I SÉRIE — NÚMERO 3
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Francisco Louçã, se há coisa que não faço é
fugir às minhas responsabilidades. Assumo sempre as minhas responsabilidades, por isso respondo
diretamente às perguntas que o Sr. Deputado me colocou.
O conjunto de medidas que foi acordado, no âmbito da negociação com a troica, foi aprovado em Conselho
de Ministros. Foi essa a sua pergunta, não foi, Sr. Deputado?
O Sr. Francisco Louçã (BE): — Uma delas foi!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Vou responder, Sr. Deputado. O Sr. Ministro das Finanças não fecha um
acordo de negociação com a troica e não vai à reunião do Eurogrupo, como foi, comunicá-las sem que o
Conselho de Ministros o mandate para esse efeito. Portanto, Sr. Deputado Francisco Louçã, o Sr. Ministro das
Finanças teve mandato do Conselho de Ministros para o fazer.
Em segundo lugar, o Sr. Deputado disse: «porque não põe uma moção de confiança?». É verdade, Sr.
Deputado, que à oposição cabe a escolha sobre se deve ou não apresentar moções de censura e ao Governo
saber se quer ou não apresentar moções de confiança. Se o Governo e o Primeiro-Ministro tivessem razões
para supor que não tinham a confiança deste Parlamento, a primeira coisa que fazia era apresentar uma
moção de confiança. Mas não foi isso que eu decidi, Sr. Deputado. Portanto, creio que respondi também à sua
segunda pergunta.
Em terceiro lugar, o Sr. Deputado disse: «bem, mas os senhores têm divergências na coligação». Sr.
Deputado, não faço de conta, vivemos em democracia, presido a um Governo de coligação e tivemos
dificuldades; elas ocorreram, não se varrem para debaixo do tapete, fala-se olhos nos olhos sobre elas, como
é evidente.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Institucionalmente, porque é assim que as coisas se resolvem, essas dificuldades são abordadas e são
respondidas.
Fico muito satisfeito por saber que a primeira vez que apareceram dificuldades públicas nos dois partidos
que suportam a maioria, essas dificuldades ficaram resolvidas institucionalmente entre os dois partidos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Fico satisfeito, Sr. Deputado, porque o País não precisa de nenhuma crise política, pelo contrário, o País
precisa de coesão para vencer as suas próprias dificuldades e, Sr. Deputado, nunca me demitirei das minhas
responsabilidades nem da minha missão de ajudar a vencer essas dificuldades a partir do meu posto, que é o
Governo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Louçã.
O Sr. Francisco Louçã (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, este é um momento muito sério. O
Sr. Primeiro-Ministro não teve divergências entre os partidos da coligação, teve divergências no Governo que
foram pretexto para campanhas públicas do Governo. E o que o Sr. Primeiro-Ministro aqui nos disse é que o
Conselho de Ministros mandatou o Ministro de Estado e das Finanças para defender, a nível internacional, um
conjunto de propostas do Governo e que houve outro Ministro de Estado que veio dizer, em público, que
discordava delas e que discordava de si. É exatamente isso que se conclui deste debate e é por isso, aliás,
que eu percebo aquele momento de ternura do Ministro Miguel Relvas a dizer que ainda tem confiança no
Ministro Paulo Portas.
Mas a verdade é a seguinte: esta é uma crise gravíssima, porque não se governa assim, Sr. Primeiro-
Ministro. Governa-se respondendo, governa-se decidindo e governa-se com transparência e com um projeto
sobre o País.