I SÉRIE — NÚMERO 5
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O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, as bancadas da direita, se o
quisessem, poderiam ter esclarecido quais são os «ventos favoráveis» a que se referiu o Sr. Primeiro-Ministro,
porque, segundo ele, temos «ventos favoráveis». Não sei se são algumas flexibilizações do Banco Central
Europeu!? Precisávamos de ter percebido quais eram os «ventos favoráveis». Não seriam, seguramente, os
ventos do Norte, os ventos do Sul, que refere Camões!
Também podiam ter vindo aqui com a lírica dizer, talvez, que «Perdigão perdeu a pena»… Ou, enfim, tentar
encontrar alguma outra passagem de Camões para se explicarem, hoje, perante o povo português.
Risos do Deputado do BE Francisco Louçã.
Mas não o quiseram fazer.
Na verdade, do que precisamos é de uma política diferente, da renegociação da dívida, de rasgar o
Memorando com a troica, de encontrar novos caminhos. Porque, se o Primeiro-Ministro lá vai descobrindo que
a troica é o Adamastor, o cabo tormentório que ele dobra, enfim, é tempo de pôr um cobro total a isso e
reencontrarmos outros caminhos que permitam o relançamento da nossa economia. Isso não tem acontecido.
Creio que agora está a tentar-se descomprimir, antes de apresentar a fatura. Mas isso não será assim!
Conforme quer o Bloco de Esquerda quer o Partido Comunista Português têm vindo a acentuar, já no
próximo sábado, temos mais uma manifestação, mais um clamor da sociedade portuguesa, e essa é sentida
como sobressalto cívico pelos partidos da maioria e pelo Primeiro-Ministro, por um Governo que perdeu
definitivamente a sensibilidade social e o tempo da comunicação com os portugueses.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Negrão, do
PSD.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Existem momentos em que a
História nos ultrapassa, momentos em que, pela sua gravidade, pela magnitude dos problemas e pela
transcendência das suas consequências, somos todos postos à prova.
Este é um desses momentos onde nos é exigido prudência, seriedade, responsabilidade e sentido de
justiça.
Temos de ser prudentes, porque momentos de crise financeira e económica são sempre momentos de
crise institucional. É, por isso, crucial, manter rigor na leitura das circunstâncias, sentido de Estado nas
relações institucionais e racionalidade e sentido da medida nas relações políticas.
Portugal necessita de estabilidade e não de discursos de guerrilha.
É, por isso, necessário evitar a demagogia no discurso, ponderar os atos e refletir acerca das respetivas
consequências.
Momentos de crise são sempre, repito, momentos de perturbação. O que ocorre a todos os níveis, com a
economia ferida, com o tecido social fragilizado, com as famílias a atravessarem momentos de enorme
dificuldade e os pensionistas a passarem dificuldades ainda maiores.
Isto tem causas e causas recentes. Basta lembrarmo-nos dos custos das SCUT, das obscuras e caríssimas
parcerias público-privadas, dos institutos públicos e fundações com vista à desorçamentação e à continuação
de vida de País rico quando o não somos.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Governar em tempos tão difíceis exige muito rigor. O populismo é fácil,
a demagogia é uma saída rápida, o facilitismo é o caminho que evita as dificuldades. Por isso, temos que ter
responsabilidade. Não estamos em momentos que permitam futilidades. Quando são feitas objeções, quando
há discordâncias, têm de ser, devem ser, apresentadas alternativas.