29 DE SETEMBRO DE 2012
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Ainda hoje, o mais encarniçado dos defensores da troica diz no jornal que dirigiu até há uns anos que o
único caminho que resta à economia e às finanças do País é precisamente a renegociação da dívida. Até um
dos mais encarniçados defensores da política da troica e do Governo vem dizer isso.
O País e a economia portuguesa não suportam esta dívida e o pagamento acelerado da mesma e é preciso
dizer com verdade que a economia não tem condições para pagar a dívida desta forma e neste valor. É por
isso que consideramos inadiável que se desenvolvam as iniciativas políticas necessárias à renegociação da
dívida, os seus montantes, as suas taxas, os seus prazos, que se avalie também o segmento ilegítimo desta
dívida e que esse não sejamos obrigados a pagar.
Em nome da economia do País, em nome da melhoria das condições de vida dos portugueses, é urgente e
inadiável renegociar a dívida pública portuguesa.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quando, em julho do ano
passado, discutimos o projeto de resolução do Partido Comunista Português pela renegociação da dívida
pública e pelo desenvolvimento da produção nacional, Os Verdes disseram que o Governo PSD/CDS-PP
estava empenhado em levar por diante o programa da troica como se estivéssemos perante uma
inevitabilidade.
Passou mais de um ano, vieram os sacrifícios, veio a austeridade e os problemas continuam por resolver.
Afinal, os sacrifícios não resolveram o problema do desemprego, não resolveram o problema da dívida pública,
não equilibraram as contas públicas e não resolveram o problema da recessão económica.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Ora, face ao resultado da austeridade e dos sacrifícios, aquilo
que se torna hoje absolutamente inevitável é a renegociação da dívida e não o cumprimento das imposições
da troica.
A questão é saber quanto mais tempo ainda é necessário para o Governo perceber que, se não avançar
para a renegociação da dívida, não só não resolve os problemas como não arranja forma de a pagar.
A questão é saber quantos mais sacrifícios ainda são necessários para o Governo perceber que assim não
vamos a lado nenhum.
A questão é saber quanto tempo é ainda necessário para aqueles que dizem que renegociar a dívida
significa não pagar perceberem que a renegociação é afinal a única forma de a pagar.
Não há volta a dar, é inevitável! É que o bom senso exige que, quando a receita falha, se faça uma
reflexão, se procurem alternativas, mas o Governo insiste na mesma receita e os resultados agravam-se de
dia para dia. Os portugueses estão a ser submetidos a um conjunto de sacrifícios nunca visto: vivem com uma
carga fiscal pesadíssima; assistem à redução dos seus salários, reformas e pensões; veem aumentar o preço
dos bens essenciais; aumentam as dificuldades de acesso aos apoios sociais; os serviços públicos perdem
qualidade; a saúde e a educação conhecem cortes nunca vistos. E o mais grave é que estes sacrifícios estão
a ser em vão, não estão a resolver nenhum dos nossos problemas.
O desemprego real já ultrapassou os 20%, o número de falências não para de crescer, a dívida aumenta, a
recessão veio para ficar, o País e os portugueses estão mais pobres. Ou seja, tantos sacrifícios afinal para
nada. Tantos sacrifícios e afinal a situação está pior, agrava-se de dia para dia.
Ora, face a este quadro, se queremos pagar a dívida, se queremos criar as condições para o crescimento,
se queremos criar as condições para travar esta onda de sacrifícios que está a ser imposta aos portugueses, a
renegociação da dívida é inevitável, e quanto mais tarde pior.
É exatamente por isso que Os Verdes entendem que só nos resta um caminho, o qual começa pela
renegociação da dívida, para depois nos virarmos para a produção nacional, porque, se não produzirmos, não
criamos riqueza e, se não criamos riqueza, nunca teremos condições para pagar a dívida pública nem, sequer,
para ganhar credibilidade externa.