25 DE JULHO DE 2013
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O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Relativamente à figura do Provedor de Justiça — o Sr. Deputado João
Lobo já o fez, mas creio que importa enfatizá-lo —, esta particularidade que decorre da sua consagração
constitucional e da sua criação no nosso ordenamento jurídico, na sequência da Revolução de 1974, e a sua
particular natureza quando é inserido na nossa Constituição entre os princípios gerais, na Parte I da
Constituição da República Portuguesa, fazem, no quadro dos valores constitucionais, com que seja
perspetivada como um direito das pessoas. Ou seja, não é apenas um órgão constitucional de garantia dos
direitos fundamentais, é perspetivado também como o direito de cada cidadão poder a ele recorrer e, com
isso, obter a satisfação das suas pretensões ou, pelo menos, o recurso a alguém que por ele interceda e que
medeie entre ele e os poderes públicos.
É, pois, um órgão unipessoal, inamovível, independente e com uma legitimidade parlamentar. A sua
legitimidade democrática decorre da sua eleição — ato a que, aliás, estamos a proceder nesta tarde — e que
tem como correlato a prestação de contas, traduzida nestes Relatórios que hoje temos em apreciação.
A informalidade do recurso à figura do Provedor de Justiça, a apreciação da legalidade e da justiça na
atuação dos poderes públicos, mas, sobretudo, a informalidade do seu acesso é algo que importa enfatizar.
A discussão destes Relatórios tem também o mérito de chamar a atenção dos cidadãos para a existência
do órgão e, portanto, ao discutirmos estes Relatórios, estamos também a contribuir para que haja um maior
acesso e um maior recurso à figura do Provedor de Justiça, sendo certo que não posso deixar de salientar que
o Relatório de 2012 apresenta esta particularidade de ter um número de queixosos perante o Provedor de
Justiça que é superior ao triplo do ano que o precedeu: 27 218 queixosos. Portanto, este é um número cerca
de três vezes superior ao de 2011. Há, de facto, uma particularidade: a maior parte deste número inusitado de
queixosos prendeu-se com queixas relativamente ao Orçamento do Estado e, portanto, foram agregados a
uma única queixa, mas demonstra bem a vitalidade cívica e a importância que os cidadãos reconhecem na
figura do Provedor de Justiça.
Sobre o seu desempenho, não posso deixar de salientar e saudar a criação de um novo site, o novo sítio
eletrónico do Provedor de Justiça, o que é particularmente relevante, porquanto 60% das queixas que lhe
foram dirigidas foram-no por via eletrónica, é uma particularidade que, creio, deve ser enfatizada,
demonstrando, por um lado, o crescente recurso às novas tecnologias da comunicação, mas também, por
outro lado, à forma célere como pode ser acedido o Sr. Provedor de Justiça.
Algo que, entendo, deve ser enfatizado e salientado — e penso que os demais Sr.as
e Srs. Deputados me
acompanharão neste raciocínio — é o esforço que o Sr. Provedor de Justiça manifestou no sentido da criação
de um conselho de provedores ou de instituições de direitos humanos da CPLP.
A densificação da democracia e do reconhecimentos dos direitos humanos em toda a comunidade de
língua portuguesa deve ser algo que devemos saudar e, com isso, enfatizar o nosso total apoio para tudo
aquilo que o futuro Provedor de Justiça, nessa matéria, haja por bem solicitar-nos.
Porque o meu tempo se encontra prestes a esgotar, com todo o respeito pelo resultado eleitoral que está a
decorrer e, por isso, não me pronunciarei sobre o novo Provedor de Justiça, mas, antecipando, obviamente,
que espero que seja eleito (como é óbvio, aguardamos democraticamente esse resultado), seja o novo
Provedor qual for, queria terminar recordando que, como disse Platão, a justiça é a maior das virtudes
humanas e, portanto, desejar as maiores felicidades a quem tiver a honra de a prover.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do CDS-PP.
Sr.ª Deputada Teresa Anjinho, tem a palavra.
A Sr.ª Teresa Anjinho (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Apreciamos hoje, em
Plenário, os Relatórios de 2011 e de 2012 do Provedor de Justiça. São apreciações, a meu ver,
particularmente importantes, não apenas atendendo à relevância jurídico-constitucional do Sr. Provedor, um
elo entre os cidadãos e o poder, mas também decorrente do seu vasto âmbito de atuação, que,
inclusivamente, foi, no início deste ano, objeto de um conjunto de alterações pontuais, que alargaram, de facto,
o seu âmbito de competências.