I SÉRIE — NÚMERO 5
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Onde está o sentimento de justiça e de equidade cada vez que apoiam nesta Assembleia da República as
medidas deste Governo? Onde está, Sr. Deputado?
Quando, da tribuna, fala de populismo, pergunto-lhe onde estava o Sr. Deputado na noite em que o Sr.
Primeiro-Ministro anunciou as medidas relacionadas com a TSU e o Sr. Ministro das Finanças anunciou
posteriormente as restantes medidas que o seu Governo se prepara para levar por diante, o saque ao povo
português.
Sr. Deputado Fernando Negrão, Sr.as
e Srs. Deputados do PSD, o recuo que o Governo foi obrigado a fazer
em relação à TSU não resulta de mais nada a não ser da luta que o povo português travou contra essas
medidas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — E podem os senhores estar convencidos de uma coisa: se estão à espera
de encobrir todas as outras medidas que estão em preparação devido a esse recuo quanto à TSU, vão
encontrar na Assembleia da República, e fora dela, o PCP a desmascarar essa manobra.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente,
Se estão à espera de com esse recuo justificarem todas as outras medidas injustas e iníquas que não
distribuem por todos os sacrifícios, ainda por cima responsabilizando pela crise do capital quem não é
responsável por ela, encontrarão nesta Assembleia da República, e fora dela, a luta do Partido Comunista
Português, do povo e dos trabalhadores deste País.
A questão que se coloca é se vão ou não mudar de políticas.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Fernando Negrão, falou em honrar a palavra
e em combater a demagogia. Quero, por isso, perguntar-lhe o que é que o seu Governo fez desde a
campanha eleitoral, quando a promessa era não cortar nos salários dos portugueses, não cortar nas pensões,
não aumentar os impostos. Onde é que está esse honrar a palavra com as políticas deste Governo?
É verdade que, desde a grande manifestação de dia 15 de setembro, as bancadas que sustentam o
Governo não têm tema, tirando a questão da rotunda do Marquês.
A expetativa que hoje aqui se criou foi a de que, porventura, o Sr. Deputado vinha falar, perante a Câmara
e os portugueses, das medidas que estão a ser cozinhadas silenciosamente, num País que continua em
suspenso sabendo que o corte nos salários e nas pensões continua a ser congeminado neste silêncio sinistro.
Mas, não tendo tema, o Sr. Deputado veio aqui fazer um apelo à honra, um apelo ao compromisso, um apelo à
responsabilidade. Sr. Deputado, pergunto-lhe, mais uma vez, o que é isso de honrar a palavra.
Como pode dizer aos portugueses e às portuguesas que saíram à rua nos dias 15 e 21 e que sairão no
próximo sábado, como é que pode dizer aos homens e às mulheres que não têm trabalho, que não podem
sustentar a sua família, que este Governo está a honrar a palavra? Mas qual palavra, quando em campanha
eleitoral os senhores prometiam exatamente o oposto: não aumentar impostos, não cortar nos salários, não
cortar nas pensões, e já tinham assinado o Memorando de Entendimento, é bom não esquecer?
Como é que pode vir aqui falar-nos hoje em honrar a palavra depois destas políticas que o Governo
implementou durante todos estes meses? Não pode fazê-lo, Sr. Deputado, porque isso é, evidentemente, uma
estratégia populista, e o povo português sabe que o contexto não é este, o contexto é o de mobilização contra
as políticas de austeridade, em nome exatamente da responsabilidade e do futuro que este País merece e que
os nossos filhos merecem.
Aplausos do BE.