9 DE JULHO DE 2014
3
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, está aberta a sessão.
Eram 10 horas e 4 minutos.
Podem ser abertas as galerias.
Srs. Deputados, quero lembrar que, como é do vosso conhecimento, decorre, na Sala D. Maria, a eleição
para a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos.
Antes de iniciarmos a nossa ordem do dia, que vai começar com um debate de urgência, vou dar a palavra
ao Sr. Deputado Duarte Pacheco, que fará o favor de proceder à leitura do expediente.
O Sr. Secretário (Duarte Pacheco): — Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, deram entrada na Mesa, e foram
admitidas, as seguintes iniciativas legislativas: proposta de lei n.º 239/XII (3.ª) — Estabelece os mecanismos
das reduções remuneratórias temporárias e as condições da sua reversão no prazo máximo de quatro anos,
que baixa à 5.ª Comissão; e projeto de resolução n.º 1090/XII (3.ª) — Deslocação do Presidente da República
a Díli e à República da Coreia (Presidente da AR).
Em termos de expediente, é tudo, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Muito obrigada, Sr. Deputado.
Srs. Deputados, vamos, então, dar início ao debate de urgência, requerido pelo Grupo Parlamentar do BE,
sobre violência de género.
Aproveito para cumprimentar a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade e os
demais Membros do Governo que a acompanham.
O debate vai ser aberto com uma intervenção por parte do partido requerente desta iniciativa. Para o efeito,
tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e
da Igualdade, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Propusemos este debate pelas 23 pessoas
assassinadas desde o início deste ano — 21 mulheres que morreram às mãos daqueles com quem um dia
pensaram ser felizes.
Fazemo-lo por todas as vítimas de violência doméstica que lhe sobreviveram, que tentam encontrar as
suas vidas e mesmo por aquelas que ainda não encontraram todas as condições para o fazer, e fazemo-lo
pelas crianças e jovens, cada vez mais expostos a esta forma de violência — cerca de 18 000 em 2013. São
cada vez mais, ano após ano, as crianças expostas a situações de violência doméstica.
O reconhecimento da violência doméstica como crime público, em 2000, foi um ganho de civilização pelo
qual muito nos batemos. Então como hoje, em relação ao crime de violação, tínhamos a certeza de que a
natureza pública destes crimes é a que permite desfazer muros de silêncio e preconceito, muitas vezes
protegidos pela própria lei.
Recentemente, demos mais um passo, com a integração das relações de namoro no quadro do crime de
violência doméstica e o alargamento da vigilância eletrónica sobre os agressores, em que contámos com os
vossos votos favoráveis.
Reconheçamos que muita coisa mudou em 14 anos: derrubou-se a perversão do velho ditado «entre
marido e mulher ninguém mete a colher»; aumentaram os níveis de condenação social; mobilizaram-se
associações, numa rede de intervenção e compromisso notáveis; reorientaram-se as políticas públicas;
formaram-se agentes de segurança e magistrados.
Contudo, as mulheres continuam a morrer ou a serem obrigadas a fugir de casa para se defenderem dos
agressores, e os números não nos permitem ignorar esta situação: 377 mulheres foram assassinadas em
Portugal, desde 2004, no contexto de violência doméstica; no ano passado, 15 mulheres foram abatidas a tiro,
9 foram esfaqueadas, 4 foram espancadas, 5 foram asfixiadas e as restantes morreram afogadas e
queimadas. Uma «realidade que a todos deve envergonhar» — lê-se no mais recente relatório do Observatório
de Mulheres Assassinadas.
De facto, existem indicadores do agravamento dos casos de violência de género e de violência doméstica.
Em finais de 2013, a Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e a Igualdade reconhecia-o, dizendo