I SÉRIE — NÚMERO 127
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Diz também o Observatório Português dos Sistemas de Saúde: «O racionamento chegou mesmo ao SNS».
E diz o Prof. Manuel Antunes (acho que insuspeito de simpatias com a ala esquerda desta Câmara):
«Querem aposentar o SNS».
O diagnóstico é generalizado e fazem bem mal em não ouvir os sinais de preocupação que vêm de todo o
lado sobre a situação dramática em que vivem muitos serviços.
Mas, quero dizer-vos, há um segundo diagnóstico que este debate permite fazer. Esse diagnóstico é o da
profunda amnésia que acometeu os partidos de direita que sustentam o Governo, é uma amnésia muito grave.
O que é feito, Srs. Deputados do CDS, daquela solução miraculosa para a política do medicamento, a
unidose, que ia resolver tudo? Começava a unidose e acabavam-se os problemas das famílias, do Estado,
enfim, tudo seria «um mar de rosas». Ao fim de um ano, ainda não arranjaram solução para a unidose?!
Aplausos do PS.
Protestos da Deputada do CDS-PP Teresa Caeiro.
O que é feito, Srs. Deputados do PSD e do CDS, do amor acrisolado ao setor social da saúde, da proteção
da intervenção das misericórdias e das IPSS?! É não abrindo as unidades de cuidados continuados, que estão
prontas a funcionar e estão fechadas, que protegem as misericórdias?! É adiando os pagamentos às
misericórdias que protegem o setor social? Pura hipocrisia política!
Sr.as
e Srs. Deputados, a questão do pagamento às misericórdias e ao setor social da saúde não é uma
questão financeira, é uma opção política.
Aplausos do PS.
Uma redução de 1% da transferência para os hospitais do Estado em cada mês permitiria ter em dia as
contas com as misericórdias e é a essa conta que os senhores querem, reiteradamente, fugir.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Mas, mais ainda: um último sintoma da amnésia é a preocupação com o Interior. Então, como se
compagina essa preocupação como o Interior com a indiferença e com a retirada de serviços? Então, os
helicópteros de transporte de emergência pré-hospitalar não são mais necessários precisamente onde as
pessoas estão mais isoladas e mais distantes da prestação de cuidados?! Durante quanto tempo vão os Srs.
Deputados do PSD e do CDS eleitos pelos distritos do Interior manter o silêncio sobre essa retirada do sistema
de emergência médica que tão laboriosamente foi criado no Interior?
Aplausos do PS.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — 3000 milhões de euros! Onde é que eles andam?
O Sr. Manuel Pizarro (PS): — Ou vão fazer, mais ainda, um discurso dúplice, uma conversa nos seus
locais de eleição e um discurso diferente aqui, no Parlamento, embora — reconheçamo-lo! — cada vez mais
embaraçado e envergonhado?!
Nesta matéria, quero dizer-lhes, Srs. Deputados do PCP, que é muito oportuna a questão que aqui trazem
à discussão porque esta é a altura própria para aqui fazermos um balanço.
Ao fim de um ano, nenhuma proposta da área do Governo para melhorar o Serviço Nacional de Saúde,
apenas a lamentação pela herança. Mas os senhores não foram eleitos para se lamentarem, foram eleitos
para governar e eu deixei-vos dois números sobre a herança — dois números!
Protestos de PSD e do CDS-PP.