I SÉRIE — NÚMERO 109
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Sr.ª
Ministra de Estado e das Finanças, a senhora veio aqui tentar passar a imagem de que o Orçamento
retificativo surge para se adaptar a um cenário macroeconómico mais favorável, mas os dados do Orçamento
retificativo são outros e é ele próprio que desmente esse discurso do cenário macroeconómico mais favorável.
O DEO (Documento de Estratégia Orçamental), um documento feito há três meses atrás, apontava um
crescimento de 1.1% para a economia portuguesa. Esse crescimento foi revisto em baixa, e não só foi revisto
em baixa como os motores de crescimento mudaram. O DEO dizia que o crescimento ia ser fundamentado
nas exportações e no investimento e agora, além de o crescimento ser revisto em baixa, é o consumo o motor
do crescimento.
As exportações, que eram um motor do crescimento, agora, quando descontadas das importações,
imagine-se que dão um contributo negativo para o PIB, contribuem negativamente para o crescimento da
economia. O investimento, que ia ser 3.3% do PIB e um motor de crescimento, afinal vai ser 1.1%, e o
investimento em novo stock de capital, já aqui foi dito, não chega sequer para repor o stock que se desgasta,
há uma destruição líquida, continuamos a destruir aparelho produtivo.
Portanto, chegamos aqui com uma amarga conclusão: é que o modelo de crescimento, baseado no
consumo de um povo que vivia acima das possibilidades, é, agora, o modelo de crescimento que o Governo
tem para apresentar. O modelo de crescimento que tanto criticavam, porque era baseado no consumo, é o
modelo de crescimento que têm para apresentar, porque o consumo é a única variável que cresce.
A Sr.ª Ministra perguntava: «mas será que o facto de termos subido 15 lugares no fórum da competitividade
não quer dizer que há uma mudança estrutural na economia?». A verdade é que a senhora não disse que
subimos 15 lugares para o mesmo lugar onde estávamos em 2007. Isso nunca foi dito! Não disse que
podemos ter subido 15 lugares porque outros países desceram na competitividade…
Risos do PSD e do CDS-PP.
…e não disse que não temos nenhuma mudança estrutural na economia, pois temos a mesma economia
mas com mais desemprego, menos produção e mais impostos.
Percebo que isto incomode o CDS, porque se eu me tivesse afirmado na sociedade portuguesa como
sendo o partido do contribuinte, também me sentiria desconfortável ao ver que este Governo, como nenhum
outro, depende do saque fiscal para sobreviver, ao mesmo tempo que aumenta a dívida que todos os
contribuintes pagarão no futuro.
Vozes do BE: — Bem lembrado!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Portanto, percebo o desconforto do partido do contribuinte ao ver que a
economia estrutural é a mesma, uma economia baseada em consumo — e os dados não são meus, são do
Orçamento retificativo —, sem exportações que contribuam positivamente para o crescimento e sem
investimento líquido que melhore o sistema produtivo.
Ora, isto leva-nos à segunda contradição: um Governo eleito dizendo que ia cortar nas «gorduras» do
Estado, dizendo que o ajustamento orçamental não era feito com impostos nem com o aumento de receita, o
que tem para nos apresentar agora é um ajustamento orçamental baseado no saque fiscal, um ajustamento
orçamental baseado em mais receita fiscal e em mais cortes nos salários.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Portanto, aquilo que temos de concluir, e está provado neste Orçamento, é que a austeridade…
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faço favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Termino já, Sr. Presidente.