I SÉRIE — NÚMERO 60
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Ao definir um limite de 150 horas anuais e 10 horas semanais, nos contratos individuais de trabalho, o
Governo abriu caminho a todos os abusos.
Alguém acredita que um trabalhador isolado e aterrorizado com o desemprego crescente tem alguma
capacidade para não aceitar o horário apresentado pelo patrão?
É a velha ideia da direita, que nunca reconheceu a desigualdade existente nas relações de trabalho.
Alguém acredita que Belmiro de Azevedo e a trabalhadora da caixa do hipermercado estão em pé de
igualdade quando se trata de negociar condições de trabalho? Não estão, e o Governo sabe bem que não
estão.
O que não vai faltar, com os bancos de horas individuais, são horários que colocam a vida dos
trabalhadores e trabalhadoras de pantanas.
Quem é que sabe, com a imprevisibilidade dos horários, quando é que pode ir buscar os filhos à creche ou
à escola? Quem é que tem tempo para os seus filhos quando o sábado pode ser um dia como os outros,
semana após semana?
Com este acordo atinge-se o impensável. As férias, agora, são quando os patrões quiserem. Obrigar os
trabalhadores a abdicarem das suas férias nos dias em que as empresas decidem fazer ponte tem um nome e
apenas um nome: é um lockout semanal.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — A primeira reação da UGT, depois do entendimento com o Governo e
patrões, foi reconhecer que este era um mau acordo para os trabalhadores, mas assinava-o porque ainda
podia ser pior.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exacto!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Com esta lógica pode assinar-se qualquer acordo, porque será sempre
possível ser pior. Para esta central sindical, o inferno parece ser o limite.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — A primeira frase do Ministro Álvaro Pereira ontem, num canal televisivo, foi
sintomática do irrealismo que marca o Governo. Este acordo, dizia, «mostra ao mundo, e aos mercados, que
os portugueses se sabem unir». Acalmar os mercados é a senha do Governo para todas as suas medidas de
austeridade e retrocesso social: acalmar os mercados para justificar o aumento de impostos; cortar os
subsídios de natal e de férias para mostrar aos mercados. O PSD e CDS governam para os mercados, mas
quando tomaram posse pagávamos 9,3% de juros e hoje vamos nos 14,7%.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Em nome da acalmia dos mercados, a direita prepara-se para destruir o
País.
Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo que, em nome da acalmia dos mercados,
coloca o País no desassossego, verá, certamente, a indignação de um País que não aceita ser chantageado e
pisado nos seus direitos.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Roque.
O Sr. Pedro Roque (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo
esta minha intervenção por agradecer ao partido proponente deste debate de atualidade a oportunidade de se
discutir no Parlamento a celebração do Compromisso para o Crescimento a Competitividade e o Emprego.