quem recebe 400 ou 500 € e não é dita
uma palavra relativamente à prescrição de dívidas na segurança social. Nos últimos cinco anos, houve 4800
milhões de euros que foram perdoados, que foram eliminados das dívidas da segurança social sem que o
Governo tomasse uma única medida para fiscalizar se houve fraude ou não. Então, em que ficamos? Por que
razão há dualidade de critérios? Há uma mão tão pesada para quem recebe 400 ou 500 € e o Sr. Deputado