I SÉRIE — NÚMERO 117
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Um ano depois, o País está bem pior e, como então tínhamos avisado, nem mesmo a dívida pública
desceu, bem pelo contrário. Em 2011 pagámos mais de 6200 milhões de euros de juros e encargos, com uma
taxa média superior à de 2010. Apesar disso, a dívida pública continuou sempre a aumentar, subiu para 184
000 milhões, mais 23 000 milhões de euros que em 2010.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Essa é que é a verdade!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Ao contrário do que o PS, o PSD e o CDS insinuaram há um ano, a dívida
pública não está nem vai diminuir, pelo contrário, vai continuar a aumentar. Em 2014, o País vai pagar 8300
milhões de euros de juros e encargos para que a dívida suba para um valor superior a 200 000 milhões de
euros. É mesmo o próprio Governo quem o diz.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O serviço da dívida, incluindo o que resulta
do empréstimo de 78 000 milhões, concedido por contrapartida das condições políticas aviltantes impostas no
Memorando da troica, conjugado com a fortíssima contração da atividade económica, faz com que a dívida
pública seja impagável nas atuais condições.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Este é o caminho do desastre que nos pode conduzir a um novo resgate, e
com ele a mais troica, mais ingerência e a mais usurpação da soberania nacional, a mais ataques ao quadro
constitucional resultante do 25 de Abril.
Há que travar este caminho. Há que criar um outro rumo, uma alternativa patriótica que rompa com o
Memorando da troica, uma alternativa de esquerda que rompa com as políticas do pacto de agressão.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Muito bem!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Uma alternativa que, tal como fizemos em Abril de 2011 e hoje atualizamos,
estabelece as orientações a usar pelo Governo para renegociar a dívida pública, determinando a sua origem,
legitimidade e natureza, fixando um serviço de dívida compatível com as condições de crescimento da
economia portuguesa, que inclua adequados períodos de carência, prazos alargados de amortização e
pagamentos anuais de juros indexados ao crescimento das nossas exportações.
Uma alternativa que, a par da dinamização de instrumentos de poupança e da diversificação das fontes de
financiamento, defenda a reutilização de parte da tranche do empréstimo da troica destinado à recapitalização
da banca privada, afetando-a também à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e ao financiamento direto
da nossa economia.
Uma alternativa que, a par de cortes ou rescisões unilaterais de contratos abusivos em PPP ou com rendas
elétricas, aposte também num forte crescimento centrado na dinamização do mercado interno, com a
dignificação de salários e reformas, promova o investimento público reprodutivo e a plena utilização dos
fundos comunitários, reforce e proteja a capacidade produtiva nacional e o setor empresarial do Estado,
permitindo, desta forma, substituir importações e reforçar a componente exportadora, tornando o País, assim,
menos dependente e mais capaz de equilibrar, de forma sustentada e sustentável, as contas públicas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Estas são as ideias centrais da resolução que o PCP hoje apresenta, com a
convicção de que elas constituem o consenso mínimo para travar o caminho para o abismo a que nos estão a
conduzir a troica e este Governo, com a convicção de que elas defendem Portugal, os trabalhadores e o nosso
povo, com a certeza de que constituem uma barreira contra a submissão do País face a imposições e a
interesses externos.