26 DE JUNHO DE 2014
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intitulado Caminho para o Crescimento preconizam o encerramento de mais serviços públicos, de mais cortes
na educação e na saúde e de uma maior redução de trabalhadores da Administração Pública.
Não há nenhuma saída limpa. Há é uma clara intenção em ir mais longe na destruição dos serviços
públicos e nas funções sociais do Estado. Com que objetivo? Por um lado, por critérios de natureza
economicista, à custa dos portugueses. Sim, porque quando se ataca os serviços públicos e as funções
sociais do Estado, os principais afetados são aqueles que mais sentiram o peso da austeridade, por via do
roubo dos salários, das pensões e do corte das prestações sociais. Mas esta opção insere-se na matriz
ideológica do PSD e CDS-PP e nos seus objetivos de entregar a prestação de serviços públicos essenciais
aos privados, que há muito ambicionam, tornando-os em negócios altamente lucrativos.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Desde 2002 já encerraram mais de 6500 escolas. E o atual Governo não
só pretende fazê-lo no próximo ano letivo como já tomou a decisão de encerrar mais em 2015.
O encerramento de escolas insere-se na estratégia do Governo de ataque à escola pública. Esta decisão
não assenta em critérios pedagógicos e vai obrigar as crianças a longas deslocações diárias, desinserindo-as
do seu meio. Está mais do que provado que não é a dimensão da escola e o número de alunos que
determinam o sucesso educativo.
Em matéria de saúde, o Governo pretende dar mais um passo no desmantelamento do Serviço Nacional de
Saúde (SNS), com a publicação da malfadada Portaria n.º 82/2014, que procede à classificação dos hospitais.
Esta Portaria conduz à redução, concentração e encerramento de serviços hospitalares e ao despedimento de
milhares de profissionais de saúde. É a capacidade de resposta dos serviços públicos que fica comprometida.
O resultado será, certamente, o aumento no tempo de espera para consultas, cirurgias, exames e tratamentos,
isto é, crescerão as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde.
Perante a enorme contestação das populações, dos profissionais de saúde e das autarquias, diversos
Membros do Governo têm dado o dito por não dito, sem que haja, no entanto, qualquer decisão contrária ao
caminho apontado pela Portaria.
A decisão de encerramento de tribunais, de desgraduação de outros e da concentração dos tribunais
especializados coloca em causa o direito de acesso à justiça. O novo mapa judiciário imposto pelo Governo
afasta os tribunais das pessoas, obriga-as a maiores deslocações com custos muitas vezes insuportáveis e
não contribui para a celeridade e eficácia da justiça.
E no que diz respeito ao encerramento de repartições de finanças, o Governo põe fim à proximidade deste
importante serviço público junto dos contribuintes.
A intenção de encerrar esquadras da PSP e postos da GNR insere-se na estratégia do Governo de reduzir
serviços públicos, de reduzir a proximidade do Estado às populações.
Entretanto, o Governo anuncia como solução para todos os males o programa Aproximar — pura
propaganda para enganar as pessoas. O dito programa Aproximar tem como objetivos centrais a redução dos
serviços públicos de atendimento aos cidadãos, a desqualificação dos serviços prestados e o despedimento
de trabalhadores, com a criação dos ditos «condomínios de serviços» ou dos Espaços do Cidadão.
Ao abrigo deste programa, o Governo procura desresponsabilizar-se da prestação de serviços públicos,
transferindo-a para autarquias, IPSS e, veja-se, até para associações empresariais. Nem protege a
privacidade dos dados pessoais.
Com o encerramento de escolas, o Governo está a condenar muitas pequenas localidades ao
desaparecimento. Mas ao encerramento de escolas soma-se o encerramento de extensões de saúde, de
estações dos CTT, de postos da GNR e até a extinção das freguesias. O que resta, sobretudo nas regiões do
interior? Resta uma população envelhecida, completamente abandonada pelo Estado.
Não é pelo facto de o Governo afirmar vezes sem conta a adoção de políticas que promovem a coesão
territorial que isso passa a ser verdade. A realidade concreta é bem diferente. O Governo é o primeiro
responsável pelo despovoamento e a desertificação do interior do País, pela redução da natalidade e pelo
agravamento das assimetrias regionais.
A estratégia de reconfiguração do Estado, através do encerramento de serviços públicos, constitui um
retrocesso social, contrário ao projeto de desenvolvimento e progresso do País preconizado pelas populações.
Este Governo não tem legitimidade social e política para executar estas políticas, nem para prosseguir o
caminho de destruição dos serviços públicos e das funções sociais do Estado. Os portugueses não
mandataram o Governo para encerrar serviços públicos e para negar o acesso a direitos sociais.