I SÉRIE — NÚMERO 34
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legislativas que o Governo e, mais tarde, os Deputados da maioria foram apresentando, autoexcluindo-se
assim de um processo desencadeado com a entrada em vigor de um documento que o seu Governo negociou
e assinou.
Muito embora considere que o processo legislativo e técnico que conduziu à proposta de reorganização
administrativa agora aprovado na Assembleia da República pudesse ter sido aperfeiçoado, função das
legítimas e fundadas expectativas das populações locais, nomeadamente em termos de uma maior
preservação das identidades locais, considero que o superior interesse nacional — conformado pelo estado de
emergência em que o País se encontra, pelo compromisso assumido por Portugal perante o BCE, a Comissão
Europeia e o FMI e pelo princípio constitucional que determina que os Deputados representam todo o País e
não os círculos pelos quais são eleitos —, não deixa alternativa ao signatário, bem como aos restantes 107
Deputados do PSD, senão dar cumprimento ao Memorando a que a incompetência dos últimos Governos
socialistas obrigou o País.
A Deputada do PSD, Maria Ester Vargas.
——
A 6 de abril de 2011, numa curta declaração escrita, o Ministro das Finanças do Governo português,
Teixeira dos Santos, anunciou publicamente, em nome do País, um pedido de ajuda financeira internacional.
Este pedido de assistência financeira internacional foi a única forma do Estado ter dinheiro para fazer face
aos seus compromissos, culminando seis anos de Governo em que a dívida pública do País aumentou para o
dobro, em que a promessa de 150 000 novos empregos deu lugar à destruição de 200 000 postos de trabalho,
em que, entre janeiro de 2009 e maio de 2011, se começou a assistir à segunda maior vaga de emigração da
nossa história, em que o défice orçamental do País chegou a atingir mais de 10% no ano eleitoral de 2009,
não tendo havido correção que se visse no ano subsequente, apesar de vários pacotes de austeridade
implementados entre janeiro de 2010 e março de 2011.
Conforme havia de confessar publicamente dias depois o Ministro das Finanças, já não havia nos cofres do
Estado dinheiro suficiente para pagar os salários dos funcionários públicos e as pensões a partir de maio, bem
como pagar juros vencidos de dívidas antigas em junho. Um verdadeiro Estado de bancarrota.
A 17 de maio de 2011, Portugal chegou a um acordo com o BCE, Comissão Europeia e FMI tendo como
contrapartida uma assistência financeira no valor de 78 000 milhões de euros.
As políticas constantes desse acordo (também designado Memorando de Condicionalidades de Política
Económica ou, em linguagem corrente, Memorando da troica) foram negociadas medida a medida, sector a
sector, com os principais responsáveis, Ministros e Secretários de Estado, do Governo à altura demissionário.
Nem o Fundo Monetário Internacional, nem a Comissão Europeia, nem o Banco Central Europeu
aceitariam emprestar dinheiro sem garantias do real cumprimento das medidas e objetivos então negociados.
Exigiam, por isso, um consenso alargado no espectro político.
O acordo foi negociado e subscrito pelo Partido Socialista e teve o assentimento público de PSD e CDS.
Ao contrário do que alguns querem fazer crer, no caso particular da reforma administrativa do território, o
dito Memorando da troica, no seu ponto 3.44, é muito claro:
«Reorganizar a estrutura da administração local. Existem atualmente 308 municípios e 4259 freguesias.
Até julho 2012, o Governo desenvolverá um plano de consolidação para reorganizar e reduzir
significativamente o número destas entidades. O Governo implementará estes planos baseado num acordo
com a CE e o FMI.
Estas alterações, que deverão entrar em vigor no próximo ciclo eleitoral local, reforçarão a prestação do
serviço público, aumentarão a eficiência e reduzirão custos.»
Os abaixo signatários não são nem nunca foram partidários desta reforma nem, já agora, de outros aspetos
do Memorando.
Independentemente disso, nas intervenções públicas que fizeram e nas sessões de esclarecimento que
levaram a cabo pelos respetivos distritos em campanha eleitoral sempre deixaram claro que o partido que
saísse vencedor das eleições, fosse ele qual fosse, teria de levar a cabo esta e outras reformas constantes do
Memorando, por muito que isso desgostasse a eles próprios ou aos seus correligionários.