5 DE SETEMBRO DE 2014
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Como dizia, aquilo que temos de concluir, e está provado neste Orçamento, é que as austeridade não
aumentou as exportações nem o seu contributo para o PIB, a austeridade não aumentou o contributo do
investimento para o PIB, a austeridade não pagou dívidas, a única variável que sobrevive é o consumo.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faço favor de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — O que não se percebe, e a Sr.ª Deputada Cecília Meireles pedia
alternativas e sugestões, é porque é que não repõem os salários e não deixam o consumo fazer de motor de
crescimento da economia e assim aumentar as receitas fiscais que permitem consolidar o défice?!
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Sr.ª Deputada, faça favor de terminar, pois já excedeu largamente o
seu tempo.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — É que é esta a lição que se tira deste Orçamento e é pena que o
radicalismo do Governo não o permita ver isto.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Diga o Governo o que
disser, a verdade é que este Orçamento retificativo nos mostra que o Governo falhou, falhou nas suas políticas
e falhou nas suas previsões. Mas isso não é o pior, o pior é que o Governo insiste no erro, o Governo insiste
nas mesmas previsões e nas mesmas políticas.
O Vítor Gaspar foi-se embora mas as previsões continuam na mesma linha; a troica foi-se embora mas a
política de austeridade continua. Portanto, longe vão os tempos da luz ao fundo do túnel, dos milagres
económicos e dos inúmeros sinais positivos.
Dizer-se que depois da troica acabava a austeridade foi mesmo conversa fiada. Afinal, o relógio do Sr.
Vice-Primeiro-Ministro que andava para trás continua a andar, não parou com a saída da troica, e a cada
recuo dos ponteiros é mais uma dose de austeridade que o Governo impõe aos portugueses, como, aliás, faz
no Orçamento retificativo.
Este Orçamento retificativo mostra-nos a dimensão da derrapagem mas também nos mostra a natureza
ideológica deste Governo. Senão, vejamos: perante esta derrapagem, como é que o Governo pretende
resolver o problema? Cortando nas «gorduras» do Estado! Mas as «gorduras» do Estado, para este Governo,
não são as parcerias público-privadas, não são as rendas excessivas da eletricidade, não são os contratos
swap. Não, para este Governo, as «gorduras» do Estado continuam a ser os salários das pessoas, continuam
a ser os apoios sociais e continuam a ser os serviços públicos.
É desta forma que o Governo pretende fazer face à derrapagem das suas previsões e das suas políticas:
cortes nos rendimentos de quem trabalha, que, para além da injustiça que representam, ainda vão agravar a
nossa economia, porque vão contrair ainda mais o poder de compra das famílias e, portanto, diminuir o
consumo privado; cortes nos apoios sociais, e, em consequência, mais pessoas desempregadas sem qualquer
apoio social, e cortes nos serviços públicos, agravando ainda mais o estado deplorável em que se encontram
muitos hospitais, escolas, centros de saúde, finanças e por aí fora.
São estas as «gorduras» do Estado para o Governo PSD/CDS. Cortes atrás de cortes, numa altura em que
até a OCDE veio dizer que mais cortes salariais seriam contraproducentes. Políticas que continuam a
promover as reduções salariais não ajudam a competitividade, não ajudam a nossa economia, quem o diz é a
OCDE, e diz mais, diz que Portugal foi um dos países com maior registo de cortes salariais. Entre 2009 e
2013, os salários, em Portugal, registaram uma quebra anual média de 2,5%, a segunda mais alta do conjunto
dos 29 países analisados pela OCDE. E mesmo assim o Governo PSD/CDS insiste nos cortes salariais e nas
políticas de austeridade que, de Orçamento retificativo em Orçamento retificativo, continuam a empobrecer os
portugueses e a não resolver nenhum dos nossos problemas.