13 DE JANEIRO DE 2011
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A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, quero, em primeiro lugar,
saudá-lo pela sua intervenção e pela denúncia que aqui fez.
O Sr. Deputado apresentou alguns exemplos, mas eu também queria acrescentar mais alguns recolhidos
das imensas cartas que têm chegado ao Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, para que todo o Plenário
saiba da dimensão, da brutalidade destas notificações não só aos pensionistas como a todos os outros
beneficiários que têm recebido pensões sociais.
Uma das cartas dá conta de um pensionista que recebe 114,56 € de um organismo estrangeiro (porque
trabalhou no estrangeiro) e que recebe da segurança social 274,79 €. A carta que recebeu dá-lhe conta, sem
nenhuma justificação legal, que esta pensão passará para 195,40 €, o que significa que, neste caso concreto,
estamos perante uma pessoa que recebe, no total, 389,35 €, ao qual o governo do Ministro Mota Soares vai
cortar 80 €, ou seja, nos primeiros 15 dias deste ano o Ministro Mota Soares transformou-se num perigo
público para os pensionistas e para os beneficiários da segurança social. É a política do terror para com os
mais pobres!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Por isso, Sr. Deputado, concordando com a sua intervenção, queria ainda
perguntar-lhe se não acha que o Ministro deve vir ao Parlamento explicar tudo o que se passa com clareza.
O Ministro não pode esconder-se, como tem feito nos últimos tempos, em cartas como estas, que são
absolutamente ilegais, dirigidas aos mais pobres dos pobres e dirigidas às pessoas que vivem com tantas
dificuldades, a quem já não bastava os aumentos dos preços da eletricidade, dos transportes, dos
medicamentos, do gás e de todos os bens essenciais para a sua sobrevivência. Estão agora a ser
perseguidos, porque é este o termo, por um Ministério e por um Ministro que tanto defendeu a ética social na
austeridade.
Pedia, pois, ao Sr. Deputado um comentário a este assunto.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — O Sr. Deputado Jorge Machado informou a Mesa que pretende responder
individualmente a cada pedido de esclarecimento.
Tem, então, a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, agradeço
a reflexão que colocou em cima da mesa, que me dá oportunidade para explicar todo este processo, porque
está criado o cenário em que os membros do Governo, nomeadamente o Ministro da Solidariedade e
Segurança Social, Pedro Mota Soares, do CDS-PP, bem como um Sr. Secretário de Estado do PSD, dizem
que há uma questão de fraude e de recebimento ilegítimo por parte das pessoas.
Importa pegar nos casos concretos que aqui foram denunciados, casos de pessoas que recebem uma
reforma, quer da segurança social, porque descontaram para a segurança social uma vida inteira de trabalho,
quer da Caixa Geral de Aposentações para a qual também descontaram uma parte da sua carreira
contributiva. E o que é que acontece? A segurança social justifica-se, dizendo que está a aplicar uma lei de
2007 e que desde 2007 o complemento que a pessoa recebia, porque a reforma era efetivamente muito baixa,
não é legítimo.
Ora, o que é que o Governo pretende fazer? Dizendo que está a aplicar uma lei de 2007, corta no plano
imediato, corta já uma parte significativa de uma reforma, o que é verdadeiramente inaceitável, tendo em conta
todo o aumento do custo de vida que está colocado aos reformados portugueses.
Mas, ao mesmo tempo, o que é que diz o Governo? Diz que esta pessoa deve devolver todo o
complemento que recebeu desde 2007 até aos dias de hoje. Isto é verdadeiramente inaceitável. Primeiro,
porque os reformados não têm qualquer tipo de obrigação de saber que a sua reforma foi alterada nas
condições por via da lei. Segundo, porque se o Governo não aplicou a lei na devida altura, a culpa não é dos
reformados, que receberam a sua pensão de boa fé, acreditando que aquele era o seu valor justo.