I SÉRIE — NÚMERO 5
4
deixam este espaço de interpretação, porque a estrofe cita um momento da viagem épica, da expedição do
Gama em que acabou de dobrar o Cabo das Tormentas e, enfrentando uma corrente muito forte, os ventos do
Sul, conseguiram vencer essa corrente.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — É, aliás, curioso que o Sr. Primeiro-Ministro tenha esta imagem. Ele acha que
a quinta avaliação da troica foi o «Cabo das Tormentas». Não foi! Ainda vêm outros!…
E é curioso que ele pressinta que, a seguir, vai conseguir fazer uma passagem quase pacífica até à meta,
até à Índia dos tempos modernos. Não será assim, porque já Camões, no seu épico, dizia: logo a seguir,
houve, em terra, grandes perdas humanas. Não sei se o Primeiro-Ministro está a antecipar uma remodelação
governativa!?
Risos do BE.
E, logo a seguir, houve uma procela, em alto-mar, também terrível. Já sabemos o que isso é: é o
Orçamento do Estado para 2013!
Deixando as tentativas de interpretação destes arroubos literários dos membros do Governo, fixemo-nos
naquilo que é fundamental e essencial. É que a comunicação do Sr. Primeiro-Ministro podia tê-la feito por
intermédio de qualquer escritor português, mas, porque preferimos as palavras, na fonte, do Pedro Passos
Coelho, Primeiro-Ministro de Portugal, gostaríamos que nos dissesse uma coisa simples e que não deixasse o
País em suspenso, porque todos nós já adivinhámos o sentido das suas palavras.
Que o Governo tente matizar, encontrar as formas de apresentar, novamente, as medidas, que
contestamos, que consideramos que são um erro do ponto de vista da racionalidade económica, do ponto de
vista da justiça social, do ponto de vista do relançamento da economia portuguesa, é uma função e uma
responsabilidade do Governo. Agora, o que o Primeiro-Ministro não disse, mas que nos deixa adivinhar e que
hoje, aqui, os partidos da direita poderiam, ao menos, contestar, é que vão ser retirados aos portugueses os
mesmos salários que estavam previstos com a TSU e as outras medidas.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Exatamente!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Dois salários aos pensionistas a partir de determinado montante, dois salários
na Administração Pública e um salário no setor privado. É tudo isto que se configura. Será assim? Não será
assim? Os Srs. Deputados do PSD e os Srs. Deputados do CDS querem contestá-lo? É que o País está em
suspenso à espera desta notícia para saber exatamente quais são os propósitos do Governo.
Que o Governo reconfigura as medidas, isso é algo que apresentará no Orçamento do Estado. Agora, se o
Primeiro-Ministro foi tão lesto a apresentar as medidas, em comunicação, ao País, um pouco antes de um jogo
de futebol, nessa sexta-feira que ninguém mais esquecerá, por que é que nem na última comunicação nem
agora nos diz exatamente qual é a dimensão do corte nos salários, nos rendimentos dos portugueses e nos
cortes de despesas em serviços essenciais?
O Sr. Francisco Louçã (BE): — Muito bem!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Estará à espera de quê? Nós não podemos aceitar este País em suspenso,
este País que não sabe para onde se dirige exatamente a política de austeridade do Governo!
Por isso, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, na véspera de mais uma manifestação, na sociedade
portuguesa, de contestação a este plano inclinado da troica, a este Adamastor — o próprio Primeiro-Ministro
classificou a troica como um adamastor,…
Protestos do Deputado do PSD Carlos Abreu Amorim.