29 DE JANEIRO DE 2015
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O Sr. Deputado referiu, e saúdo-o por isso, porque é factual, que o partido homólogo do Partido Socialista,
se me é permitida a expressão, o Partido Socialista Pan-Helénico, o Pasok, fazia parte da coligação
governamental que foi derrotada e, na Grécia, estava do lado da austeridade. Daí que até tenha notado
alguma diferença entre o discurso que o Sr. Deputado aqui fez e o discurso que o líder do Partido Socialista
fez a propósito das eleições gregas,…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — É verdade! Bem sublinhado!
O Sr. António Filipe (PCP): — … em que pareceu até saudar muito positivamente a perspetiva de
mudança aberta ou, pelo menos, prometida, por parte do Syriza.
Verifiquei que, de facto, no discurso do Dr. António Costa, até parecia que o PS não conhecia o Pasok de
lado algum, mas, enfim, já verificámos e assumiu-se aqui que, de facto, o Partido Socialista grego foi um dos
partidos que, tendo governado a Grécia nos últimos anos, o conduziu à situação a que chegou e que teve os
resultados eleitorais que são conhecidos. Agora, quando o Sr. Deputado refere que espera que a Grécia seja
conduzida no caminho certo, fico sem saber qual é o caminho certo para o Partido Socialista. É o caminho
seguido até aqui pelo Pasok ou é o caminho prometido pelo Syrisa?! Ficamos sem perceber e é por isso que
também não percebo que o Sr. Deputado se possa referir ao PCP como um partido que tenha posições
ambíguas sobre essa matéria.
Importava também saber, do ponto de vista do Partido Socialista, qual é a atitude que a Europa deve ter,
perante a exigência feita pelo Syriza de negociação da dívida. Sobre isto, o Partido Socialista também não se
pronuncia, aliás, tem uma posição muito ambígua sobre essa questão em Portugal e, relativamente à questão
grega, também não se pronunciou.
Sr. Deputado, relativamente à questão do euro, devo dizer que não fujo a ela. Consideramos que é
extremamente difícil que possa haver, em qualquer país da União Europeia, mas particularmente em países
do sul da Europa — como Portugal e Grécia —, uma política de crescimento económico, que vire
decisivamente a página sobre as políticas de austeridade, se se mantiverem intocados os critérios que têm
presidido à arquitetura do euro, designadamente o tratado orçamental.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. António Filipe (PCP): — É uma questão extremamente complexa. Se me perguntar como é que é
possível conciliar aquilo que o Syriza prometeu aos gregos e o respeito por todas as regras do tratado
orçamental, reconhecemos, Sr. Deputado, que é algo extremamente complexo e, por isso, acompanhamos
com todo o interesse a evolução da situação política e económica na Grécia nos próximos tempos e também a
atitude que as instituições da União Europeia venham a ter relativamente àquelas que são as justas
aspirações do povo grego e pelas quais o Syriza, de facto, prometeu nas urnas, lutar por elas na União
Europeia.
Seguimos com todo o interesse e esperamos que, de facto, da parte do Partido Socialista haja uma
reflexão muito séria sobre o desastre económico e social a que as políticas do Partido Socialista grego
conduziram aquele país.
Aplausos do PCP.
A Sr.a
Presidente: — Srs. Deputados, a Mesa tem prolongado demasiado o sistema de perguntas e
respostas para manter alguma equidade. Não repetiremos esta generosidade nos debates.
A próxima pergunta é de Os Verdes.
Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Filipe, queria saudá-lo pelo
seu aniversário, mas também, e sobretudo, por trazer para discussão um dia que nos mostra que, de facto, há
mais mundo para além da austeridade e que há mais mundo para além dos do costume.