28 DE JUNHO DE 2012
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas, Sr. Deputado, nós temos uma visão da construção europeia que, sem ser
voluntarista nem visionária, é uma visão positiva e construtiva. Portugal, como já tive ocasião de aqui
assinalar, deve à sua integração europeia uma parte importante do processo político e não apenas económico
e social que conseguiu realizar a partir de 1974.
A Europa, em si própria, tem progredido seja ao nível da instituição de um método comunitário cada vez
mais robusto, apesar das tentativas de diretório, e tem conseguido, ao longo destes anos, mostrar-se mais
ambiciosa.
Eu acredito na construção europeia e não deixarei, como Primeiro-Ministro de Portugal, de acrescentar
uma palavra de esperança e uma palavra construtiva sobre esse processo.
Sabemos que não é um processo simples, porque todos os processos de partilha de soberania implicam,
evidentemente, uma discussão intensa e são questionáveis do ponto de vista da sua legitimação, por isso
temos procurado que estes processos possam ir sendo escorados num aprofundamento dos poderes dos
Parlamentos nacionais sobre o processo de construção europeia, como tem acontecido, mesmo que os
parlamentos nacionais, por vezes, não aproveitem inteiramente essas oportunidades.
Cremos, evidentemente, que esta visão positiva, que foi sendo construída ao longo dos anos sobre a
Europa, não nos impeça de confrontar os problemas que existem. Os europeus — não foram só os
portugueses — demoraram demasiados anos a confrontar os problemas verdadeiros.
Não é possível viver indefinidamente ignorando os verdadeiros problemas e a realidade. E o que estamos
hoje a fazer na Europa, podendo parecer, em grande medida, um processo difícil, é, no entanto, um processo
necessário para ultrapassarmos esses problemas e eu acredito que, tal como Portugal sairá mais forte desta
crise em que mergulhámos, que a Europa também sairá mais forte deste processo, em que a construção
europeia tem a oportunidade de se poder densificar e aprofundar.
Isso exige, tal como está delineado no projeto de conclusões, e muito em sintonia com o que, de resto, foi
recomendado, até pelo Parlamento português — e que eu não deixei de defender —, que exista uma
organização de caminho estratégico para o crescimento e para o emprego que possa ser complementar dos
tratados que aprovámos.
E isso é muito enfatizado no projeto de resolução que aqui também será hoje votado no Parlamento. Nós
não precisamos, não como o Partido Socialista propôs de início, e a que, e bem, a maioria parlamentar se
opôs, de ter um anexo ao tratado que reabrisse a discussão dos tratados e que obrigasse a pôr em causa o
consenso que já se tinha gerado na União Europeia, mas podemos ter perfeitamente um ato adicional ou,
como foi referenciado, um pacto para o crescimento e emprego que seja complementar dos tratados que
aprovámos.
E o conteúdo que se adivinha deste roteiro que está traçado coincide, em grande medida, com as opiniões
que temos vindo a exprimir.
Faço, nesta oportunidade, um sublinhado que me parece, apesar de tudo, importante: nenhum dos
exercícios que estamos a realizar na Europa será bem-sucedido se não conseguirmos aliviar a restrição
financeira em que as economias estão a viver — não é os Estados soberanos, é as economias — e isso
depende muito, e bem, da oportunidade de reforçar o capital do Banco Europeu de Investimentos; depende, e
bem, de aumentarmos as possibilidades de elegibilidade de outros instrumentos, nomeadamente dos fundos
estruturais para colateral de novas medidas que possam estar mais próximas das entidades que defendem o
emprego, como é o caso das pequenas e médias empresas; e depende, e bem, da possibilidade de estruturar
melhor os projetos transnacionais, que aproximem a periferia do centro e, portanto, que corrijam as
disparidades e as assimetrias que ainda existem.
Precisamos de combater mais eficazmente, no curto e no médio prazos, o flagelo do desemprego. Em
particular os países que têm sido mais afetados por esse flagelo, como é o caso de Portugal, tiveram já a
oportunidade de apresentar programas específicos, como foi o nosso caso e o de outros sete países na União
Europeia, de modo a ativar políticas que respondam no curto prazo, sobretudo com incidência no desemprego
jovem.
Sr. Deputado, termino, dizendo que precisamos de mais Europa e de maior aprofundamento da construção
europeia. As duas coisas virão sempre a par.
Da mesma maneira que a solidariedade e o esforço de coesão não pode deixar de ser acompanhado de
responsabilidade e de exigência, seja nas políticas orçamentais, seja nas políticas económicas, assim também