I SÉRIE — NÚMERO 47
4
Sr. Ministro, Sr.as
e Srs. Deputados: Não contentes em terem lançado o País num experimentalismo
ideológico suicida, que já custou o emprego a mais de 250 000 portugueses e deverá tirar o posto de trabalho
a mais 88 000 em 2013, o PSD e o CDS pretendem agora ajustar contas com o Estado social e os serviços
públicos. Longe parecem ir os tempos em que o CDS, com o agora Ministro Mota Soares à cabeça, gritava a
plenos pulmões contra o esbulho fiscal e as pensões de miséria. Agora, temos o mesmo CDS a defender o
congelamento das pensões de miséria e o aumento de 30% do IRS.
Esbulho fiscal, criticavam, mas esbulho fiscal é o verdadeiro Programa deste Governo.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. João Semedo (BE): — O IVA da energia quadruplicou desde que o Governo está em funções,
aumentando em quase 10 € a fatura média de energia de cada família.
Todas as famílias que recebem mais de 605 €, verdadeiros ricos na definição deste Governo, perderam o
direito ao desconto no passe para os seus filhos. Um passe que antes custava 14 €, em escassos meses,
passou a custar 35 €. Os mesmos 600 € de salário passaram a obrigar a uma taxa dita «moderadora» de 20 €
nas urgências.
O aumento do IRS, com a sobretaxa e a diminuição de escalões, que, aliás, sempre foi defendida pelo
CDS, levou 40 € no recibo de vencimento das famílias que ganham pouco mais de 600 €.
Sem contar com o aumento do IVA nos produtos de consumo básico ou com a diminuição das deduções
fiscais que tanto mobilizavam, na altura, o descontentamento do PSD e do CDS, uma família de rendimentos
abaixo da média no nosso País perde todos os meses cerca de 100 € do seu rendimento. Ouçam bem, Sr.as
e
Srs. Deputados: 100 €/mês a menos nestes rendimentos. Estas centenas e centenas de milhares de famílias
perderam 1 em cada 6 € do seu orçamento familiar, neste verdadeiro poço sem fundo que é a política de
austeridade. E tudo isto para quê?
O défice não há forma de descer sem ser com o recurso às receitas extraordinárias e a dívida,
supostamente em nome do qual tudo foi tirado a quase todos, não para de crescer. No final de 2012, a dívida
já estava 11 000 milhões de euros acima do previsto no Memorando para o mesmo período. São 7 pontos
percentuais acima das previsões do Governo.
O Estado social, que o Governo agora quer emagrecer até o desfigurar nesta refundação sem sentido, não
é uma abstração. São pessoas, com vidas concretas, desempregados, pobres, remediados a quem a escola
pública garantiu a educação dos seus filhos e o SNS o tratamento necessário na doença.
Compreende-se, por isso, o interesse do Governo numa campanha de falsidades sobre o peso do Estado.
Não, nós não temos um Estado social pesado. Não foram os gastos com as prestações sociais que nos
colocaram na crise que estamos a viver.
As despesas com educação este ano ficaram-se pelos 3,8% do Produto, um valor bem abaixo da média
dos países da OCDE.
Este ano o orçamento do SNS custará 4,8% do produto interno bruto.
Mesmo os salários dos funcionários públicos, sempre apresentados pelo PSD e CDS como incomportáveis,
representam apenas 10,4% do produto interno bruto, muito abaixo dos 14% da média europeia.
Não, não é excessivo o peso do Estado e não é esse peso que tem atrasado o País, como a direita repete
em coro. Não só o Estado não é pesado como, ao contrário da campanha destrutiva levada a cabo pelo
Governo, é eficiente.
Em poucas décadas, o Estado social permitiu que Portugal disponha hoje dos melhores indicadores de
saúde — mortalidade infantil e partos assistidos — e que os resultados do nosso sistema educativo tenham
deixado a cauda de Europa e nos coloquem a par da Alemanha e à frente da Suécia.
Se não fossem as transferências sociais — tão criticadas pela direita — 4 em cada 10 portugueses
estariam, hoje, na pobreza.
Sr.as
e Srs. Deputados, só por fanatismo ideológico e revanchismo contra tudo o que é público se pode
afirmar que temos um Estado a mais e um Estado ineficiente e incapaz.
Os portugueses perguntam-se, hoje, qual é a pressa do Governo para em menos de dois meses se lançar
nesta campanha contra os serviços públicos e o Estado social, que nada tem a ver com a sua modernização e