I SÉRIE — NÚMERO 49
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acontecimentos do 25 de Novembro, se foi possível evitar um gravíssimo confronto entre os portugueses e se
foi possível criar condições para que o regime democrático tivesse prosseguido tal foi devido ao sentido de
responsabilidade de personalidades como o General Ramalho Eanes, como Melo Antunes, como o Marechal
Costa Gomes e não tanto devido à posição assumida pelo Major-General Jaime Neves, que, como é sabido,
até tomou uma posição explícita no sentido da ilegalização do PCP.
Compreenda-se, portanto, que, em coerência e com honestidade, não nos podemos associar à
homenagem da Assembleia da República ao Major-General Jaime Neves, embora compreendendo e
respeitando os sentimentos de pesar dos seus familiares, dos seus amigos e dos seus admiradores.
A Sr.ª Presidente: — Não havendo mais inscrições, vamos proceder à votação do voto n.º 100/XII (2.ª) —
De pesar pelo falecimento do Major-General Jaime Neves (PSD, PS e CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do PS e do CDS-PP e votos contra do PCP,
do BE e de Os Verdes.
A Mesa dirige também à família e aos militares presentes a sua manifestação de pesar.
Vamos prosseguir com o voto n.º 101/XII (2.ª) — De pesar pelo falecimento de José Leite Machado (PSD),
que vai ser lido pelo Sr. Secretário.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, o voto é do seguinte teor:
«No dia 21 de janeiro pretérito, faleceu, em Braga, o Dr. José Leite Machado, aos 77 anos de idade.
Natural da freguesia de Moimenta, concelho de Terras de Bouro, de formação académica jurista, o Dr. José
Leite Machado foi cidadão exemplar.
Conselheiro de informação e orientação profissional de profissão, pertenceu aos quadros do Instituto do
Emprego e Orientação Profissional.
No âmbito da prestação do serviço militar, foi agraciado com um louvor. Exerceu as funções de Diretor do
Centro de Emprego de Braga.
Foi edil na Câmara Municipal de Terras de Bouro após aprovação da Constituição da República
Portuguesa vigente.
Entre as décadas de 80 e 90 do século transato, eleito nas listas do Partido Social Democrata pelo círculo
eleitoral de Braga, exerceu, nesta Casa, o cargo de Deputado durante três mandatos.
Serviu a causa pública com a maior proficiência, dedicação e aprumo.
Cumpriu sem mácula os seus deveres de cidadão na diversidade das vestes que lhe couberam.
Ancorado no âmago da portugalidade, confraterno no intercâmbio coexistencial, comprometido
medularmente com os ideais democráticos e republicanos, empenhado nas múltiplas dimensões em que se
realiza o ideal social-democrata, que serviu de modo irrepreensível, no exemplo concreto da ação política, na
autónoma conformação do mundo, nele renascia a liberdade responsável, o ideal que frutifica a benefício
comum.
Cingido à realização do bem, vinculado ao serviço social que igualiza, ao desenvolvimento harmonioso que
transporta a paz, assim foi o Dr. Leite Machado.
Quem, no quotidiano perpassar da vida, privou com a pessoa do Dr. Leite Machado via nele o empenho
determinado e persistente no cumprimento dos deveres e das obrigações inerentes ao mandato; a
camaradagem franca e jovial; a expressão da melhor condição de realização no outro como substanciação
ética da sua própria individuação realizadora.
O Dr. Leite Machado foi homem habitado por valores e crenças que lhe moldavam as suas inabaláveis
convicções.
No transcurso da vida granjeou, com justiça, mercê do seu exemplo e da suas ações, nos plúrimos
patamares em que inscreveu o seu agir no mundo, o reconhecimento de homem bom e justo.
No ouvir atento, no olhar percuciente e demorado, no gesto comedido, na fala instituidora, na atitude
considerada e benquerente, o Dr. Leite Machado constituiu-se em radiação florente de humanidade.